EUA e Irã possuem um relacionamento difícil há muito tempo, mas ele ficou ainda mais complicado este ano. Arte: Beatriz Lopes
EUA e Irã possuem um relacionamento difícil há muito tempo, mas ele ficou ainda mais complicado este ano. Arte: Beatriz Lopes
EUA e Irã possuem um relacionamento difícil há muito tempo, mas ele ficou ainda mais complicado este ano. Arte: Beatriz Lopes

Você ouviu falar do conflito entre os Estados Unidos e o Irã nos últimos dias? Da morte de um general iraniano? E da possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial?

Para te ajudar a entender essas questões, o Joca entrevistou três especialistas – Bruno Camponês do Brasil, mestre em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo (USP); Paulo Wrobel, professor do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); e Sérgio Aguilar, especialista em segurança internacional e professor do curso de relações internacionais da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) – que responderam alguns dos principais tópicos sobre o assunto. Confira: 

Por que os dois países não se dão bem?
Os Estados Unidos e o Irã possuem um relacionamento complicado desde 1979, quando ocorreu a Revolução Iraniana. Apesar disso, eles já agiram em conjunto algumas vezes ao longo desse período, por exemplo, quando tentaram derrotar o grupo terrorista Estado Islâmico.

Em uma tentativa de melhorar a relação entre eles, os dois países assinaram, em 2015 (com Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia), um acordo em que o Irã limitaria a produção de energia nuclear, pois os países tinham medo de que ela fosse usada para fazer armas e bombas. Em troca, seriam retiradas as restrições impostas ao Irã, como a liberação de 100 bilhões de dólares (cerca de 394 bilhões de reais) que não podiam ser usados pelo país até então.

Entretanto, o presidente dos EUA, Donald Trump, saiu do acordo em 2018 e impôs restrições financeiras ao Irã, como a proibição de comprar dólares e metais preciosos. Já em julho de 2019, quem suspendeu o acordo foi o Irã, pedindo que os países aliviassem as novas restrições ao Estado iraniano, como obstáculos à venda de petróleo, o que prejudicou a economia do país do Oriente Médio.

O que intensificou o conflito?
O governo dos Estados Unidos organizou um ataque ao aeroporto de Bagdá, no Iraque, no dia 3 de janeiro, o que causou a morte de dois generais iranianos importantes, entre eles, o brigadeiro-general Qassen Soleimani, considerado herói nacional no Irã. Os Estados Unidos acusam a Força Quds, organização que Soleimani comandava, de financiar organizações terroristas e realizar ataques terroristas, inclusive alguns que atingiram norte-americanos no Iraque em 2019.

No Irã, mulheres carregam fotos do general Soleimani em protesto contra a sua morte. Seu funeral recebeu tantas pessoas que a superlotação causou a morte de pelo menos 56 pessoas, além de deixar 213 feridos. Foto: Fatemeh Bahrami/Anadolu Agency via Getty Images
No Irã, mulheres carregam fotos do general Soleimani em protesto contra a morte dele. O funeral do militar recebeu tanta gente que a superlotação causou a morte de pelo menos 56 pessoas, além de deixar 213 feridos. Foto: Fatemeh Bahrami/Anadolu Agency via Getty Images

O Irã respondeu ao ataque?
Duas bases militares norte-americanas no Iraque, uma mais próxima da capital, Bagdá, e outra no norte do país, foram atacadas por mísseis e foguetes iranianos. O Irã diz, oficialmente, que isso foi uma resposta à morte do general Soleimani. Nenhum soldado norte-americano morreu. 

De acordo com o especialista Paulo Wrobel, os Estados Unidos não anunciaram nenhuma retaliação ao ataque.

O conflito pode realmente gerar uma guerra entre Irã e Estados Unidos?

O pesquisador de Oriente Médio Bruno Camponês do Brasil afirma que a disputa provavelmente não vai gerar uma guerra. “O chanceler iraniano foi muito cauteloso ao afirmar que o ataque às bases norte-americanas foi a resposta à morte do general Soleimani, de modo que podemos entender que não deve haver outros ataques”. O Irã afirmou que agiu em legítima defesa e, ainda, de acordo com o especialista, como não houve vítimas, parece que o ataque serviu apenas para mostrar a força do país.

