Pedro Oliveira

No fim de agosto, a administradora do Canal do Panamá informou que vai manter por ao menos mais dez meses as restrições, iniciadas no começo de 2023, ao tráfego diário dos navios que usam o local. Esse é um canal artificial que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico, por onde passa 6% do comércio marítimo mundial.

O anúncio gerou preocupação, principalmente tendo em vista as compras de Natal, que aumentam o fluxo de navios no canal, o que pode gerar problemas no abastecimento de produtos.

Em entrevista ao Joca, Jean-David Caprace, professor e coordenador do programa de pós-graduação em engenharia oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explicou que o Brasil não está entre os mais afetados pelas restrições, apesar de poder haver alguns atrasos em entregas. “O efeito será mais no comércio internacional entre Estados Unidos, Europa e Ásia, que estão ao longo das rotas marítimas principais. O Brasil, normalmente, não depende muito do trânsito de mercado pelo canal”, disse. 

O que está acontecendo?
Apesar de o meio do ano ser um período chuvoso no Panamá, o país vive uma temporada seca e de muito calor em 2023, o que fez o nível da água no canal baixar, prejudicando o tráfego das embarcações. 

Para cada navio atravessar o Canal do Panamá é necessário utilizar cerca de 190 milhões de litros da água dos lagos próximos a ele. Nesta época do ano, era esperado que o nível dos lagos estivesse alto, o que não está ocorrendo.

Para especialistas, a condição é causada pelas mudanças climáticas. O impacto do aquecimento global também é sentido em outras rotas fluviais de mercadorias, com o nível da água mais baixo em rios como Reno, na Europa, e o Mississippi, nos Estados Unidos.

Um estudo publicado em 2023 na revista científica Science mostrou que os maiores lagos do mundo estão secando: 22 bilhões de toneladas de suas águas foram perdidas por ano nas últimas três década.

O CANAL DO PANAMÁ
INAUGURADO EM 1914, É UMA VIA AQUÁTICA ARTIFICIAL

• Passam por ele 14 mil navios por ano.

• Estende-se por 82 quilômetros (km) no Panamá, país da América Central.

• Encurta viagens entre os oceanos Pacífico e Atlântico. Sem o Canal do Panamá, as embarcações teriam que seguir até o sul da América do Sul para passar entre o Atlântico e o Pacífico

• Tempo de viagem no canal: entre 8h e 10h (sem considerar a espera para autorização da travessia).

• As embarcações pagam uma taxa para usá-lo.

 Como funciona? 
O Canal do Panamá possui um sistema de eclusas: tipo de “elevador” para que embarcações subam ou desçam mares e rios em locais onde há grandes desníveis de terreno. Confira:

1. A embarcação está em nível mais baixo e precisa chegar ao mais alto.
2. A barreira para a passagem se abre.
3. Usando a água de lagos vizinhos, o nível aumenta.
4. Quando o mesmo nível de água é atingido, a segunda porta se abre, e a embarcação segue viagem.

Fontes: Agência Brasil, Al Jazeera, Brasil Escola, CNN Brasil, Encyclopedia Britannica e Veja.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 211 do jornal Joca.

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