Coordenador do projeto criado por universitários conta como o aparelho estimula o contato com a língua dos surdos
Por Marina B. e Daniel B., 9 anos, Belo Horizonte (MG)
O Brasil tem dois idiomas oficiais: a língua portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Dos 207 milhões de habitantes, 3 milhões de pessoas surdas falam Libras – língua que tem gramática própria e é representada pelas mãos. A linguagem dos sinais, no entanto, ainda é desconhecida pela maior parte das pessoas, o que dificulta a comunicação entre ouvintes (não surdos) e surdos. Quem não ouve acaba, assim, sendo excluído do convívio com outras pessoas.
Pensando em romper essa barreira e ajudar os falantes de língua portuguesa a se comunicar melhor com quem fala Libras, os universitários Fábio de Jesus, Gleika Soares e Eliane Chaves, da PUC Minas, criaram uma mão robótica que imita os movimentos do alfabeto em Libras. O objetivo deles é estimular o interesse das crianças nessa forma de comunicação e, com a ajuda delas, inovar o aprendizado de Libras.
O projeto foi coordenado pelo professor Mário Buratto, pai dos repórteres mirins desta edição, os irmãos Marina e Daniel, de Belo Horizonte. “A mão desperta o interesse das crianças como um brinquedo, permitindo que ouvintes experimentem o universo dos surdos”, conta. Na entrevista a seguir, Buratto explica como funciona a mão robótica, feita com materiais baratos e em impressora 3D, que pode estar em escolas, museus e centros culturais.
Como surgiu a ideia de construir a mão robótica?
A ideia partiu de uma aluna cuja tia é surda e sempre enfrentou dificuldades para se comunicar com as sobrinhas.
Quais os materiais utilizados?
Primeiro, foi utilizada uma mão de madeira articulada. Depois, uma impressora 3D com o mesmo material de controles remotos de televisão. Além disso, foram usados um teclado e um computador menor do que a palma da mão.
Como funciona?
O pequeno computador opera como um intérprete entre o teclado e a mão. Quando é pressionada uma tecla, o sinal é enviado aos motores localizados no punho. Eles funcionam como se fossem nossos músculos, interligados até os dedos por meio de uma linha de pesca, e atuam como tendões.
Qual o objetivo do projeto?
A ideia é oferecer uma solução atrativa para incentivar as pessoas a aprender a Língua Brasileira de Sinais. Acreditamos que a utilização da mão robótica possa estimular as crianças a inovar os métodos convencionais de aprendizado de Libras. Além disso, outro objetivo é trazer a pessoa não surda para o mundo dos surdos, o que chamamos de inclusão reversa. Incorporar essa técnica com as crianças pode fazer com que o exercício do aprendizado de uma nova língua seja muito produtivo.
A mão é cara?
O custo é acessível a todas as escolas. Ela é feita com materiais baratos e de fácil acesso, é impressa em 3D, e todos os programas foram desenvolvidos em código aberto.
Existem outros equipamentos parecidos no mercado?
Não foi encontrado em nenhum lugar do mundo uma iniciativa como a mão robótica. O que já existe são aplicativos que mostram em desenhos ou fotos as letras sendo formadas.
A comunidade surda aprovou a iniciativa?
Sim. Representantes de uma associação de surdos acreditam que a mão vai ajudar a comunicação e a interação entre surdos e ouvintes, diminuindo o preconceito que há hoje.
Além de escolas, onde mais a mão pode ser utilizada?
Em instituições com grande número de frequentadores em processo de aprendizado, como museus e centros culturais.
Quais são os próximos passos?
A mão ainda é um protótipo (modelo inicial), e precisamos melhorar a reprodução em algumas letras específicas. Além disso, temos que pensar que as crianças de hoje serão os adultos do futuro. Ou seja, os conhecimentos de Libras difundidos desde a educação básica ajudam na integração dos surdos e contribuem para que essa convivência com a sociedade avance a cada geração.
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Adoramos fazer essa matéria!
Eu quero que essas crianças consigam se comunicar?
:)
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