Sobre os Estados Unidos, Bruno acredita que, por Trump ter afirmado em seu pronunciamento que o Irã parece estar recuando (“Iran appears to be standing down”, em inglês), o país também não deve responder ao ataque. Isso reforça o que ele tinha dito no dia anterior, que tudo estava bem (“all is well“).

Donald Trump em pronunciamento sobre o conflito após o ataque às bases americanas no Iraque. Foto: Yasin Ozturk/Anadolu Agency via Getty Images
Donald Trump em pronunciamento sobre o conflito após o ataque às bases norte-americanas no Iraque. Foto: Yasin Ozturk/Anadolu Agency via Getty Images

Quais outros países devem se envolver?
O primeiro país envolvido foi o Iraque. Ele se transformou no centro do conflito porque a morte do general Soleimani aconteceu no aeroporto de Bagdá e, além disso, a reação iraniana foi em duas bases norte-americanas no Iraque.

Para Paulo, outro país-chave do Oriente Médio que pode ser alvo de uma reação iraniana é Israel, por manter uma inimizade com o Irã há 40 anos. “O Irã, nos últimos dias, já ameaçou jogar mísseis no território israelense, o que certamente vai provocar uma reação de Israel”, explica.

O especialista afirma que a Arábia Saudita, outro país com quem o Irã tem inimizade, também pode ser alvo.   

Sérgio Aguilar afirma que Israel e Arábia Saudita realmente podem se sentir mais incentivados a agir contra o Irã no meio do conflito. “A ação desses países pode provocar uma reação do Irã, mas também de Estados e grupos a ele aliados”, diz. 

Ele acredita, assim como Bruno, que o conflito pode envolver outros atores poderosos com interesses na região, como a Rússia e a China, por exemplo.

É possível que aconteça uma Terceira Guerra Mundial?
Para os três especialistas entrevistados, a resposta é não. Isso porque existem outros atores internacionais importantes, como China, União Europeia e Rússia, que devem evitar que esse conflito se torne mundial. 

Além disso, Sérgio Aguilar acredita que, mesmo que os Estados Unidos sejam capazes de vencer uma guerra usando seus recursos militares, eles não conseguiriam controlar os territórios desses países após a vitória. Por isso, o especialista crê que nem os iranianos nem o governo norte-americano pretendem se envolver numa guerra em larga escala. 

Ainda assim, Bruno afirma que não é possível prever exatamente o que vai acontecer.

Protestos nos Estados Unidos pedem a paz com a frase "no war" (sem guerra, em inglês) escrita em cartazes. Fotos: Erin Lefevre/NurPhoto via Getty Images
Protestos nos Estados Unidos pedem a paz com a frase “no war” (sem guerra, em inglês) escrita em cartazes. Fotos: Erin Lefevre/NurPhoto via Getty Images

Qual deve ser o posicionamento do Brasil no caso de uma guerra?
O discurso brasileiro, de acordo com Sérgio Aguilar, deve ser a favor de resolver o conflito de forma pacífica. “O Brasil precisa de um bom relacionamento tanto com os Estados Unidos como com os países do Oriente Médio”, justifica.

“Nosso país possui uma tradição de sempre buscar uma negociação pacífica”, concorda Paulo. “Apesar de que a primeira reação da diplomacia brasileira nos últimos dias foi de certo apoio moderado aos Estados Unidos, mas isso não quer dizer que o Brasil vá assumir uma posição de apoio ao governo norte-americano”, completa. 

 

Ixi! Você bateu no paywall!

Ainda não é assinante? Assine agora e tenha acesso ilimitado ao conteúdo do Joca.

Assinante? Faça Login

Voltar para a home

Ou faça sua assinatura e tenha acesso a todo o conteúdo do Joca

Assine

Comentários (0)

Compartilhar por email

error: Contéudo Protegido