Independência ou Morte, por Pedro Américo. Foto: Rogério Albuquerque/Twitter/reprodução

No dia 7 de setembro, nosso país celebra o bicentenário do momento em que se tornou independente de Portugal, que colonizou o Brasil a partir de 1500. Nesta reportagem especial, confira as principais comemorações, o histórico da independência e uma entrevista sobre o tema com uma historiadora.

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REABERTURA DO MUSEU DO IPIRANGA, EM SÃO PAULO (SP)
O Parque do Ipiranga está localizado às margens do córrego do Ipiranga, ponto onde, em 7 de setembro de 1822, dom Pedro I deu o grito da independência do Brasil (é por isso que o Hino Nacional começa com a frase “ouviram do Ipiranga as margens plácidas”) — saiba mais em “A história da independência”. O Museu do Ipiranga fica no parque e foi fechado em 2013 para reformas. Em 6 de setembro, ele vai reabrir as portas. Na data, além de ver o acervo sobre o tema, os visitantes vão assistir a um concerto da Orquestra da Universidade de São Paulo (USP). Esse evento, porém, será fechado para convidados. O público em geral poderá frequentar o espaço a partir de 8 de setembro.

MOEDAS ESPECIAIS
O Banco Central do Brasil lançou, em 26 de julho, duas moedas temáticas para comemorar os 200 anos: uma no valor de 5 reais e outra, de 2 reais. Quem quiser as moedas, no entanto, precisa adquirir os modelos pelo site do Clube da Medalha. A de 5 reais custa 420 reais e a de 2 reais, 34 reais.

A moeda de 2 reais mostra a cena do grito da independência. Já a de 5 reais exibe o busto de dom Pedro I. Imagem: divulgação

CONCURSO DE POESIA
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) está organizando um concurso de poesias sobre a independência. Para participar é necessário ser aluno do 6º ao 9º e pedir ao gestor da escola que realize a inscrição. A melhor poesia vai ganhar 10 mil reais e uma viagem para Brasília (DF). As inscrições vão até 2 de setembro.

SELOS PERSONALIZADOS
Os Correios lançaram, em 1º de agosto, um selo de cartas especial, retratando o momento em que dom Pedro I deu o famoso grito. Além disso, as agências e veículos do órgão serão personalizados e foi preparada uma “cápsula do tempo” com itens especiais (como um uniforme de carteiro), que será aberta no tricentenário da data, daqui a cem anos.

OUTRAS ATIVIDADES
Desde 25 de agosto, a prefeitura de São Paulo promove atividades em mais de 200 locais durante o evento Vozes da Independência. No dia 7 de setembro, o Sambódromo do Anhembi será palco de uma encenação do momento histórico do grito do Ipiranga. No portal do Joca, saiba tudo sobre a vinda do coração de dom Pedro I, que estava em Portugal, para as comemorações no Brasil.


 

A história da independência
Acompanhe os principais eventos que levaram o Brasil a se tornar um país independente de Portugal

#pracegover: ilustração mostra Dom Pedro I e Maria Leopoldina. Eles usam trajes nobres, em tons claros e escuros. São cercados por crianças e uma escrava cuidando de um bebê. Crédito: James Ramsay, acervo do Museu Paulista da USP._Domínio Público 

Como tudo começou
Os primeiros navios europeus chegaram ao Brasil em 1500, mas foi só em 1808 que o rei dom João VI e a família real portuguesa vieram morar em nosso país. A mudança era uma maneira de escapar de Napoleão Bonaparte, que governava a França e ameaçava invadir Portugal. Na época, o Rio de Janeiro se tornou a sede do governo português e, em 1815, o Brasil passou a ser considerado um reino unido ao de Portugal.

Mas isso gerou insatisfação em Portugal, que começou a se ver tratado como se fosse a colônia, no lugar do Brasil — as decisões partiam daqui, já que o rei morava em nosso país. Assim, em 1821, dom João VI retornou a Portugal e deixou o Brasil nas mãos do filho dom Pedro I, que se tornou príncipe regente.

Os portugueses
A corte portuguesa (tipo de congresso que ajudava dom João VI a governar), no entanto, começou a exigir que dom Pedro voltasse a Portugal — e que o Brasil respondesse diretamente ao governo português, e não mais a um príncipe instalado no país. Esse grupo ficou ainda mais insatisfeito quando, em fevereiro de 1822, dom Pedro I proibiu que tropas portuguesas desembarcassem em portos brasileiros. Em resposta, a corte enviou ameaças a ele.

 

#pracegover: ilustração mostra Dom João VI vestindo roupas claras e um manto vermelho e dourado. Ele está diante de um trono. Crédito: James Ramsay, acervo do Museu Paulista da USP._Domínio Público 

Os brasileiros
Mesmo antes da chegada da família real, alguns grupos já se organizavam pedindo a independência do Brasil. Enquanto comerciantes estavam insatisfeitos por ter que pagar muitos impostos, as elites (pessoas com poder econômico e influência política) do Sudeste e Nordeste, por exemplo, estavam descontentes com a administração de Portugal. Contudo, como o Brasil é um país muito grande, não havia um consenso sobre como esse processo deveria ser feito.

Independência ou morte!
Dias antes de declarar a independência, dom Pedro I precisou fazer uma viagem e deixou a esposa, Maria Leopoldina, como governante provisória do Brasil. Durante esse período, ela foi avisada sobre as ameaças de Portugal. Em resposta, a princesa assinou um documento que decretava a independência. No dia 7 de setembro, dom Pedro I ficou sabendo do ocorrido e deu o grito que entrou para a história brasileira: “Independência ou morte!”.

