Últimos momentos
A rainha Elizabeth II morreu, em 8 de setembro, no Castelo de Balmoral, residência da família real na Escócia, onde costumava passar alguns períodos desta época do ano, quando é verão na Europa. Ela foi a monarca que ocupou o trono britânico por mais tempo e chegou a comemorar seu jubileu de platina (70 anos no cargo), em uma série de eventos de fevereiro a junho. Até o fechamento desta edição, a causa da morte não havia sido divulgada.

O que se sabe é que a rainha vinha enfrentando problemas de saúde. Em fevereiro, quando foi infectada pela covid-19, um comunicado oficial afirmou que ela teve sintomas leves de resfriado. Desde então, Elizabeth II passou a se ausentar em alguns eventos. Em abril, ela afirmou que o vírus a deixara “muito cansada e exausta”.

Em 10 de maio, o então príncipe Charles a substituiu no “discurso do trono”, cerimônia anual realizada durante a abertura do parlamento do Reino Unido. Representantes da monarquia explicaram ao público que a rainha estava com dificuldades para se locomover. Mesmo assim, a notícia gerou questionamentos sobre a possibilidade de ela abdicar do trono, já que só tinha faltado ao evento duas vezes, em 1959 e 1963, quando estava grávida dos príncipes Andrew e Edward.

Horas antes de anunciar a morte da monarca, um comunicado foi emitido afirmando que os médicos estavam preocupados com a saúde dela. No mesmo dia, os filhos e netos de Elizabeth foram até a Escócia.

#pracegover: Na imagem aparece a Rainha Elizabeth II em três momentos de sua vida. A esquerda, ela veste um vestido e um chapéu cor-de-rosa durante visita à Nova Zelândia, em 1977. Na imagem mais à frente, Elizabeth II usa um vestido bege, com flores em amarelo e azul, além de uma faixa no centro do corpo também na cor azul, em foto que data de 1953. Na imagem mais atrás, Elizabeth II usa vestido azul, chapéu azul e branco e luvas e bolsa azul marinho, em 2002. Crédito de imagem: HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS/CORBIS VIA GETTY IMAGES, ANTONY JONES / COLABORADOR , PETER DENCH / COLABORADOR E MAX MUMBY/INDIGO_GETTY IMAGES, TIM GRAHAM PHOTO LIBRARY VIA GETTY IMAGES, THE PRINT COLLECTOR/GETTY IMAGES, CHRIS JACKSON – WPA POOL/GETTY IMAGES, DAVID RAMOS/GETTY IMAGES, SUSSEXROYAL

O QUE ACONTECE DEPOIS QUE A RAINHA MORRE?
O Reino Unido tem um plano oficial com tudo o que precisa ser feito assim que um monarca morre. Em 2017, o jornal The Guardian teve acesso ao documento referente à morte da rainha e publicou partes dele. Veja alguns dos detalhes mais relevantes.

• DIA D: nome dado ao dia da morte da rainha, enquanto os seguintes são chamados de D+1, D+2, e assim por diante. Segundo o protocolo, o secretário da rainha deve se comunicar com a primeira- -ministra, Liz Truss, e avisar sobre o falecimento usando o código “London Bridge is down” (“a ponte de Londres caiu”, em português). Depois que a população é informada, as bandeiras em Whitehall (centro administrativo do Reino Unido) são hasteadas a meio-mastro, em sinal de respeito. A primeira-ministra faz um pronunciamento oficial.

• DIA D+1: os trabalhos no Parlamento, em que atuam os políticos britânicos, são suspensos por dez dias. O novo rei faz uma reunião com representantes do governo.

• DIA D+3: o monarca embarca em uma viagem de luto, que começa pela Escócia. Ele participa de uma celebração religiosa na Catedral St. Giles’, em Edimburgo.

• DIA D+6:o corpo da rainha fica no Westminster Hall, em Londres, Inglaterra, para visitação pública. Filas enormes se formam por quem quer se despedir.

• DIA D+10: no dia do funeral, é proclamado luto nacional.

