Médica pediatra e moradora da cidade de São Paulo, Andréa Mansinho, 29 anos, é uma das voluntárias nos testes da vacina que a Universidade de Oxford, no Reino Unido, está desenvolvendo contra a covid-19. Um dos países escolhidos para o estudo, o Brasil pode ter até 10 mil voluntários nesse processo. À repórter mirim Maria Luísa A., 10 anos, Andréa contou o que a levou a se voluntariar e como tem sido participar dos testes.

#pracegover: Andréa veste uma blusa preta e uma jaqueta jeans por cima. Ao fundo, é possível ver que existe água. Ela sorri. Foto: arquivo pessoal

Como você se sente em participar do processo da vacina mais esperada do ano?
Eu me sinto feliz em poder participar de um momento tão significativo para a história. Estou esperançosa de que a pandemia acabará da melhor maneira possível: com todos vacinados e protegidos contra a covid-19!

Como foi o processo de escolha dos voluntários?
O processo seleciona profissionais que trabalham em ambiente hospitalar (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e profissionais da limpeza), ou seja, pessoas que estão expostas ao vírus. Essa parte do estudo da vacina avalia a eficácia dela. Isso quer dizer: a partir do momento em que a pessoa toma a vacina, qual é a chance de ela estar protegida do vírus? O estudo vacina os voluntários e avalia, ao longo de um ano, se as pessoas tiveram ou não a doença, além de dosar os nossos anticorpos (moléculas que atuam na defesa do organismo).

Por que você resolveu ser voluntária?
Porque sou uma pessoa saudável e, por isso, podia participar do estudo. E, principalmente, porque acredito na ciência! A vacina faz parte de um estudo científico. Todos os passos do projeto são feitos com base na investigação científica. Diante de tudo isso, eu me senti à vontade e resolvi virar voluntária.

Como funcionam os testes?
O vínculo e compromisso dos voluntários ao projeto dessa vacina que eu tomei dura um ano. Nesse período, eu fui entrevistada e, então, detectaram que eu não teria nenhum impeditivo para receber a vacina. Nesse primeiro encontro, eles dosam os anticorpos contra a covid-19 para se certificar de que eu não tive a doença antes. Quando recebem o resultado dessa dosagem, caso ela seja negativa (isto é, eu não tive a doença), há uma convocação para retornar e receber a vacina. Nesse dia, eles coletam exames novamente [para ver a amostragem de anticorpos antes de o voluntário receber a vacina] e a aplicam. Depois, temos que ficar lá por 30 minutos, aguardando para verificar se não há reação alérgica. Então, somos liberados. Em média, seis semanas depois, você toma a segunda dose da vacina e, daí em diante, passa a ter encontros com as pessoas do projeto ao longo dos meses. Nesses encontros, eles entrevistam os voluntários para saber como passamos no período e qual o grau de contato com o vírus que tivemos. Fazem perguntas do tipo: “Quantos pacientes com covid-19 você atende por semana?” e “o que você usa para se proteger?”. Em todas essas visitas, colhem nosso sangue, provavelmente para avaliar o nível de anticorpos produzidos pelo organismo contra o vírus. Esse é um estudo duplo cego: nem o examinador nem eu sabemos qual vacina eu tomei. Há dois grupos de voluntários: um que recebe a vacina contra a covid-19 e outro que recebe uma vacina placebo (ou seja, que não protege contra o vírus). Então, ao longo de um ano, o estudo vai avaliar se a chance de ter a infecção em quem tomou a vacina foi menor do que a chance de quem tomou o placebo.

Já tem previsão de quando a vacina será distribuída no Brasil?
A vacina será distribuída no Brasil quando esses estudos forem concluídos. Os órgãos nacionais de liberação de vacinas á estão preparados para liberá-las, sejam quais forem as vacinas [há várias sendo testadas em diversos países], assim que os estudos tiverem sido concluídos e provarem que elas são eficazes. Mas precisamos de tempo para avaliar os resultados comparativos entre os grupos [vacina e placebo].

Vocês receberam orientações sobre possíveis efeitos colaterais?
Sim! Na primeira dose, tive um pouco de mal-estar, dor no corpo e dor de cabeça. São sintomas leves, que podem surgir depois de tomar uma vacina. Na segunda dose, senti um pouco de dor no local de aplicação, mas nada muito grave. Vinte e quatro horas após a aplicação, já não sentia mais nada.

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#pracegover: a repórter mirim Maria Luísa usa camisa com estampa de folhas, nas cores verde, rosa e preta. Ela sorri. Foto: arquivo pessoal

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 158 do jornal Joca.

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