Fundado em 2012, o Ballet Paraisópolis é um projeto que oferece a crianças e adolescentes da comunidade de Paraisópolis, em São Paulo (SP), oportunidades para melhores condições de vida. A entidade ensina danças clássicas e contemporâneas, além de ter outros cursos que contribuem para a formação extracurricular dos estudantes. 

Samara A., 10 anos, do Rio de Janeiro (RJ), é apaixonada por balé e conversou com Monica Tarragó, diretora do projeto, para conhecer mais sobre o trabalho. 

Qual o principal objetivo do Ballet Paraisópolis? 
O principal objetivo desde o início é que [os estudantes] tenham mais oportunidades, para além do balé. Então eles também fazem curso de inglês, workshop de audiovisual, fotografia… Além de ter bailarinos e artistas, há pessoas que estão se formando em outras carreiras e trabalham aqui: fazem, por exemplo, fisioterapia e depois voltam e cuidam dos nossos bailarinos. 

#pracegover: Monica Tarragó está parada, com uma das mãos na cintura e a outra segurando um microfone, próximo à boca. Ela usa camiseta preta. Crédito de imagem: arquivo pessoal

E quais são os prêmios que vocês já conquistaram com o projeto?
Nós participamos do Festival de Dança de Joinville — considerado o maior da América Latina — em 2017, 2018, 2019 e 2021 (em 2020 não teve festival, em decorrência da pandemia). Em todos esses anos, ganhamos vários prêmios, mas, especificamente em 2021, nós ganhamos cinco grandes premiações. Isso significa que temos aqui em Paraisópolis os maiores bailarinos da América Latina, porque eles ficaram em primeiro lugar. Outras conquistas foram: um prêmio do estado de São Paulo de honra ao mérito; a participação no programa de aceleração de organizações sociais; e a vitória na oitava edição da competição internacional de balé da Academia de Pequim [China] — nossa participação foi on-line nesse festival. De- pois, fomos reconhecidos como um Ponto de Cultura [entidade apoiada pelo governo para promover ações socioculturais]; temos o selo municipal de direitos humanos e diversidade, um prêmio bem importante; a Medalha Tarsila do Amaral; e, em 2022, fomos indicados ao prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). Mas o maior prêmio é saber que as crianças são felizes aqui. 

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#pracegover: Samara tem cabelo castanho encaracolado e usa camiseta rosa. Ela está sorrindo. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Algo que me deixa muito curiosa: como vocês funcionaram durante a pandemia?
Logo na primeira semana, nós paramos toda a equipe para entender como funcionaria para seguir com os estudos pela plataforma de vídeos Zoom e como faríamos para entregar as mais de 3 mil cestas básicas para as famílias — eram cestas bem diferentes, com materiais, comidas, máscaras e produtos de higiene. Então, determinamos que as 200 famílias deveriam buscar [as cestas] aqui no Ballet Paraisópolis, mas com uma pausa de dez minutos para não formar fila, evitando aglomerações. Nessa cesta mandamos apostilas para os pequenos, com conteúdo de dança, pilates, alongamento, balé contemporâneo, estudo de anatomia e até mesmo nutrição. As apostilas tinham a parte teórica e os exercícios. Para os mais velhos, construímos uma sala emergencial no pavilhão social, e lá eles conseguiam fazer aula com distanciamento entre os bailarinos, porque é uma área aberta bem bonita. 

E quais são os atrativos que vocês oferecem para que a fila de espera por matrícula seja de 2 mil pessoas?
Aqui na comunidade de Paraisópolis tem 200 mil pessoas. Essa fila de espera grande é porque muitos sonham com o balé. Mas tem também gente que quer vir porque, além do balé, há o inglês e outros cursos. O grande atrativo é que todo mundo sabe que nós fazemos com muito amor. As coisas são muito gostosas, nós oferecemos aulas com professores bem formados e que querem muito ensinar. 

É muito bom isso de os bailarinos ensinarem outros bailarinos. O que o projeto significa para a comunidade hoje?
O Ballet Paraisópolis cresceu muito, já está sendo reconhecido internacionalmente, então todos os moradores o amam. Nós conseguimos mostrar para a comunidade que a dança é profissão, porque as pessoas achavam que [os bailarinos] vinham aqui só para se divertir, sabe? Tanto é que hoje nós temos a Companhia Paraisópolis, de bailarinos que ficaram dez anos conosco e hoje são profissionais da dança, eles recebem um valor e se apresentam por todo o Brasil. 

Muitos acham que arte em geral não é profissão, só um passatempo. Temos que dizer que é profissão, sim — e passatempo ao mesmo tempo, porque acho muito divertido. Como é que o Ballet Paraisópolis promove uma educação inclusiva? 
Em todas as salas nós temos pessoas com deficiência (PCD), mesmo que leve. Algumas crianças têm dificuldade no aprendizado, por exemplo, ou na audição, e todas acompanham as aulas normalmente, ficam conosco durante os nove anos. Para quem tem deficiências mais graves, como cadeirantes, temos uma aula específica toda sexta-feira. Eles ficam com um professor que, além de ser mestre em dança, é fisioterapeuta. Mas todo mundo pode dançar. 

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 208 do jornal Joca.

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