Por Vinicius Marques

“Uma exposição se realiza no encontro entre sujeito e objeto ou, numa concepção mais abrangente e atual, entre a sociedade e seu patrimônio.” É o que diz o livro Caminhos da Memória: Para Fazer uma Exposição, publicado pelo governo por meio do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Segundo a obra, para criar uma exposição fascinante é necessário ter a certeza do quê, para quem e por que se quer fazê-la. 

Foi isso o que cerca de 50 alunos do 4º ao 9º ano da Emef Rui Bloem, na favela de Santo Elias, em São Paulo (SP), fizeram ao elaborar, em 2023, um museu a céu aberto. Entre março e outubro, os estudantes do projeto, coordenado pela professora Priscila Trentin, retratam a história da arte pintando muros e o chão do pátio externo. A exposição começa com arte rupestre [representações artísticas da pré-história pintadas, geralmente, em paredes e tetos de cavernas], passa por pinturas egípcias e gregas e adentra movimentos artísticos como renascimento, romantismo e modernismo. Há também artistas contemporâneos de dentro e fora do país. 

#pracegover: boi cenográfico, todo colorido, está parado diante de um muro azul em que está escrito “Maranhão”. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Priscila também trabalhou com os alunos a parte teórica de cada período. “No fim, eles acabaram gostando, porque se apegaram muito à história de vida dos pintores escolhidos”, conta ela. Com o trabalho pronto, os estudantes organizaram uma visitação guiada pelo espaço, conduzindo os visitantes entre as pinturas. 

Mateus, 13 anos, pintou A Alma da Rosa (John William Waterhouse), Catorze Girassóis em um Fundo Turquesa e A Noite Estrelada (ambas de Vincent van Gogh). Ele conta que gostou do projeto porque não sabia pintar e acabou aprendendo com os amigos. Já Isabela S., 10 anos, trabalhou em obras de Tarsila do Amaral e Alfredo Volpi. “Foi uma experiência nova, em que pude expressar tudo o que senti; aprendi a mexer com tinta e me sujei bastante”, conta.

#pracegover: três meninos estão parados, de costas, usando camiseta branca e observando uma pintura na parede. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Reinventando as salas de aula 

No Colégio Lince, em Salvador (BA), estudantes da educação infantil ao 2º ano do ensino médio têm a tradição de montar exposições e apresentações artísticas durante o Encontro Cultural Nacional e Internacional Lince (Ecnil). No início do ano, os professores escolhem o tema, revelado aos alunos apenas em setembro, quando eles são divididos em grupos de diferentes idades. Em 2023, a temática foi “Nordeste me veste”, e cada turma recebeu uma sala em branco para representar um estado da região com decoração, comidas típicas e apresentações. “Tem sala que vira teatro, cinema, jogral e até dança”, explica Maria Vieira, coordenadora do ensino médio.

Nos últimos dias, cada sala se torna um grande segredo, por onde até professores e coordenadores de outras turmas evitam passar. Para Beatriz L., que esteve no 9º ano em 2023, o Ecnil é um momento em que ela pode explorar suas habilidades, desenvolver a criatividade e aprender a lidar em situações sob pressão. Louhane, outra estudante que integrou o projeto, conta que “é incrível como um evento como esse pode reunir tantas mentes criativas em um só lugar! Ao longo da minha jornada, (…) precisei liderar equipes, expor minhas ideias e controlar as emoções para garantir que o trabalho fosse realizado”.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 220 do jornal Joca.

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