O FUNERAL
A parte final foi realizada em 19 de setembro, na Abadia de Westminster, Londres. Líderes mundiais, como os presidentes Joe Biden, dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, do Brasil, compareceram. Depois, o caixão foi levado para o Castelo de Windsor, para uma cerimônia na Capela de São Jorge. A rainha foi enterrada em uma capela anexa à principal, onde o pai, George VI, o marido, Philip, a mãe, Elizabeth, e a irmã Margaret estão.

No dia 16 de setembro, a fila para ver o caixão da rainha, em Londres, capital inglesa, atingiu 8 quilômetros e foi fechada temporariamente | #pracegover: Multidão de pessoas aguarda em ambiente aberto e cercado por árvores para ver o caixão com o corpo da rainha Elizabeth II. Crédito de imagem: David Ramos/Getty Images

O NOVO REI
O príncipe Charles se tornou rei Charles III imediatamente após a morte da rainha. Em uma cerimônia, ele foi proclamado soberano do trono britânico. “Ao assumir essas responsabilidades, eu me esforçarei para seguir o exemplo inspirador que me foi dado ao defender o governo constitucional e buscar a paz, a harmonia e a prosperidade (…)”, afirmou em discurso.

A coroação oficial, porém, só deve ocorrer daqui a alguns meses, conforme a tradição. Isso porque a festa requer muita preparação e não é de bom-tom que seja realizada enquanto o país ainda está de luto pela rainha. A esposa de Charles III, Camilla Parker Bowles, tornou-se rainha consorte. O termo “consorte” é dado a quem é casado com o rei ou a rainha, mas não faz parte da linha de sucessão por não ter nascido na família real. A rainha consorte não detém poderes políticos ou militares.


CURIOSIDADES SOBRE ELIZABETH II
• Ela não tinha passaporte. No Reino Unido, o documento é emitido “em nome de Sua Majestade”, ou seja, a rainha emitiria um passaporte para si mesma.

• Elizabeth II visitou o Brasil, ao lado do príncipe Philip, em 1968. Os dois viram Pelé jogar no Maracanã, Rio de Janeiro (RJ). Na ocasião, ela também inaugurou o prédio do Museu de Arte de São Paulo (Masp), localizado na capital paulista.

• A rainha se vestia com cores fortes para se destacar em meio à multidão, sem que fosse perdida de vista.

• Ela fazia aniversário duas vezes: no dia do nascimento, 21 de abril, e em junho (normalmente, no segundo sábado do mês), quando é verão no hemisfério norte. A tradição existe para garantir que a celebração de um monarca ocorra em uma época de clima bom.

• Elizabeth II ingressou nas Forças Armadas do Reino Unido aos 18 anos, no fim da Segunda Guerra Mundial. Na corporação, atuou como motorista e mecânica.

• Uma tradição fez até as abelhas que ficam nos terrenos do Palácio de Buckingham serem informadas da morte da rainha.

• Ao longo da vida, Elizabeth II teve mais de 30 cães da raça corgi. O primeiro foi uma fêmea, que ela ganhou no aniversário de 18 anos.

• Sua criação de cavalos de corrida teve mais de 100 animais, que conquistaram cerca de 1.600 vitórias em disputas.

• Ela tinha mais de 200 unidades de bolsa da marca Launer London.

• De acordo com levantamento do jornal The Washington Post*, 9 em cada 10 humanos vivos nasceram depois de a Rainha Elizabeth II se tornar rainha.

*O jornal The Washington Post fez o cálculo usando dados da página The World Factbook, da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos).

DINHEIRO, SELOS E HINO
Atualmente, todas as moedas e cédulas de dinheiro em circulação no Reino Unido têm o rosto de Elizabeth II estampado. Ainda não se sabe quando os itens vão começar a ser emitidos com o rosto de Charles III. As moedas e cédulas atuais devem circular por bastante tempo, em um processo gradual de substituição.

Os selos de cartas também representam a rainha, com uma silhueta de seu perfil. Eles serão alterados, embora os existentes possam continuar sendo usados. Outra mudança ocorrerá, no hino nacional: a parte em que se diz “God save the queen” (“Deus salve a rainha”) passará a ser “God save the king” (“Deus salve o rei”).


