tensão ucrânia 182
Militar ucraniano se mantém em posição próximo da vila de Svitlodarsk, na região de Donetsk/#pracegover: foto de dois militares ucranianos dentro de trincheira. Crédito de imagem: Manu Brabo/Getty Images

Entrevistamos o Cesar Albuquerque, doutorando em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia (LEA-USP), para uma reportagem especial sobre os seis meses da guerra da Ucrânia. A entrevista foi publicada na edição 193 do Joca, que você pode ler clicando aqui. Para entender alguns pontos, talvez seja necessário ler as reportagens que publicamos explicando o contexto da guerra na edição 183 do Joca. Faça isso clicando aqui.

Qual é o saldo da guerra até o momento?

Até o momento, o conflito parece ter avançado mais no sentido de aprofundar os motivos que o justificaram inicialmente do que na resolução. Ucranianos, assim como cidadãos de outros países do antigo bloco soviético, parecem cada vez mais favoráveis à aproximação com o ocidente como forma de garantir sua segurança e autonomia.

As hostilidades entre os russos e as potências ocidentais também aumentou, resultando não apenas em sanções econômicas, como em ameaças políticas e militares parecidas com as do período da Guerra Fria. Finalmente, a guerra também acentuou a crise econômica global ao contribuir para o crescimento da inflação em todo o mundo, afetando sobretudo a oferta de alimentos e, portanto, prejudicando especialmente a população mais pobre.

Como os dois países mudaram desde o começo do conflito?

Por um lado, a Ucrânia viu parte do seu território, especialmente a leste e a sul, ser dominada pelas forças militares russas, ao mesmo tempo que sua economia sofreu um duro golpe.

Por outro, o presidente Volodymyr Zelensky parece ter conseguido ampliar seu apoio político tanto dentro como fora do país; as forças militares ucranianas, apesar de perdas, têm conseguido frear o avanço mais intenso das tropas russas, especialmente na investida contra a capital, Kiev; e, finalmente, os ucranianos têm conseguido obter algum apoio dos aliados ocidentais, que se reflete tanto no envio de armas como no avanço das negociações de ingresso do país na União Europeia.

Já no lado russo, Vladimir Putin parece ter conseguido assegurar a autonomia das regiões separatistas e conquistar importantes posições no território ucraniano, especialmente na costa sul do país.

A economia russa também tem sido bastante prejudicada, especialmente pelas sanções econômicas aplicadas (como chamamos quando um país deixa de fazer negócios com outro), ao mesmo tempo que a imagem da Rússia se deteriorou consideravelmente perante a comunidade internacional, resultando no crescimento de um sentimento “antirrusso” que extrapolou a esfera da política e alcançou até mesmo a dimensão cultural.

Por fim, há de se destacar também a dificuldade enfrentada pelas forças militares russas em avançar na conquista de territórios, apesar de o exército ser maior, o que colocou em xeque sua própria capacidade bélica e de organização do sistema de defesa.

A guerra, neste momento, está próxima de acabar ou ainda é algo que vai se desenrolar por mais tempo?

Como historiador, considero difícil fazer uma previsão em relação à duração do conflito. No entanto, dada a dinâmica de evolução lenta que vem se consolidando após seis meses do início da guerra e a ausência de avanços nas negociações entre as partes, acredito que ainda pode se estender por um longo período, sem grandes alterações no cenário atual.

Como as pessoas se lembrarão dessa guerra no futuro?

É difícil avaliar ou prever como nos lembraremos do conflito antes que ele se encerre. Para boa parte dos países do antigo bloco soviético, incluindo a Ucrânia, a situação parece aproximá-los cada vez mais dos parceiros ocidentais como garantia de manutenção de sua autonomia e segurança.

De todo modo, os extensos custos econômicos, políticos e humanitários do conflito – assim como demonstraram outros episódios de intervenção militar nas últimas duas décadas – podem contribuir para a compreensão da comunidade internacional acerca da necessidade de superação da guerra como instrumento de resolução de disputas de interesse e reforçar as discussões em prol de um novo modelo de governança e segurança global, pautado pelo diálogo político e a busca de soluções negociadas.

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