High angle of little son and father reading Quran together while sitting on prayer carpet at home
Afegãos começam a chegar na mesquita de Eid Gah, em Cabul para celebrar fim do mês do Ramadã.Foto: Fardin Waezi / UNAMA

por Martina Medina

Riad, 16 anos

“O Ramadã no Brasil é mais fácil do que na Síria”, opina Denanda Riad Altinawi, 16 anos. Nascido no país árabe, ele chegou ao Brasil com sua família há quatro anos em busca de uma vida longe da guerra. “Lá, o dia é mais longo: pode chegar a 18 horas. No Brasil costumam ser 12 horas de jejum.”

Durante o Ramadã, os muçulmanos – seguidores do Islamismo – ficam sem comer e beber desde o amanhecer até o pôr do sol durante 30 dias. Como o horário em que o sol nasce e se põe varia ao redor do globo, o período de jejum muda em cada país. Os muçulmanos que vivem na Argentina, por exemplo, estão 9 horas sem comer durante este Ramadã enquanto os residentes da Síria fazem um jejum de 14 horas. No Brasil, são pouco mais de 11 horas.

O mês é sagrado para os 1,6 bilhão de muçulmanos de todo o mundo – incluindo crianças a partir dos 12 anos. “Para ir se acostumando, as crianças começam antes”, diz Riad, que experimentou o jejum pela primeira vez aos 6 anos, quando ficava até 7 horas por dia sem comer e beber. Aos 10 anos, ele seguiu o Ramadã à risca pela primeira vez: foram 14 horas diárias sem ingerir qualquer tipo de alimento ou bebida durante um mês.

No começo foi difícil, mas dois anos foram suficientes para Riad se acostumar. “Só quando vai chegando ao fim, começo a sentir fome”, diz. Os muçulmanos podem comer em dois períodos do dia no Ramadã: antes do sol nascer e depois que ele se põe. A refeição da noite se chama iftar. Riad gosta de quebrar o jejum comendo frango assado.

A mãe dele, Ghazal Baranbo, 35 anos, acorda às 4h durante o Ramadã para preparar o “suhur”, refeição feita antes que o sol surja – a preferida de Riad é o macarrão. “É complicado preparar macarrão tão cedo mas já fiz duas vezes neste Ramadã”, diz Ghazal.

Na escola que frequenta no Brasil, os colegas fazem várias perguntas sobre a prática. “Como você consegue?” e “ Como você sobrevive?” são as mais comuns.

Yara, 13 anos

Riad argumenta que uma pessoa só morre depois de cinco dias sem comer nada. E defende que o estômago, trabalhando o ano todo, merece um descanso.

Sua irmã, Yara Altinawi, 13 anos, que começou a jejuar aos 8 anos, diz se sentir melhor a cada Ramadã. “Neste, tive prova na escola e me senti mais concentrada. Acho que fui bem. Nas atividades de educação física eu também jogo normal – até com mais energia”, diz. Riad usa a técnica de sentar e relaxar para afastar a sede depois de atividades físicas.

Caridade e bom comportamento
“Sem comer, você sente por 12 horas ao dia o que os pobres sentem por muito mais tempo. Para nós, é uma opção, para eles, não”, diz Riad. A partir dessa compreensão, os muçulmanos se sentem mais dispostos a fazer doações aos mais necessitados durante o Ramadã.

Banquete pós-Ramadã: “Na Síria, a gente faz festa de quebra de jejum para até 200 pessoas”, diz Riad

Quando o acontecimento chega ao fim, os muçulmanos celebram o feriado Eid al-Fitr. A festa, repleta de comida, também conta com a participação dos mais pobres. “Na Síria, a gente faz festa de quebra de jejum para até 200 pessoas. A caridade é a base do Ramadã”, explica Riad.

Neste período, os fiéis também evitam mentir, gritar, brigar e falar palavrão. Em países de maioria muçulmana, onde todos seguem o Ramadã, a mudança de comportamento é mais visível. “Lá você confia mais porque ninguém vai querer te ‘trollar’ durante o Ramadã”, diz Riad.

Ramadã e o Islamismo
O Ramadã é celebrado no nono mês do calendário islâmico, quando foi revelado o Alcorão, livro sagrado do Islã, a religião dos muçulmanos. Assim, eles frequentam mais as mesquitas e leem mais o Alcorão durante este período.

Pai e filho leem o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos: no Ramadã, a dedicação à religião aumenta

Diferente do calendário na maior parte do Ocidente, baseado no ciclo solar, o islâmico se baseia nos movimentos da lua. Enquanto o ano islâmico dura 355 dias, o cristão tem dez dias a mais (365) – para os muçulmanos, o ano atual é 1439 e não 2018.

O período do ano do Ramadã varia assim como as estações do ano em que acontece. Neste ano, por exemplo, o evento começou em 17 de maio e terminará no dia 16 de junho.

O Ramadã não é obrigatório para mulheres grávidas ou que estão amamentando, para idosos e para quem tem alguns tipos de doenças ou está viajando. Quem descumpre o Ramadã deve seguir seus preceitos em outra época do ano pelo dobro de tempo (60 dias).

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