Estado publicou um decreto de alerta para todo o território, em 23 de fevereiro. Confira algumas das causas da tragédia
Por Vinicius Marques
Nas últimas semanas, o Acre tem enfrentado alagamentos severos. Em 23 de fevereiro, o estado publicou um decreto de alerta para todo o território. Até o fechamento desta edição, dos 22 municípios acrianos, apenas Bujari, Acrelândia e Senador Guiomard não haviam declarado situação de emergência, que permite que o governo utilize recursos financeiros complementares para conter danos e ajudar vítimas.
As enchentes são causadas, sobretudo, pelo transbordamento incomum de rios e igarapés (cursos de água conectados a um principal). Em entrevista ao Joca, o meteorologista Sidney Abreu, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), disse que o período chuvoso da região (entre novembro e abril) apresentou média dentro da normalidade. “O caso da enchente do rio Acre neste ano está relacionado aos acumulados de chuvas nas nascentes, na região dos Andes. Por consequência, o efeito é sentido na bacia do rio Acre”, explica ele.
Segundo Waldemir Lima dos Santos, especialista em hidrogeomorfologia (estudo da interação entre água e relevos) da Amazônia e professor da Universidade Federal do Acre, uma das possíveis razões para a irregularidade das chuvas é o El Niño. “Este ano, as chuvas atrasaram devido a esse mecanismo (…), de modo que vieram a se concentrar agora no fi m de fevereiro”, diz. “Mas não foi só uma questão da ocorrência de chuva, até porque elas estão ocorrendo dentro da normalidade.”
Para Waldemir, outro fator que contribuiu foi o desmate irregular de florestas, substituídas indevidamente por áreas de pastagem ou agricultura. “Quando a água cai na superfície [de áreas que deveriam ter permanecido florestais], a tendência é de que não haja um processo de infiltração eficiente da chuva no solo. Ela, então, chega mais rápido aos cursos de água, promovendo picos repentinos de cheias.” Segundo o professor, a água da chuva acaba carregando consigo materiais como argila e outros sedimentos para dentro do rio, promovendo seu assoreamento.
Para o especialista em hidrogeomorfologia Waldemir dos Santos, a melhora do cenário depende de diferentes medidas. É preciso que os governos municipais fiscalizem com eficácia o território acriano, impedindo que zonas florestais sejam derrubadas ilegalmente. O Estado deve garantir que a população não construa moradias em áreas com maiores riscos de alagamento. De acordo com o estudioso, as mudanças climáticas também intensificam tragédias como essas, por isso é importante a aplicação de políticas para reduzir a emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEEs).
Por meio da campanha Juntos Pelo Acre, o governo estadual está arrecadando fundos para a doação de cestas básicas, água mineral, kits de limpeza e itens de higiene para as pessoas afetadas. Além disso, segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre (CBMAC), foram abertos 110 abrigos para desabrigados das 14 cidades em estado mais crítico. O total de pessoas atingidas, entre desabrigadas e desalojadas (que precisam sair de casa, mas ficam com amigos ou parentes), passa de 120 mil.
1° – 18,40 METROS | 4 DE MARÇO DE 2015
2° – 17,85 METROS | 5 DE MARÇO DE 2024
3° – 17,78 METROS | 4 DE MARÇO DE 2024
4° – 17,72 METROS | 3 DE ABRIL DE 2023
5° – 17,66 METROS | 14 DE MARÇO DE 1997 5
6° – 17,60 METROS | 25 DE FEVEREIRO DE 2012
7° – 17,11 METROS | 17 DE FEVEREIRO DE 1988
8° – 17,01 METROS | 12 DE MARÇO DE 2014
9° – 16,90 METROS | 26 DE DEZEMBRO DE 1978
10° – 16,86 METROS | 4 DE ABRIL DE 1974
ASSOREAMENTO: acúmulo de sedimentos, lixo e outros materiais em corpos de água. É um processo natural que pode ser intensificado pela ação humana, colaborando para a formação de enchentes.
EL NIÑO: fenômeno natural que aquece o Oceano Pacífico, podendo provocar furacões e tempestades. No Brasil, afeta o regime de chuvas.
GASES DE EFEITO ESTUFA (GEES): gases poluentes, como o dióxido de carbono (CO2). Ao ser liberados (por meios de transporte ou indústrias, por exemplo), eles sobem para a atmosfera terrestre e ficam “presos” ali, acumulando-se em uma espécie de camada. Essa camada impede o calor de sair da Terra e, ao ser intensificada pela ação humana, leva ao aquecimento global.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 219 do jornal Joca.
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