Nos últimos meses, centenas de estudantes do Irã sofreram envenenamento dentro de escolas. Os casos aconteceram principalmente em Qom, mas houve ocorrências em outras cidades, em mais de 200 escolas, segundo o governo iraniano. Ninguém morreu, porém várias alunas foram hospitalizadas com problemas respiratórios e outros sintomas, como enjoo e tontura.

Como grande parte dos casos ocorreu em colégios frequentados por meninas, a suspeita é de que os envenenamentos têm como objetivo o fechamento de escolas femininas. Em 26 de fevereiro, Younes Panahi, vice-ministro da Saúde no Irã, declarou que há a possibilidade de que os casos sejam intencionais e de que quem os provocou “(…) desejava que escolas femininas fossem fechadas”. A fala, porém, não foi apoiada por outros representantes do governo.

As mulheres e o Irã
O país tem políticas e números que mostram incentivo para que as mulheres estudem — atualmente, elas representam 50% dos alunos em universidades. No entanto, desde setembro de 2022, o Irã tem sido palco de manifestações em prol dos direitos femininos, iniciadas depois da morte de Mahsa Amini, de 22 anos.

Escola islâmica para meninas em Teerã, capital do Irã | #pracegover: meninas usando roupa verde e hijab branco, sentadas numa carteira em um escola. No centro das carteiras está uma professora com roupa toda preta. Crédito de imagem: David Turnley/Corbis/VCG via Getty Images

A nação segue um código de vestimenta elaborado a partir de uma interpretação rigorosa da Sharia (lei da religião islâmica) que proíbe, por exemplo, que as mulheres saiam de casa com os cabelos à mostra. Com base nessas regras, Mahsa foi abordada pela “polícia da moralidade”, pois teria deixado alguns fios de cabelo visíveis (saiba mais na edição 195). Segundo um primo da jovem, ela teria recebido um “golpe violento” na cabeça durante a abordagem. Mahsa morreu dias depois.

Uma das possibilidades é de que o envenenamento de estudantes seja uma resposta às recentes manifestações. Ainda assim, caso seja comprovado que os casos são intencionais (causados por algum grupo ou uma pessoa), as motivações podem ser diversas.

“O Irã é um dos países que mais investe em educação no Oriente Médio. [Porém] tem grupos de extremistas islâmicos que (…) não concordam com mulheres dentro de escolas e universidades. Existem milícias [grupos de pessoas armadas] dentro do país que atuam combatendo causas para afetar o governo”, disse ao Joca o sheik Rodrigo Jalloul, representante do Centro Islâmico Fatima Az-Zahra.

Reações
Os envenenamentos vêm causando indignação entre iranianos, principalmente em pais com medo de mandar as filhas para a escola. Houve protestos em Qom exigindo explicações do governo. Representantes internacionais também pediram urgência nas investigações.

Como ainda não há identificação de culpados nem dados que mostrem se os envenenamentos foram propositais, é importante tomar cuidado para não criar generalizações que podem ser intolerantes com a religião e a cultura islâmica. “É preciso aguardar posições oficiais e esclarecimentos, evitando estigmatizar [marcar negativamente] um país, uma cultura e uma religião”, explica Francirosy Campos Barbosa, antropóloga e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), autora do livro Olhares Femininos Sobre o Islã: Etnografias, Metodologias, Imagens.

No dia 12 de março, o governo iraniano declarou que havia prendido mais de cem pessoas suspeitas de terem ligação com os casos de envenenamento. Confira atualizações no portal do Joca.

Fontes: BBC, Brasil Escola, Estadão, Folha de S.Paulo, InfoEscola, O Globo, Reuters, The Guardian e UOL.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 201 do jornal Joca.

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