Outros personagens
Além de dom Pedro I, Maria Leopoldina e dom João VI, outras pessoas foram importantes no processo da independência. Conheça algumas delas.

JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA
Era o braço direito de dom Pedro I e foi quem aconselhou Maria Leopoldina a assinar a declaração que decretou a independência. Pelo seu papel no processo, ficou conhecido como “Patriarca da Independência”.

LORDE COCHRANE
O lorde Thomas Cochrane foi contratado por dom Pedro I para organizar e comandar a Marinha brasileira. Ele expulsou as forças portuguesas contrárias à independência em províncias do Nordeste e Norte, colaborando para manter o processo de separação.

CIPRIANO BARATA
Jornalista, ajudou a combater a escravização e incentivar a independência. Em 1798, fez parte da Conjuração Baiana, movimento que mostrava a insatisfação no Brasil com o domínio português.

PEDRO DE ARAÚJO LIMA
Conhecido como marquês de Olinda, atuou como representante de Pernambuco e fez parte das Cortes Gerais de Lisboa (grupo que formulou um documento para informar a volta de dom João VI a Portugal), defendendo a independência.


 

Conversa com uma historiadora
Para saber mais sobre as mudanças que o Brasil viveu depois da independência e por que é importante relembrar esse momento agora, 200 anos depois, o Joca conversou com a historiadora Gabriela Trevisan. Confira.

Para quem a independência do Brasil foi mais importante? Quais são seus aspectos positivos?
“A independência foi feita pelas mãos mais elitizadas do Brasil. Não só pelas mãos de dom Pedro I, como também pelos interesses da elite local, especialmente a elite agrária”, explica a historiadora. A elite agrária eram os grandes proprietários de terra, agricultores ricos e outras lideranças ligadas à agricultura brasileira da época, que tinham interesse na independência para ter liberdade de negociar seus produtos com outras nações além de Portugal. “Portanto, o aspecto principal da independência foi o desenvolvimento econômico voltado para o benefício dessas elites”, continua a especialista. É importante lembrar que o desenvolvimento econômico não aconteceu para todas as pessoas, ou seja, não foi igualitário, e sim focado nas elites.

Além disso, explica Gabriela, existe “a independência política, que foi não responder mais a Portugal, o que garantiu a liberdade econômica e política naquele momento”. Assim, além da possiblidade de mais trocas comerciais com o mundo todo, dom Pedro I ganhou liberdade para governar sem responder à coroa portuguesa.

Por que é importante relembrar os 200 anos da independência?
“Porque a independência do Brasil está dentro de um contexto internacional muito maior, e entender sobre ele é colocar o nosso país nesse cenário, compreendendo a importância histórica disso”, reflete a historiadora.

A independência brasileira se associa a diversos fatores internacionais. Na época, espalhavam-se pelo mundo as ideias iluministas (movimento que acreditava, por exemplo, na troca da monarquia pela república) e acontecia a independência de diversas nações da América que tinham sido colonizadas pela Espanha.

“Também [é importante] fazer a crítica de que, até hoje, nós temos uma profunda desigualdade social que a independência não conseguiu sanar. E não só a do Brasil. Se falarmos da América de modo geral, há esse histórico de desigualdade continuada após a independência, e é fundamental pensar sobre isso. Essa independência foi para a elite branca. A escravidão, por exemplo, acaba no Brasil só em 1888. Então a independência era para quem?”, questiona Gabriela.

O que fazer para promover um país livre para todos?
“O mais importante é pensar que, historicamente, o Brasil conhece há pouco tempo a democracia, ou seja, a participação popular, em que todo mundo é considerado cidadão na política. Valorizar nossa tradição de democracia é fundamental, assim como entender que a gente demorou para construir isso e que, assim, tem que dar muito valor”, explica a historiadora.

Atualmente, o Brasil vive em uma democracia, na qual a decisão da maioria da população determina, com as eleições, quais candidatos vão governar o país. Mas nem sempre foi assim. Após a independência, o Brasil ainda tinha um imperador (dom Pedro I e, depois, dom Pedro II). Mesmo após a Proclamação da República, em 1889, houve períodos sem eleições da maneira como conhecemos hoje, como durante a ditadura militar (1964-1985). Depois da ditadura, a primeira eleição direta, com votação da população, foi em 1989.

“Ao se conquistar a democracia, houve uma vitória muito grande para aqueles que não são privilegiados e não integram a elite branca — e masculina, pois as mulheres também foram excluídas da política até 1932 [quando o voto feminino teve seu direito reconhecido no Brasil]”, conclui Gabriela.

Glossário
Desigualdade social: termo que se refere às diferentes condições de vida existentes em uma população. Por exemplo, enquanto os mais ricos têm casa, comida e dinheiro, há quem não tenha moradia e até passe fome.

Fontes: CDC China, CNN Brasil, Exame, Folha de S.Paulo, G1, OMS, Our World in Data, Reuters, Nature, BBC, Recreio e Senado Federal.

Texto originalmente publicado na edição 192 do Joca.

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Comentários (2)

  • Davi Spíndola Cavalcante

    1 ano atrás

    Valeu mais faz mais detalhado por favor. Estudo no Signa na Unidade de Águas Claras e sou assinante do Jornal Joca.

  • Jornal Joca

    1 ano atrás

    Oi, Davi. Tudo bom? Obrigado pelo comentário. Quais outros detalhes você acha que faltou na matéria? Conta pra gente, podemos acrescentar algumas coisas. Até a próxima!

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