A morte da iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, causou protestos no Irã e em outros lugares do mundo nas últimas semanas. A jovem havia sido presa na capital, Teerã, em 13 de setembro, pela polícia da moralidade, criada para garantir que as regras de conduta definidas pelo país sejam seguidas. O órgão alegou que Mahsa havia descumprido o código de vestimenta das mulheres e que, por essa razão, foi levada para um centro de reeducação, onde as pessoas (principalmente mulheres) são ensinadas a seguir as normas determinadas no Irã.

Pessoas participam de protesto no dia 29 de setembro, em frente ao Consulado do Irã, em Istambul, na Turquia, por causa da morte de Mahsa Amini | #pracegover: Manifestante na rua, em Istanbul. Eles vestem roupas de cores diversas, como preto, cinza e branco. Sobre o nariz e a boca, os manifestantes usam máscara cirúrgica para proteção. Nas mãos, cartazes com fotos e escritos. Crédito de imagem: Chris McGrath/Getty Images

Segundo as autoridades locais, a jovem entrou em coma (estado em que a pessoa fica inconsciente) quando estava no centro e morreu em um hospital, em 16 de setembro, em decorrência de um ataque cardíaco. O governo afirma que ela sofria de condições preexistentes (algum tipo de doença). A família, no entanto, declarou à imprensa local que Mahsa não tinha problemas de saúde e poderia ter sofrido violência dentro do centro de reeducação, o que teria levado à morte da jovem.

Como funciona o código de vestimenta no Irã?
O governo iraniano faz uma interpretação rigorosa da Sharia (lei do islã, religião criada por Maomé). Por isso, as mulheres, por exemplo, devem seguir determinado código de vestimenta.

Entretanto, de acordo com Francirosy Barbosa, antropóloga muçulmana e docente da Universidade de São Paulo (USP), as regras impostas pelas autoridades iranianas, como cobrir a cabeça com o hijab, não estabelecem se uma pessoa é devota ao islã ou não. “Não é o uso ou não do hijab que define a religiosidade da pessoa”, diz. Francirosy ainda explica que a Sharia não apoia o tipo de repressão adotado pelas autoridades iranianas: “Não existe isso de ser preso ou assassinado [se não cobrir a cabeça, por exemplo]”.

As manifestações
Desde a morte de Mahsa, protestos ocorrem na maioria das 31 províncias do Irã. Manifestantes foram às ruas contra a rigidez da polícia da moralidade e contestaram a obrigatoriedade de cobrir a cabeça. Segundo a antropóloga Francirosy, essa insatisfação não é recente. “A morte de Mahsa Amini, por ser uma situação aparentemente suspeita, fez com que esses movimentos se destacassem com força”, explica. “Mas já havia discussões sobre o enrijecimento da polícia da moralidade nos últimos meses e movimentos de iranianas insatisfeitas com a obrigatoriedade do uso da vestimenta islâmica e outros direitos que, segundo elas, são negados.”

De acordo com a Iran Human Rights, organização voltada aos direitos humanos no país, ao menos 83 pessoas morreram nos protestos em consequência de atos de repressão das autoridades. Segundo o Comitê Para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), centenas foram presas.

Por outro lado, também ocorreu um movimento em apoio à polícia da moralidade e às autoridades. Manifestantes foram às ruas para combater as “quebras de normas” definidas pelo governo local. O protesto teve o apoio das forças de segurança iranianas.

Fontes: Al Jazeera, CNN Brasil, Folha de S.Paulo, Estadão,
G1, Iran Human Rights e UOL.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 195 do jornal Joca.

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