Vini-Campos-site-arquivo-pessoal
Vini Campos encontrou na escrita uma maneira de falar sobre tudo o que desejava. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Vinicius Campos, conhecido apenas como Vini, é ator, apresentador de programas infantis da Disney e vive na Argentina com a família. No entanto, foi na escrita que ele encontrou espaço para falar sobre muito mais do que é possível na televisão.

Um dos diversos livros que Vini publicou se chama O Amor nos Tempos do Blog, inspirado em um clássico de nome parecido, O Amor nos Tempos do Cólera, do colombiano Gabriel García Márquez. A obra de Vini conta a história de amor entre Bernardo e Luz, jovens que se encontram em uma biblioteca e são autores dos respectivos blogs Ariza em Silêncio e Cinderela Virtual. 

Os estudantes do 6º ano da Emef Professor Ricardo Vitiello, em São Paulo (SP), leram o livro e receberam o autor, em videoconferência na sala de aula, para uma coletiva de imprensa. Veja como foi essa conversa.

Alunos-Emef-Professor-Ricardo-Vitiello-entrevista-Vini-Campos
Alunos da Emef Professor Ricardo Vitiello durante a entrevista. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Eloá, 11 anos: O que levou você a ter vontade de ser escritor?
Eu sempre escrevi. Quando era criança, acordava e ia escondido para o computador escrever novelas, livros, tudo que vinha à minha cabeça. Mas eu não achava que isso era uma profissão. Quando vim para a Argentina, eu tinha muito tempo livre, e o contrato com a Disney não me permitia fazer outros programas, peças de teatro nem comerciais de TV. Porém livro podia. Aí comecei a escrever e foi, inclusive, uma maneira de falar tudo aquilo que eu queria, mas não tinha espaço na TV. Meu primeiro livro se chama Expedições do Vini: Famílias, sobre diferentes tipos de família, para além do padrão com pai e mãe biológicos e seus filhos.

Manuela, 11 anos: O Amor nos Tempos do Blog é baseado em uma história real?
Quando eu tinha 20 anos, namorava uma garota muito linda, mas ela terminou comigo. Eu fiquei muito triste. Então, uma prima que morava no Recife (PE) me falou: “Vem passar o Carnaval aqui, que é ótimo para esse tipo de dor no coração”. Nós fomos para Olinda, uma cidade vizinha, ficar em uma casa só com jovens. Quando cheguei, descobri que os amigos dela eram dez pessoas surdas, porque ela trabalhava como intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras). Estando naquela casa, comecei a perceber que, na verdade, era apenas outra língua. Passei a olhar para eles de igual para igual. Quando eu escrevi o livro, o Bernardo [protagonista] era meu amigo e namorava a Michele de verdade nessa viagem. Mas a história de amor na biblioteca eu criei, é ficção. Só o Bernardo e a Michele que existem.

E quantos anos você tinha quando escreveu o livro?
Eu o escrevi em 2010, então tinha 30 anos.

O-amor-tempos-blog-VIni-Campos
Crédito de imagem: divulgação

Pietro, 11 anos: O que no seu livro tem a ver com O Amor nos Tempos do Cólera?
Vocês sabem o que é cólera? É uma doença que houve em uma época e matou muita gente, como se fosse a covid-19. As duas coisas que eu acho que têm a ver é: um amor impossível — o que é ridículo, a gente não deveria ter nenhum motivo para o amor não acontecer —, que não poderia acontecer, e também porque, em ambos, eles se comunicam pela palavra escrita. Mas O Amor nos Tempos do Cólera é muito melhor do que o meu livro; o autor, Gabriel García Márquez, é um escritor mundial incrível, maravilhoso.

Beatriz, 12 anos: Quanto tempo você demorou para criar a história? Beatriz, é estranho, mas foi bem rápido, costuma demorar mais. Eu tive três semanas para escrever os dois blogs, aí algumas pessoas leram, deram dicas e depois eu trabalhei nele mais um mês, mais ou menos, para criar um terceiro blog e finalizar.

Sofia, 11 anos: Você escolheu fazer a história em blogs para mostrar o mesmo fato de diferentes formas?
Eu acho que escrevi o livro assim por dois motivos: por ser uma coisa mais moderna do que cartas e porque era um jeito para que os posts fossem mais curtos, porque eu sou meio preguiçoso para ler — eu não gosto muito de ler livros com capítulos longos, eu gosto de terminar o capítulo na hora que sento para ler. Então eu achei que, com esse formato, seria mais fácil para a leitura. E isso de ter várias visões é porque toda história tem vários pontos de vista, né? Eu achava divertida essa brincadeira: o Bernardo começa achando que viu a Luz pela primeira vez, mas, na verdade, ela já tinha visto ele. A grande dificuldade, se é que teve alguma, foi pensar nas datas, foi um quebra-cabeça divertido de fazer.

Clique aqui para conhecer outro livro de Vini Campos, chamado Dançando com o Inimigo.

Emily, 12 anos: Uma das personagens se chama Cinderela Virtual porque você gosta de conto de fadas?
Sim, eu gosto, mas eu acho que é mais porque ela gosta. Eu acho que é uma menina muito sonhadora, que, quando foi criar esse blog, pensou na Cinderela por ser o conto de fadas preferido dela.

