Quarta parte da reportagem
Para Andressa S., de 16 anos, falar com as crianças sobre temas como racismo e machismo é importante para quebrar preconceitos e ideias discriminatórias que circulam pela sociedade. “Falar sobre esses assuntos é a melhor forma de fazê-las entenderem que todas as pessoas são iguais, independentemente de cor, gênero ou deficiência”, diz.
Mas o que fazer com obras vistas como preconceituosas? Elas devem ser proibidas? É possível usá-las para ensinar a importância da diversidade? Essas perguntas foram a base de uma polêmica que começou em 2010 e que envolveu uma obra da coleção Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato.
Na época, o Conselho Nacional de Educação (CNE) determinou que o livro Caçadas de Pedrinho (1933) parasse de ser distribuído nas escolas públicas, pois, segundo o órgão, a obra conta com trechos racistas, como partes em que a personagem Tia Nastácia é chamada de “macaca de carvão” e comparada a um urubu.
A decisão acabou sendo anulada, mas a polêmica sobre a liberação ou não da obra continua até hoje. Para a escritora de livros infantis Patrícia Auerbach, a retirada dos livros não é a melhor solução, pois impede que os jovens entendam como o racismo atuava quando as obras foram escritas e como essa questão continua presente na sociedade.
“O livro é um reflexo da época em que foi escrito, um tempo em que essas frases racistas eram vistas com naturalidade. Infelizmente, racismo não é coisa do passado, ainda existe e precisa ser combatido, não jogado para baixo do tapete como se assim deixasse de existir”, diz a escritora.
Para Patrícia, a melhor forma de falar sobre o racismo da obra é conversando com as crianças e mostrando a elas o que há de errado em alguns trechos. “Manter o livro dentro das escolas é precioso porque esse é justamente o ambiente onde os jovens encontram conversa e todas as explicações necessárias para entender os erros cometidos no passado e aprender com eles. A ideia é justamente identificar os erros na ficção para não repeti-los na vida real”.
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