#PraCegoVer: A fotografia é da cidade de Mariana, em Minas Gerais, na área afetada pelo rompimento da barragem em 2015. As casas estão destruídas e apenas os muros ainda estão em pé. A imagem mostra a área coberta por lama. Também é possível ver árvores destruídas, um carro ao fundo e um trator. Crédito da imagem: Antonio Cruz/Tânia Rego/Agência Brasil.

Um mar de lama. Foi assim que os moradores de Brumadinho, em Minas Gerais, descreveram a tragédia ocorrida com o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em 25 de janeiro. A expressão também foi usada para se referir à tragédia de Mariana, outra cidade mineira, onde uma barragem se rompeu em novembro de 2015.

Para ajudar a resolver alguns dos problemas provocados por barragens como as de Mariana e Brumadinho, um estudante do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, resolveu criar tijolos usando a lama do desastre de 2015. A ideia de Pedro G., de 14 anos, deu tão certo que garantiu a ele o segundo lugar na categoria 9º ano da Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia, realizada em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, em 2018, e uma autorização para participar da Milset Expo-Sciences International 2019 – exposição de projetos científicos que envolve jovens do mundo todo e acontecerá em setembro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.

Em entrevista aos repórteres mirins Anna Laura M., Enzo X. e Thiago M., Pedro G. contou como surgiu a ideia e como foi o processo de construção do material. Confira!

Qual foi a sua inspiração para a criação deste projeto?
Inicialmente, o meu plano para o Programa Cientista Aprendiz [programa de ciências do colégio] era fazer um projeto relacionado à melhoria da eficiência dos carros. Comecei a pesquisa e descobri que esse projeto já existia. Em seguida, a minha orientadora me falou que a empresa Samarco tinha enviado amostras de dois tipos de resíduos de mineração para serem estudados pelos alunos e perguntou se eu gostaria de fazer algum trabalho relacionado a eles. Depois de pensar e pesquisar sobre a tragédia de Mariana, descobri que o melhor jeito de evitar esse tipo de acidente ambiental era dar uma aplicação prática a esses resíduos. Então, tive a ideia de usar as amostras para a fabricação de tijolos. Apresentei essa proposta para a professora e ela gostou da ideia, já que os tijolos são materiais muito utilizados.

Como você pretende transformar a lama e os rejeitos em tijolos? E quanto tempo isso demora?
Isso já foi feito no laboratório usando moldes de madeira. Depois, os materiais foram queimados no forno do colégio para formar os minitijolos. Todo o processo demora cerca de 15 dias, pois, antes da queima, é necessário dar um tempo para o material secar.

#PraCegoVer: A imagem mostra a varanda de uma das casas encoberta pela lama. Na varanda há uma janela e uma poltrona. Ao fundo, o verde das árvores se destaca da cor marrom avermelhada. Crédito da imagem: Antonio Cruz/Tânia Rego/Agência Brasil.

Você pretende tentar fazer alguma melhoria no seu projeto?
Pretendo fazer tijolos de tamanho normal a partir do resíduo de lama. Até agora, fiz somente minitijolos, uma vez que não tínhamos resíduo suficiente para produzir materiais maiores. Além disso, preciso realizar testes para ver se os tijolos são resistentes o suficiente para serem usados em construções.

Quais foram as dificuldades encontradas durante o processo?
A parte de pesquisa científica [estudo com artigos, dissertações e teses] e a criação do projeto de pesquisa [quando o pesquisador faz um relatório descrevendo o projeto] foram as etapas em que eu tive mais dificuldade. São partes teóricas, e eu prefiro colocar a mão na massa.

Que tipo de equipamentos deve ser utilizado para o desenvolvimento do projeto?
Eu utilizei moldes de minitijolos, balança analítica [balança que garante resultados muito precisos] e o forno do colégio.

#pracegover: Pedro G. aparece na imagem segurando duas bandejas com os tijolos da lama. Cada bandeja trás seis tijolos. Ele usa uma camiseta branca onde se lê Dante e short preto. Ao fundo, uma parede branca e uma porta. Crédito da imagem: divulgação.

Qual foi a sua reação ao saber que outra barragem, desta vez em Brumadinho, havia se rompido?
Eu fiquei decepcionado, principalmente porque isso já tinha acontecido antes e eles não aprenderam com os próprios erros.

O que são os rejeitos da mineração?
No processo de extração do minério de ferro das rochas, usa-se água para separar esse material (usado para fabricar aço) do que não interessa – como minérios com pouca concentração de ferro, areia e água. Essa sobra, que tem aspecto de lama, é chamada de rejeito e armazenada em barragens, como as que se romperam em Brumadinho e Mariana.

No site do Joca, confira uma entrevista com outros estudantes do Colégio Dante Alighieri que também se envolveram em projetos para diminuir o impacto das barragens.

Fontes: G1, Fantástico e BBC.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 216 do jornal Joca.

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