Lucas, 12 anos: Você criou duas personagens irmãs, Luz e Vitória, porque a Cinderela [Cinderela Virtual, blog de Luz] tem duas irmãs malvadas?
Esse paralelo é bom, eu não tinha pensado nisso. Mas deixa eu te contar uma coisa: a ficção precisa de conflito. Não importa se é teatro, novela, cinema, livro… Ninguém assiste a algo em que tudo esteja bem. Eu precisava de um conflito no livro para gerar algum problema, para que o amor do Bernardo e da Luz não fosse possível. Mas eu acho que a irmã não é malvada, ela só não tinha se apaixonado ainda. Quando ela se apaixona pelo nerd, percebe que o amor é assim, a gente não escolhe, a gente se apaixona e só vive aquilo.

E por que você viajou para a Argentina?
Eu estava trabalhando em uma TV a cabo no Brasil, fui demitido, viajei para a Argentina de férias, conheci e me apaixonei pelo Edu, casei-me e não voltei nunca mais para o Brasil. Estou casado há 18 anos, e temos três filhos, que chegaram depois de um processo de adoção.

Talita, 12 anos: A principal mensagem do seu livro é que o amor resiste a qualquer dificuldade?
Eu não sei. Você viu que os pais se separam, né? Tem a história de amor do Bernardo e da Luz, que dá certo, e a história dos pais, que acaba. Eu botei essa outra história porque acho que os contos de fada mentem para a gente, dizendo que há um “felizes para sempre”. O amor é um sentimento, ele dura enquanto vale a pena. Se eu me casar com alguém que amo, mas essa pessoa depois me tratar mal, o amor vai acabar. Ou, às vezes, o amor acaba mesmo sem isso acontecer. Vinicius de Moraes, meu xará, compositor carioca, dizia: “Que seja infinito enquanto dure”. Quando a gente está com a pessoa, acha que é para sempre. Mas, se terminar, está tudo certo também. O importante é acabar com respeito, sendo carinhoso um com o outro.

Analisa: Você pretende criar uma continuação para a história?
Todo mundo me pergunta isso, e eu sempre penso: “Qual filme ‘dois’ é melhor do que o primeiro?”. Não vale Toy Story. Então, eu faria o que no segundo? Vou fazer o Bernardo e a Luz se matarem ou conquistarem outra pessoa? Não sei. Eu fico pensando, mas sempre com dúvidas. Eu tenho um que não é uma continuação, mas tem a ver, que está na minha cabeça dando voltas, talvez um dia ele apareça.

Clique aqui para conhecer mais um livro do Vini Campos: Rita e o Manual Para Ser Astronauta.

Mariana: Por que você quis fazer um curso de palhaço?
Eu achava que ser palhaço era muito divertido, ainda acho. Nada melhor do que fazer as pessoas rirem. E é muito louco, porque, no fim, eu não virei palhaço, mas, se você olhar os programas que eu fiz na Disney, estou sempre fazendo palhaçada. Eu acho divertido. Mas eu nunca fiz palhaço, só uma vez em que eu fantasiei para a Disney. Se eu interpretasse um palhaço, acho que ele seria um palhaço irritado, que dá bronca em todo mundo, porque eu sou meio assim, pelo menos meus filhos acham isso. Talvez ele se chamasse Irritadinho da Silva.

Você pretende voltar para o Brasil?
Eu sempre vou para o Brasil, mas eu não sei se voltaria a morar, talvez um dia. Eu tenho muita vontade de morar no Rio de Janeiro.

Qual é o seu livro preferido?
Isso aí é como quando meus filhos me perguntam qual deles é o favorito, é difícil, não há um favorito. Eu gosto de todos e fico torcendo para aqueles livros que vendem menos.

Enzo: Você pretende lançar uma série relacionada com esse livro?
Eu tenho muita vontade de transformar O Amor nos Tempos do Blog em um filme e já estou conversando com várias pessoas para tentar fazer com que isso aconteça. Mas sabe algo que eu acho que estraga? Em Harry Potter, por exemplo, antes de ter um filme, cada um imaginava o Harry de um jeito diferente. Só se sabia que ele tinha um raio na testa. Desde que vieram os filmes, quando eu falo sobre o Harry Potter, todos pensam no ator Daniel Radcliffe. Então, o livro é legal porque escrevemos juntos, eu coloco as palavras e vocês, leitores, a imaginação. 

Pietro: Você já tem uma ideia para o próximo livro?
Eu entreguei um recentemente, que é a história de um garoto gago que conhece, no prédio dele, outro menino, que gosta de dançar, usar saia, é um garoto que gosta muito de coisas que são consideradas de menina. O livro fala um pouco da história de amizade entre os dois.

Se você fosse escrever, sei lá, um poema, uma poesia, como seria?
Ai, rapaz, é difícil, eu acho que seria de amor, porque sou muito romântico. Mas eu não sei escrever poesia, acho dificílimo.

“Continuem lendo, um livro é sempre assim: você abre uma capa sem ter a menor ideia do que vai encontrar dentro e, às vezes, encontra uma coisa que acaba mudando o seu jeito de ver a vida. Porque, quando a gente lê, não só está conhecendo essa história, como também está conhecendo ferramentas para lidar com a nossa própria história.”

Vini Campos

Enquete

Sobre qual assunto você gosta mais de ler no portal do Joca?

Comentários (0)

Compartilhar por email

error: Contéudo Protegido