Um temporal atingiu a região do litoral norte paulista entre 18 e 19 de fevereiro, desabrigando mais de 1.096 habitantes e tirando a vida, até o fechamento desta edição, de 64 pessoas. O município mais afetado foi São Sebastião, que, em 24 horas, acumulou 625,5 milímetros de chuva — quase metade do volume total de chuva que costuma cair na cidade ao longo de um ano (abaixo, veja como as chuvas são medidas). O foco da tragédia foi a Vila Sahy, que teve uma série de desmoronamentos. A seguir, entenda as razões para a intensidade da tempestade e o que pode ser feito para evitar as trágicas consequências dos temporais

Por que choveu tanto?
A chuva desproporcional pode estar associada, entre outros fatores, ao aumento de eventos climáticos extremos no planeta. Nesse cenário, as regiões litorâneas do Sul e Sudeste brasileiro têm grandes chances de sofrer com temporais por fatores como a proximidade do oceano, que esquenta com o aquecimento global, provocando chuvas mais intensas.

A tragédia ocorrida, porém, está ligada a mais questões. Segundo Mônica Viana, arquiteta e urbanista que trabalha há quase 40 anos no litoral paulista, a quantidade de casas destruídas e vias alagadas está associada ao planejamento urbano ineficiente da região, feito décadas atrás.

O litoral norte paulista foi projetado com foco no turismo de verão, que prioriza áreas como hotéis e zonas comerciais. Já os moradores locais, muitos com condições financeiras inferiores às dos turistas, tiveram que se locomover para regiões mais afastadas do mar, onde há mais riscos de desabamentos (como em encostas de morros) e enchentes.

O bairro de Itatinga, na cidade de São Sebastião, em 20 de fevereiro, após desmoronamentos causados pela tempestade na região | #pracegover: diversos homens estão em pé, numa rua, puxando a lama com enxadas. Crédito de imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil

Como evitar que a tragédia aconteça de novo?
Uma das soluções, de acordo com Mônica, é cobrar que os governos municipais, estaduais e federal cumpram com o papel de garantir cidades adequadas a todos os moradores, e não apenas àqueles com mais dinheiro. “Um instrumento importante para isso é a demarcação das Zonas Especiais de Interesse Social, ou seja, áreas destinadas à população pobre”, explicou ela ao Joca.

Além disso, os municípios devem atuar na prevenção de desastres, monitorando os eventos climáticos, mapeando as zonas de risco e melhorando a comunicação com seus habitantes em emergências.

COMO O VOLUME DE CHUVAS É MEDIDO?
A medição do quanto de chuva cai em determinado local é chamada de pluviometria. Nela, os especialistas dividem a área total do lugar a ser calculado em “caixas/cubos”, cuja base mede 1 metro quadrado (m2).

Depois, os profissionais pegam o total de litros de água que caiu durante a chuva e o divide igualmente entre todas as “caixas” de 1 m2. A altura que a água alcança dentro de cada um desses “cubos” é medida, então, em milímetros.

Assim, conforme as imagens abaixo, a chuva em São Sebastião seria capaz de preencher 402.395.000.000 de “caixas” até a altura de 625,5 milímetros.

mapa-chuva-sao-sebastiao
#pracegover: a imagem mostra uma iliustração do mapa de São Sebastião. Dentro mapa está marcada uma pequena área, da qual sai um infográfico demonstrando a chuva na cidade. Este infográfico é composto por um cubo, representando 1 metro quadrado, dentro do qual cai água a partir de uma garrafa. Um texto acompanha: em São Sebastião, choveu o suficiente para atingir 625,5 milímetros de altura dentro de 402.395.000.000 de “caixas” como esta, de 1 m2. Há, ainda, um aviso: imagens ilustrativas, fora da proporção real. Crédito de imagem: jornal Joca

Fontes: Estadão, Folha de S.Paulo, G1, Governo de São Paulo, Nexo, Prefeitura de São Sebastião e UOL.

Texto originalmente publicado na edição 201 do jornal Joca.

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