As atividades humanas exploratórias, como pesca ilegal e poluição de oceanos, têm colocado as tartarugas marinhas sob risco de extinção em várias partes do mundo. Cuidar desses animais e preservá-los é o objetivo do Projeto Tamar, criado em 1980. Por meio de ações de pesquisa e conscientização, o Tamar atua em diversas regiões do litoral brasileiro.

Uma das atividades do projeto é o monitoramento da abertura de ninhos das tartarugas, garantindo que a espécie se reproduza e os filhotes sobrevivam. Para entender melhor como tudo isso funciona, Marcela P., 11 anos, participante do Clube do Joca, entrevistou Afonso Nascimento, biólogo que atua no Tamar em Fernando de Noronha. Confira. 

Afonso Nascimento atua na preservação de tartarugas no Tamar de Fernando de Noronha | #pracegover: homem, vestindo camiseta e bermuda preta, está ajoelhado na areia da praia, embaixo de um guarda-sol. Ao lado dele, há maletas com produtos e objetos. Com as duas mãos, ele segura uma tartaruga. Ao fundo, há pessoas sentadas o observando em ação. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Qual é o papel e a importância das tartarugas marinhas na natureza?
As tartarugas desempenham um papel ecológico e biológico extremamente significativo na cadeia alimentar e no ecossistema. Do ovo até a fase adulta, ela tem um predador, um animal que [pode ser alimentar da tartaruga] depende dela para sobreviver. Adulta, ela também é um predador. A importância de uma tartaruga dentro desse ecossistema é dar continuidade e equilibrar uma cadeia trófica [ou cadeia alimentar]. [Do ponto de vista ecológico,] ela também é essencial. A tartaruga sai da água para botar os ovos na areia. Os ovos que não são eclodidos ou filhotes que morrem viram matéria orgânica. A decomposição dessa matéria é fundamental para o enriquecimento do ambiente, e isso ajuda na vegetação. 

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#pracegover: Marcela, repórter mirim desta entrevista, usa blusa de frio cinza. Ela tem cabelos compridos e sorri levemente. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Onde o projeto Tamar atua? 
A gente monitora mais de 1.100 quilômetros de praias ao longo do litoral brasileiro. Temos alguns pontos com centros de visitantes e áreas de pesquisa e estamos em mais de 23 localidades, como Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, na Região Sudeste e Florianópolis. 

Quantas tartarugas em média vocês ajudam/ resgatam?
Aqui em Fernando de Noronha já foram mais de 7 mil tartarugas capturadas e recapturadas [para acompanhamento]. Realizamos a captura intencional, uma captura científica em que mergulhamos nas áreas de alimentação, capturamos a tartaruga, levamos para a beira da praia para realizar marcação, pesagem, biometria, todo o manejo necessário. Então, conseguimos acompanhar a população aqui em Noronha. Colocamos uma marcação metálica, uma espécie de identidade para a tartaruga, e vamos monitorando. 

Como é feita a abertura dos ninhos? 
Nós não planejamos a abertura, dependemos do nascimento natural. As fêmeas sobem à praia e colocam os ovos lá. Nossa equipe, durante períodos reprodutivos, aumenta o esforço e está diariamente na praia procurando as desovas para protegê-las. A fêmea sobe à noite e bota os ovos, em torno de 120 em cada ninho. A gente marca, coleta os dados necessários e, no outro dia de manhã, coloca uma estaca numerada para sinalizar. Vamos acompanhando até o nascimento. O ninho demora em torno de 40 a 65 dias para eclodir. Como ele tem profundidade de 50 centímetros mais ou menos, os filhotes rompem a casca do ovo e sobem até a superfície, o que demora três dias. A maioria já vai direto para o mar. No outro dia de manhã, nossa equipe vê que o ninho eclodiu pelos rastros que os filhotes deixam na areia. Nesse momento, nós abrimos o ninho para fazer uma contagem biológica: quantos nasceram, quantos ovos não eclodiram, quantos morreram etc. Sempre tem os fraquinhos, aqueles filhotes que não conseguiram subir sozinhos. Na hora da abertura, a gente tira esses filhotes e convida as pessoas a assistir à caminhada deles até o mar. 

Como funciona a interação do público com a abertura dos ninhos?
A gente não deixa ninguém tocar. Até mesmo nós, que somos pesquisadores, tentamos tocar o mínimo possível. Com as crianças que querem conhecer as tartarugas, que nunca viram uma, é essencial ensinar. As crianças precisam aprender a conservar e proteger, como você, que está perguntando sobre as tartarugas. Se a gente não problematizar a questão da preservação do meio ambiente e dos animais, a importância do animal nesse ambiente, quem vai proteger as tartarugas lá no futuro? É fundamental que as crianças participem, acompanhem, saibam da importância das tartarugas marinhas. 

Quantas tartarugas foram para o Tamar em consequência da poluição dos mares?
A gente sabe que, hoje, uma das principais ameaças contra as tartarugas marinhas é a poluição dos oceanos. Elas não conseguem diferenciar o lixo de alimentos no mar. Se está na água e ela estiver com fome, vai comer. De cada dez tartarugas que chegam mortas ao nosso centro, cerca de nove tiveram alguma interação com o lixo nos oceanos. 

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 205 do jornal Joca.

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