Estudantes participando de um dos projetos do Cemaden Educação. Crédito de imagem: arquivo pessoal/reprodução

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) é um núcleo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, do governo federal, responsável por acompanhar e prevenir possíveis tragédias socioambientais, como inundações e deslizamentos de terra. Uma das iniciativas do órgão é o Programa Cemaden Educação, que há dez anos trabalha com escolas e outras instituições para prevenir desastres a partir do conhecimento.

As escolas podem se inscrever no Programa Cemaden Educação clicando aqui.

Ao se cadastrar gratuitamente, cada colégio se torna um pequeno centro de pesquisa que monitora e produz dados sobre a região em que está inserido. A instituição pode escolher entre diferentes projetos e jornadas para abordar com os estudantes, como A Terra Desliza (sobre deslizamento de terra), Bacia Escola (bacias hidrográficas) e Pluvipet + App: Monitoramento Participativo de Chuvas.

Crédito de imagem: arquivo pessoal/reprodução

Em cada jornada, o educador pode se capacitar para ensinar os estudantes sobre o assunto e construir, na escola e na própria comunidade, ferramentas para que os alunos se tornem pesquisadores. Segundo Rachel Trajber, coordenadora do Cemaden Educação, o programa atua com dois princípios científicos: “A ciência participativa é quando as pessoas participam do conhecimento científico em cada local (…), já a cidadã envolve a troca entre cidadãos e cientistas”, explica.

Os dados coletados pelos próprios estudantes podem ser acessados pelas demais escolas participantes e até mesmo pelas defesas civis — órgãos responsáveis pelas ações preventivas e de socorro à sociedade.

“Essa é a melhor forma de prevenir um desastre, a partir do conhecimento. Todo mundo está monitorando e tem o conhecimento suficiente para entender alertas e contribuir com as suas comunidades”,

completa Rachel.

Monitoramento de chuvas no RS

No começo do ano, seis escolas do Rio Grande do Sul começaram a trabalhar com o projeto Dados à Prova d’Água, do Cemaden, nos municípios de Erechim, Cacique Doble, Passo Fundo, Mariano Moro e Palmitinho. Estas áreas não foram tão impactadas pela tragédia recente quanto, por exemplo, a Região Metropolitana de Porto Alegre, por questões geográficas. No entanto, alguns deles também sofreram alagamentos severos. Há ainda no estado outras escolas que, até a publicação desta matéria, estavam no processo de adesão ao programa.

“No nosso município, a medição dos pluviômetros serviu para alertar os alunos de que as chuvas estavam sendo mais fortes do que o normal. Nas outras medições, percebia-se que o nível dos pluviômetros ia subindo vagarosamente. Dessa vez, os estudantes iam conversando, nos grupos on-line, sobre como era muita chuva (…) e eles foram falando entre eles ‘Ah, é chuva demais’, ‘É muita chuva aqui’, ‘O rio está subindo’…”

Profa. Marieli Fontana Batista, polinizadora da Escola Estadual Básica Mariano Moro, em Mariano Moro (RS).

Sônia Zakrzevski, professora da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), em Erechim (RS), é coordenadora do Coletivo Educador do Alto Uruguai Gaúcho, grupo que trabalha com educação ambiental com a população. Um dos projetos que o coletivo desenvolve é o Fórum de Meio Ambiente da Juventude, no qual jovens de 14 a 29 anos, ao lado de pessoas mais velhas, organizam rodas de conversa com estudantes e pensam em soluções diversificadas para questões ambientais.

“Neste ano, o processo começou em fevereiro. O tema é o enfrentamento a desastres climáticos e qual o papel da juventude nessa questão”,

conta Sônia.

A ideia do fórum é, no primeiro semestre, investigar o assunto e oferecer minicursos a outros jovens, para, em junho, realizar o evento. Depois há o pós-fórum, em que o coletivo de jovens pensa em ações para tentar minimizar alguns impactos. “Quando nos foi apresentado o programa do Cemaden, achamos muito legal, porque ampliava aquilo que já estávamos trabalhando por aqui”, diz a coordenadora.

