Recomendações para se proteger do vírus, como lavar as mãos, evitar aglomerações e ficar em casa, são difíceis no dia a dia das favelas, onde 13,6 milhões de brasileiros vivem atualmente. Confira as principais dificuldades e soluções no combate da covid-19 nessas comunidades
Consultoria: Centro de Estudos Periféricos e Gilson Rodrigues, presidente da União de Moradores e Comerciantes de Paraisópolis, comunidade da cidade de São Paulo.
Confira algumas das iniciativas do governo federal e dos estados
Veja exemplos de ações de auxílio e combate ao vírus
Associações de moradores têm campanhas na internet para arrecadar dinheiro e ajudar no combate à covid-19 nas comunidades. A União de Moradores e Comerciantes de Paraisópolis, de São Paulo — onde moram 100 mil pessoas —, por exemplo, contratou três ambulâncias e uma equipe de sete profissionais da saúde que ficarão disponíveis na comunidade 24 horas por dia durante três meses. Além disso, 420 moradores voluntários acompanham de perto 50 casas, verificando se há pessoas com sintomas ou pouco dinheiro para comprar comida. Para a alimentação, um grupo de 15 mulheres faz e distribui 2 mil marmitas por dia entre os moradores. A comunidade ainda pretende transformar duas escolas em hospitais temporários para atender 500 doentes.
De dez famílias brasileiras que moram na periferia, sete estão vivendo com menos dinheiro por causa da crise do novo coronavírus.
O número de casas sem infraestrutura adequada no Brasil ultrapassa os 11 milhões.
Nas periferias, 31 milhões de pessoas não têm acesso a uma rede geral de distribuição de água.
76% dizem que, com os filhos em casa sem ir para a escola, os gastos já aumentaram.
Os riscos à saúde trazidos pelo vírus são uma grande preocupação para a maioria (66%) dessa população, mas uma parcela ainda maior (75%) se preocupa com o dinheiro que deixará de ganhar. Sem trabalhar porque lojas e restaurantes, por exemplo, estão fechados, há o temor de não conseguir comprar itens básicos, como alimentos.
86% das famílias de periferias afirmam que não conseguiriam comprar alimentos se ficassem um mês em casa sem trabalhar. 32% preveem que será complicado comprar alimentos em menos tempo de quarentena: uma semana.
Fontes: Pesquisa do Instituto Locomotiva e do Data Favela, Tese de Impacto Social em Habitação, da Artemisia.
No estado do Rio de Janeiro, 13% da população vive em favelas e, em São Paulo, 7%. Os dois estados são os que concentram os maiores números de infectados pelo novo coronavírus no Brasil. Confira o depoimento de jovens moradores das comunidades sobre como a pandemia mudou a rotina deles.
“Quando o vírus chegou a Paraisópolis, minha família ficou bem assustada. Meus pais não tiveram a opção de ficar em casa: eles precisam sair para trabalhar. Quando chegam, vão direto para o banho. Meu pai já fez o cadastro para conseguir o auxílio emergencial e está esperando a resposta. Minha mãe ainda precisa se registrar. Eu tive que me isolar por conta da minha bronquite [doença respiratória], já que isso faz com que eu esteja no grupo de risco mesmo sendo criança. Fico em casa cuidando das minhas irmãs. Minha tia ficou sem trabalho depois que o coronavírus chegou e recebeu kit de higiene, assim como outros moradores que estão sem dinheiro, da associação dos moradores.
Aqui fica quase o dia todo sem água, que pode voltar a qualquer hora do dia, mas por bem pouco tempo! Como a gente está em casa, deixa todas as torneiras abertas e, quando escuta que caiu um pouco de água, a gente enche garrafas e baldes para garantir que à noite tenha algo.
O movimento nas ruas diminuiu bastante, mas ainda tem bares e padarias abertas e, na maioria, tem álcool em gel para quem vai. Os restaurantes que fecharam estão fazendo delivery e os entregadores trabalham de máscara. Espero que as pessoas se conscientizem mais e não saiam na rua e que essa doença acabe logo e não mate muitas pessoas.
Desde o começo da pandemia, acompanho as notícias no site da Organização Mundial da Saúde para me manter informado e informar meus amigos. Eu gravo vídeos curtos sobre cuidados com a doença e mando para as pessoas.”
Kayo Henrique G., 13 anos, mora em Paraisópolis, comunidade de São Paulo
“Eu e minha família estamos ficando em casa, lavando as mãos e usando álcool em gel. Minha mãe está de férias, então pode ficar sem trabalhar. Nosso dia a dia mudou muito aqui: ficamos mais juntos, brincamos mais, conversamos e estudamos on-line. Eu me sinto muito triste pela morte das pessoas com essa doença. Na rua tem pouco movimento: só de quem precisa sair para comprar algo e algumas lojas que ficam abertas porque as pessoas precisam trabalhar. Mas não tem nada de festa nem futebol. Sinto muita falta de sair com meus amigos, de ir para o parque brincar, para a escola e a igreja. Eu espero que no futuro as pessoas melhorem seu jeito de viver e se importem mais umas com as outras.”
Julia Cristina M., 10 anos, mora no Complexo do Alemão, comunidade do Rio de Janeiro
“Para nos proteger do coronavírus, eu e minha família estamos em casa e mantemos a higiene. Somos seis pessoas em casa, meu irmão é o único que trabalha no momento e conseguiu receber as férias antecipadas, então não precisa sair. As lojas estão fechadas e as pessoas não estão andando muito nas ruas. Aqui é difícil de achar álcool em gel… A gente se informa sobre a doença vendo os documentários na televisão. Eu estou achando essa situação muito ruim. Tenho medo de pegar coronavírus, porque tenho doença crônica, e passar para a minha família. Espero que achem a vacina para o coronavírus e que as aulas voltem logo.”
Natália Laila L., 11 anos, vive na comunidade do Parque Santa Cecília, em São Paulo
Fontes gerais da reportagem: Agência Brasil, Agência Mural, BBC, Catraca Livre, Corona nas Periferias, Cufa, Diário de Canoas, Folha de S.Paulo, G1, Mundo Negro, Nexo, Periferia em Movimento, Pública – Agência de Jornalismo Investigativo, O Povo, Outras Mídias, Redes da Maré, The Guardian, The New York Times, UNA-SUS, Unas Heliópolis, União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis e Voz das Comunidades.
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Muito importante, saber disso!
Reportagem muito instrutiva, bem elaborada , contendo informações muito importantes e necessárias que divulgam o que estão fazendo e o que pode ser feito para combater o espalhamento do novo coronavírus nas periferias. Recomendo esta leitura à todos : crianças, jovens e adultos.
achei muito interessante legal
legal 😎😎😎😎😎
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