Entre os testes disponíveis para detectar covid-19, um deles usa uma amostra de saliva em vez da secreção coletada no nariz com um tipo de cotonete (caso do teste RT-PCR). A doutora Milene Menezes, coordenadora de laboratório, e a jovem Sofia Etlin, aluna na Cornell University, nos Estados Unidos, e estagiária de pesquisa e desenvolvimento no laboratório Mendelics, fizeram parte da equipe que trabalhou na elaboração de um desses testes com saliva, chamados RT-Lamp.

Para saber mais sobre o assunto, os alunos do 5º ano da Peak School, unidade fundamental do Colégio Itatiaia, em São Paulo (SP), fizeram uma entrevista coletiva com Milene e Sofia. Eles perguntaram sobre os cuidados necessários para lidar com o vírus, a sensação de trabalhar com algo tão importante e muito mais.

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#pracegover: foto da doutora Milene Menezes, que sorri e veste uma blusa preta. Crédito de imagem: ARQUIVO PESSOAL

Como vocês descobriram essa maneira de fazer os testes? Como conseguiram progredir de modo tão rápido?
Milene: O protocolo que utilizamos para fazer o teste já é bem estabelecido na literatura [ou seja, já existia e era usado por outros cientistas], então adaptamos para a detecção do vírus da covid-19. Conseguimos progredir rápido porque o nosso teste é realizado com saliva, e não com swab nasal [nome do cotonete usado no RT-PCR], e o resultado sai em até 24 horas.

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#pracegover: foto da jovem Sofia Etlin, que veste blusa azul e óculos de grau. Crédito de imagem: ARQUIVO PESSOAL

Como os testes foram aperfeiçoados?
Sofia: O RT-Lamp foi testado em muitas amostras clínicas, de pacientes negativos e positivos [para covid-19], para ver quanto ele acertava o resultado.

Como vocês sabem que um teste é realmente seguro e preciso?
Sofia: O tipo de teste que nós fazemos, RT-Lamp, já foi muito estudado e tem uma sensibilidade parecida com a do RT-PCR [o método mais conhecido], que é o normalmente executado. Utilizamos esse teste porque ele pode ser feito com equipamentos menores e que requerem menos energia do que o RT-PCR, sendo mais barato e fácil para operar em volume.

Qual foi o maior desafio encontrado para desenvolver o teste?
Milene: Em virtude da pandemia, o nosso maior problema foi conseguir reagentes [substâncias que, no teste, reagem à presença do vírus], pois eles estavam esgotados no mercado.

Quais são os cuidados que vocês tomam trabalhando com uma doença muito contagiosa? Vocês se sentem confortáveis? Como funciona o descarte dos materiais usados nos testes?
Sofia: A doutora Milene escreveu vários protocolos [ou seja, formas de agir que devem ser seguidas] detalhados sobre a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Isso inclui o uso de máscaras, aventais, toquinhas e pro-pés [proteção nos pés], que todos nós utilizamos o tempo todo. Com esses protocolos, eu me sentia muito confortável e segura.
Milene: Todos os materiais usados para realizar os testes, bem como as amostras, são descartados de acordo com as diretrizes locais de segurança. Esses materiais são colocados em sacos brancos para infectantes e coletados pela empresa Loga (Logística Ambiental de São Paulo). Depois, são incinerados.

Como a sua vida escolar influenciou na sua escolha profissional?
Milene: Eu sempre gostei de ciências e biologia. Assim que terminei o ensino médio, sabia que queria ser bióloga. Logo que me formei, comecei a trabalhar em laboratório.

Como vocês se sentem fazendo parte de algo tão grande? De que maneira sentem que fazem diferença por meio do trabalho?
Sofia: A covid-19 é uma doença brutal. Sem o diagnóstico, seria impossível controlar a propagação do vírus como a controlamos hoje, pois as pessoas poderiam ainda não ter como saber que estavam com a doença e sair de casa, entrando em contato com quem não está doente. “Sortuda” e “inspirada” são palavras que mal descrevem como eu me sinto fazendo algo no meu dia a dia que pode afetar positivamente a vida dos outros e até salvar vidas. Eu estava só aprendendo, mas quero dedicar minha vida a isso.
Milene: O que mais me encanta é poder ajudar as pessoas, principalmente neste período de pandemia. Sei que o trabalho que fazemos aqui é de extrema importância.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 189 do jornal Joca.

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