LINHA SUCESSÓRIA DA FAMÍLIA REAL BRITÂNICA
Veja quem pode se tornar rei ou rainha depois de Charles III, e em que ordem

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#pracegover: a imagem traz a árvore genealógica da família real britânica, a partir do casamento entre a rainha Elizabeth II e o príncipe Philip. Pela ordem de sucessão, depois de Charles III, o primeiro a ter o direito de assumir o trono é seu filho mais velho, o príncipe William. Na sequência vem os filhos de William: príncipe George (atualmente com 9 anos. Se George tiver filhos, eles entrarão para a linha de sucessão antes de seus irmãos e de seu tio, Harry), princesa Charlotte e príncipe Louis. Depois, príncipe Harry, irmão de William, e seus filhos: Archie e Lilibet. Arte: jornal Joca

Linha do tempo
Confira momentos marcantes da vida de Elizabeth II e alguns dos fatos que aconteciam no mundo ao longo desse período

21 DE ABRIL DE 1926 Nasce Elizabeth Alexandra Mary, a rainha Elizabeth II.

20 DE JANEIRO DE 1936 Morre George V, então rei e avô de Elizabeth. O duque Edward de Windsor, tio dela, assume o trono como Edward VIII.

10 DE DEZEMBRO DE 1936 Edward VIII abdica para se casar com a norte-americana Wallis Simpson — ela estava se divorciando do segundo marido, o que, na época, gerava conflito na família real. George VI, pai de Elizabeth, assume o poder. Por ser a filha mais velha, ela se torna a próxima na linha de sucessão.

1939 Começa a Segunda Guerra Mundial, que terminaria em 1945.

20 DE NOVEMBRO DE 1947 Elizabeth se casa com Philip Mountbatten.

14 DE NOVEMBRO DE 1948 Nasce Charles, filho de Elizabeth e Philip e o primeiro na linha sucessória ao trono. O casal ainda teria Anne (1950), Andrew (1960) e Edward (1964).

1950 Começa a Guerra da Coreia. Uma trégua entre a Coreia do Norte e a do Sul viria em 1953.

6 DE FEVEREIRO DE 1952 Morre George VI. Elizabeth, que substituía o pai em uma viagem, retorna para assumir como rainha.

2 DE JUNHO DE 1953 É realizada a coroação de Elizabeth II, a primeira a ser televisionada.

#pracegover: Sentada em um trono, Elizabeth II veste um manto dourado e segura um cetro. Ela está cercada de alguns homens que também usam manto. Crédito de imagem: Hulton Archive/Getty Images

1969 O norte-americano Neil Armstrong se torna o primeiro humano a pisar na Lua.

29 DE JULHO DE 1981 O príncipe Charles se casa com Lady Diana Spencer.

21 DE JUNHO DE 1982 Diana tem o primeiro filho, William. Harry, segundo filho do casal, nasceria em 15 de setembro de 1984.

1991 É dissolvida a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), formada por diversas nações, como a Rússia.

31 DE AGOSTO DE 1997 Diana morre em um acidente de carro, na França.

#pracegover: A princesa Diana está na frente de uma casa branca. Ela veste um vestido branco com detalhes em alto-relevo. Crédito de imagem: Antony Jones/UK Press via Getty Images

2001 Em 11 de setembro, acontece o atentado terrorista ao World Trade Center, em Nova York, nos Estados Unidos.

9 DE ABRIL DE 2005 Charles se casa novamente, com a atual esposa, Camilla Parker-Bowles.

2007 É lançado o primeiro iPhone.

29 DE ABRIL DE 2011 O príncipe William se casa com Kate Middleton.

22 DE JULHO DE 2013 William e Kate têm o primeiro filho, George. Eles também se tornariam pais de Charlotte (2015) e Louis (2018).

2020 Em 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declara a disseminação de covid-19 como pandemia.

2020 O Reino Unido deixa de fazer parte da União Europeia, no processo conhecido como Brexit (abreviação de british exit, ou saída britânica, em tradução livre).

