Nos últimos anos, com o avanço da internet e, sobretudo, das redes sociais, a propagação de informações falsas aumentou, afetando diversas áreas da sociedade, como política, saúde, ciência e economia. Há vários modos de combater a desinformação, e uma delas é o trabalho feito pelas agências de checagem.

Para entender melhor sobre o assunto, a repórter mirim Clara A., 12 anos, do Clube do Joca, conversou com Chico Marés, coordenador de jornalismo da Agência Lupa, que trabalha com a verificação de conteúdos on-line.

#pracegover: Chico Mares está encostado em uma parede, que tem vários quadros pregados. Ele está com os braços cruzados, sorrindo. Chico veste uma camiseta cor-de-rosa, com uma estampa também cor-de-rosa, mas num tom mais claro. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Como vocês diferenciam informações falsas de verdadeiras?
A informação falsa pode vir das mais variadas maneiras — um vídeo que está circulando na internet fora de contexto, uma imagem, uma reportagem falsa, ou então uma informação verdadeira com título falso. Primeiro, há o monitoramento: a gente tem umas ferramentas digitais que são muito boas para monitorar os conteúdos que circulam nas plataformas da empresa Meta (Facebook e Instagram). Há também o TweetDeck, para o Twitter, e uma espécie de “Disque-Lupa” para o WhatsApp, em que recebemos denúncias de informações falsas por esse aplicativo.

A gente olha essas ferramentas todas as manhãs, e aí começamos a ver quais assuntos estão viralizando mais. É muito mais importante você verificar uma coisa que tem alta circulação do que algo que tem baixo potencial de dano. Às vezes, uma notícia falsa não provoca muito dano, ou às vezes tem algo que pode ser de alta relevância, mas está sendo discutido por pouquíssimas pessoas.

Daí nossos repórteres vão analisar se aquele conteúdo é verificável (por exemplo: opiniões e previsões para o futuro não são verificáveis). Digamos que estamos verificando um vídeo, então observamos se ele é recente, se foi editado, se é possível encontrar a versão original desse vídeo etc.

A partir do momento que o repórter consegue material sufi ciente para provar que aquele conteúdo é verdadeiro ou falso, ele faz um texto, indicando ao longo da matéria os links e tudo que prova a veracidade ou não do conteúdo. Em seguida, o editor vai analisar, fazer uma edição para deixar o texto mais legível e padronizado e avaliar se o que o repórter recolheu é sufi ciente para provar que aquele conteúdo é verdadeiro ou falso. Por fim, a gente publica no site tudo que consegue comprovar. Às vezes, começamos a fazer uma apuração e não conseguimos chegar a uma conclusão, e isso é muito comum de acontecer no dia a dia do jornalismo.

E quanto tempo leva para fazer a checagem?
Depende muito, mas, em média, cada repórter leva um dia para verificar um conteúdo. Alguns são mais fáceis de checar, outros são mais difíceis. Por exemplo, quando é uma foto distorcida, é mais rápido. Por outro lado, podem aparecer vídeos com dez minutos de duração carregados de teorias da conspiração [formas de explicar acontecimentos com suposições duvidosas e não comprovadas], que podem levar até uma semana para ser completamente verificados. Conseguimos dar conta das informações que são mais virais, mas não conseguimos, como checadores, ter o mesmo grau de agilidade dos disseminadores de desinformação, porque eles têm uma vantagem muito grande sobre nós em relação à velocidade e capacidade de produção.

É fundamental dizer que a checagem que a gente faz é muito importante, mas não é a única solução para todo esse problema. A educação midiática é essencial para que as pessoas aprendam a navegar na internet com senso crítico. Também é indispensável ter uma legislação [conjunto de leis] que permita um combate mais efetivo.

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#pracegover: a repórter mirim Clara A., usa camiseta verde e sorri. Ao fundo, uma penteadeira com espelho. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Qual a formação necessária para conseguir trabalhar com checagem?
A maioria das pessoas tem formação em jornalismo mesmo, toda a nossa equipe é de jornalistas. É muito difícil você conseguir um trabalho jornalístico sem ter feito o curso, mas eu acho que, para trabalhar com checagem, você não precisa necessariamente ser jornalista.

Até onde eu lembro, um jornalista já precisa fazer esse trabalho de checagem no dia a dia, né?
Isso, e muito do conhecimento vem na prática mesmo. Quanto mais você trabalha como checador, mais atento você vai ficando. Há vários elementos em um conteúdo falso que dificilmente um mero leitor percebe, mas, se você faz checagem, já começa a identificá-los mais facilmente.

E você gosta de fazer esse trabalho? Gosto, inclusive agora eu estou como coordenador da redação, então eu não faço tanto desse trabalho especificamente, estou mais gerenciando a equipe, e fico morrendo de saudade de botar a mão na massa.

Texto originalmente publicado na edição 199 do jornal Joca.

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