As seis escolas começaram a estudar sobre o assunto e construir pluviômetros (instrumento que mede índice de chuvas) feitos de garrafa PET. Essas ferramentas são instaladas na escola e na casa dos estudantes, que registram e monitoram o clima por meio de um aplicativo e um painel compartilhado entre todos os participantes.

Pluviômetro artesanal feito pelos estudantes. Crédito de imagem: arquivo pessoal/reprodução
Aluno anotando medidas do pluviômetro. Crédito de imagem: arquivo pessoal/reprodução

Depoimentos de estudantes da Escola Sílvio Dal Moro, em Cacique Doble (RS)

“O trabalho está sendo realizado pela turma 303 (…) com o intuito de monitorar o fluxo de chuva por meio dos pluviômetros que foram confeccionados pelos alunos com garrafas PET. Até agora, foram monitorados os milímetros de chuva ocorridos na nossa região e publicados no aplicativo Dados à Prova d’Água (…).

Ao entender melhor como funciona o monitoramento, as pessoas podem desenvolver a consciência ambiental. Isso permite que a comunidade esteja preparada para desastres ambientais extremos, como tempestades, secas e enchentes, ajudando a reduzir danos materiais e riscos à vida humana.

[Para evitar novas tragédias é imprescindível] desenvolver boa infraestrutura e criar sistemas de alertas de eventos climáticos extremos, para que ocorra a evacuação de pessoas em áreas atingidas.”

Alessandro D., Bruna S., Erik M. e Pamella C.

“Está sendo muito proveitoso o trabalho com o Cemaden! Os professores apresentaram o projeto de forma muito explicativa. Começamos fazendo pesquisas sobre desastres climáticos de diferentes décadas e apresentamos os trabalhos. Em seguida, confeccionamos pluviômetros caseiros e aprendemos a utilizar o aplicativo Dados à Prova d’Água de maneira simples e fácil.

Esse projeto ressalta a importância de avaliar não apenas a quantidade de chuva, como também a distribuição e os impactos específicos das chuvas em diferentes áreas da cidade. A interação direta dos alunos com o projeto faz com que a comunidade sinta vontade de conhecer mais a fundo a iniciativa.

Algumas medidas que podem evitar novas tragédias climáticas incluem: mitigação das mudanças climáticas, planejamento urbano e gestão de riscos, educação e conscientização sobre os riscos, conscientização sobre a poluição dos rios, restrição da construção em locais de risco e separação correta do lixo.”

Maria Cristina e Ingrid.

“Está sendo muito proveitoso e relevante, dado o momento que o estado está passando. Entendemos ainda mais a importância de nos preocupar com tal assunto. Ao longo desse projeto, fizemos vídeos na escola, debatemos em sala de aula sobre consequências e possíveis soluções para desastres, além de confeccionar pluviômetros e realizar comparativos das chuvas no município de Cacique Doble.

Toda a sociedade necessita saber e ter conhecimento sobre como as chuvas podem afetar determinadas regiões para, assim, prevenir grandes prejuízos materiais e imateriais na comunidade. Quanto mais conhecimento os moradores tiverem, melhor será o enfrentamento aos desastres.

[É importante] não construir em locais proibidos pelos órgãos de defesa ambiental; preservar áreas de APP [Área de Preservação Permanente]; evitar poluição; separar corretamente o lixo; ao comprar produtos, preferir sempre de empresas sustentáveis; reduzir o uso de gasolina; investir em infraestruturas sustentáveis; construção de obras de contenção; e, por fim, para evitar perdas humanas, emitir alertas para evacuação e enfatizar áreas de segurança.”

Bianca S. e Eduardo L.

“O projeto está sendo de grande ajuda ao município. Graças a ele, expandimos o nosso conhecimento sobre a área. Por enquanto, tivemos os pluviômetros caseiros e estamos anotando diariamente os milímetros de chuva.

Essas técnicas são importantes porque ajudam a população a conhecer mais sobre os índices pluviométricos dessas regiões, precavendo-se, assim, de enchentes e inundações. [É imprescindível] não degradar o meio ambiente, pois isso impulsiona ainda mais o aquecimento global. Também devemos preservar as matas ciliares, porque ajudam na contenção dos rios.”

João Pedro, Daniel e Caique.

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