9 DE ABRIL DE 2021 O príncipe Philip morre, aos 99 anos.

6 DE FEVEREIRO DE 2022 É celebrado o jubileu de platina (70 anos de reinado) de Elizabeth II. 

Fontes: Agência Brasil, BBC, Exame, Folha de S.Paulo, G1, Istoé Dinheiro, Metrópoles, NPR, O Globo, R7, The Guardian, CNN Brasil, Estadão, CNN Brasil, Estadão e Folha de S.Paulo.


O QUE ESPERAR DE CHARLES III?
Para entender melhor o que pode acontecer daqui em diante, conversamos com Gilberto Rodrigues, professor e coordenador do curso de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC)

Os temas de meio ambiente, de que Charles III já vinha tratando, receberão destaque?
O novo rei assume com um enorme desafio à frente: manter relevante a monarquia para os súditos no Reino Unido, as possessões britânicas (antes conhecidas como colônias) e a chamada Commonwealth. A agenda ambiental [políticas voltadas ao cuidado do meio ambiente], na qual o então príncipe Charles era muito ativo, poderá ganhar mais foco em suas falas e visitas internacionais, lembrando que a monarquia tem uma margem de atuação limitada na política.

Qual é a função do monarca perante o Reino Unido e o governo?
Como chefe de Estado, nas relações internacionais, ele assina acordos e tratados internacionais, mas pode delegar isso a representantes. Na política interna, mantém encontros periódicos com a primeira-ministra (Liz Truss) e comparece uma vez ao ano no Parlamento para o “discurso do trono”. Na vida política cotidiana, Charles III terá pouco a fazer, pois nas monarquias contemporâneas é o Parlamento que governa.

Como o rei influencia no governo dos demais países conectados ao Reino Unido?
Em nações da Commonwealth, o monarca mantém um ou uma representante da monarquia que exerce as funções de chefe de Estado. Porém essas funções não têm nenhum peso político na prática, é mais uma questão cultural e identitária.

O que a soberania da monarquia britânica representa atualmente?
A monarquia e a aristocracia [governo composto por integrantes da nobreza] que a acompanha são resquícios de um tempo em que se acreditava e se defendia que algumas pessoas eram superiores a outras em virtude do sangue (os nobres tinham “sangue azul”). Desde a independência dos Estados Unidos, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789, o princípio da igualdade entre os indivíduos passou a prevalecer na formação dos estados nacionais e se tornou princípio universal, com a Carta das Nações Unidas (ONU), de 1945, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.

Glossário
Commonwealth: associação formada por 54 países, incluindo o Reino Unido. Embora qualquer nação possa integrar o grupo, quase todas já foram governadas pela monarquia britânica. Atualmente, a maioria é independente, mas 14 delas ainda têm o rei britânico como chefe de Estado.

Clique aqui para ler a entrevista completa sobre Charles III.


Correspondentes internacionais

“Está tendo o memorial da rainha, e a mãe de uma amiga esperou lá por umas 12 horas [para ver o caixão]. Ela até tentou levar uma barraca, mas não conseguiu usar porque a fila andava constantemente, porém algumas pessoas acamparam ali. A maioria era mais velha do que as pessoas da nossa geração, porque gosta mais da realeza. Eu não sou fã da família real, porque eles não fizeram nada para merecer todo esse poder, só nasceram nessa família.” Chloe P., 16 anos, de Londres, na Inglaterra

“[Hoje] A fila de pessoas no memorial tinha cinco milhas [8 quilômetros], então acabaram de fechar [em 16 de setembro], porque ficou grande demais. Lembro que, no dia que a rainha morreu, tinham avisado que os médicos estavam preocupados com a saúde dela, e eu nem imaginava que estivesse tão ruim. Fiquei um pouquinho triste, porque ela ficou trabalhando um tempão… Acho impressionante ela ter trabalhado até o fim. No dia do funeral não vamos ter aula, vai estar tudo fechado, acho que vai ter menos ônibus circulando. Acho que a maioria das pessoas não gosta tanto do Charles como da Elizabeth.” Jessica O., 16 anos, de Londres, na Inglaterra


Esta matéria foi originalmente publicada na edição 194 do jornal Joca.

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Comentários (2)

  • 1 ano atrás

    muito bom!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!bom!!!!!

  • Bernardo11

    1 ano atrás

    muito bom!!

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