Uma entrevista com Leonardo de Rago Nery Alves, idealizador do projeto InformaCão
Desde 2016, o Centro Universitário Newton Paiva, faculdade de Belo Horizonte (MG), desenvolve o projeto InformaCão, iniciativa para atender animais de tutores que façam parte da população de baixa renda. A ação oferece, gratuitamente, consultas veterinárias e confecção de cadeiras de rodas para bichos com deficiência.
Além disso, fornece o serviço de terapia assistida com animais para humanos, que envolve o contato com os bichos para auxiliar pessoas que estão, por exemplo, passando por algum tratamento médico.
Para saber mais sobre o InformaCão, Sara B., 12 anos, entrevistou Leonardo de Rago Nery Alves, professor de veterinária do Newton Paiva e idealizador do projeto.
Como funciona o projeto InformaCão?
Nós temos três frentes de trabalho. Uma é para o atendimento de animais de população financeiramente carente, com consultas. Outra é relacionada à produção de cadeiras de rodas para bichos deficientes. A terceira é para terapia assistida com animais, realizada em instituições de acolhimento ao idoso e acolhimento a crianças e com pacientes neurodiversos [palavra que se refere a variações naturais do cérebro humano em questões como atenção, aprendizado e socialização. Alguns dos pacientes neurodiversos são os que apresentam Transtorno do Déficit de Atenção Com Hiperatividade e Transtorno do Espectro Autista].
O que as pessoas precisam fazer para agendar consultas para seus animais?
Sendo alguém de baixa renda, a gente consegue fazer o agendamento na clínica da faculdade (Centro Universitário Newton Paiva). As pessoas podem ligar e agendar. Atualmente, o projeto atende quase exclusivamente a comunidade do Morro das Pedras, que fica em Belo Horizonte, perto da faculdade. Os tutores entram em contato com os líderes comunitários de lá, e eles nos informam quem são os tutores e quais animais serão atendidos. Na terapia assistida, a gente também atua com a população de baixa renda, incluindo habitantes do Morro das Pedras. Eles também fazem parte de outros projetos da faculdade. Geralmente, são pacientes de fisioterapia, odontologia, psicologia. A terapia assistida acaba sendo um complemento para essas outras atividades.
Como é feita uma cadeira de rodas para um animal deficiente?
A primeira etapa é a gente medir o animal, que passa por uma consulta clínica. Nessa consulta é constatado o tipo de problema que ele tem, qual é a deficiência de movimento, para saber se o animal realmente precisa de cadeira de rodas e, se sim, que tipo de cadeira será necessária. A gente mede cada pedacinho do corpo do paciente com uma fita métrica e produz a cadeira individualizada para ele. O item é feito com tubo de PVC [policloreto de vinila, material leve e resistente], rodinha de carrinho de feira e outros materiais de construção. Assim, a cadeira fica extremamente barata. Uma cadeira de rodas que custaria em torno de 500 reais é produzida por cerca de 80 reais.
Como funciona a proposta de saúde integrada, em que os cidadãos acolhidos em outras instituições realizam o processo de terapia com os animais?
Aceitamos qualquer tipo de instituição. Vamos supor que exista algum hospital, aqui de Belo Horizonte, que atende crianças. Caso esse hospital deseje fazer o trabalho de terapia assistida, é só entrar em contato com a faculdade que iremos agendar uma data para ir até lá e realizar a atividade. Atualmente, a ação tem atendido pessoas que são assistidas pelos outros projetos da faculdade, mas já fizemos visitas específicas a instituições como São Rafael (deficientes visuais) e Raul Soares (pacientes neurodiversos), além de escolas e entidades de acolhimento a pessoas idosas. É interessante que a gente tenha a atividade de terapia em vários locais, podendo levar nossos alunos e ensinando como realizar a terapia. Podemos fazer com qualquer instituição que acolha crianças, idosos, pacientes neurodiversos… É só entrar em contato com a faculdade para agendar.
Que interessante o trabalho de vocês!
Sim! De 2016 para cá, a gente já deve ter atendido mais de 500 animais e, ao todo, mais de cem alunos participaram do projeto. É muita gente, sabe? Acabamos indo a vários locais diferentes, e isso é muito legal, muito bom mesmo. A única exigência para ser atendido pelo projeto é que sejam pessoas de baixa renda, que tenham dificuldades financeiras. Por ser um projeto de extensão [da faculdade], só podemos atender gratuitamente comunidades de baixa renda.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 209 do jornal Joca.
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