Nanette Blitz Konig nasceu no dia 6 de abril de 1929, em Amsterdã, na Holanda, e sobreviveu aos horrores do Holocausto, que matou milhares de judeus na Europa. Ela é a segunda dos três filhos do holandês Martijn e da sul-africana Helene e, até 1940, tinha uma vida comum e feliz (apesar da perda do irmão mais novo por problemas de saúde). Até esse ano, quando Hitler invadiu o país, a família Blitz morava em uma casa espaçosa, de três andares, Nanette estudava no chamado “primário” e cristãos e judeus se davam bem.

Da direita para a esquerda: Noah, Alexia, Nico, Nanette, Luca e Matteo.

Com a ocupação das tropas alemãs na Holanda, durante a Segunda Guerra Mundial, a situação da família de Nanette e de outros judeus ficou difícil. Aos poucos, eles foram perseguidos e excluídos da sociedade – perderam emprego, não podiam mais andar de bicicleta, usar transporte público, ir a parques e cinemas nem comprar comida.

Hoje, aos 88 anos, Nanette colocou no papel como foi viver esse período triste, perder a família (pai, mãe e irmão) e sobreviver aos trabalhos que os judeus eram forçados a fazer. Ela recebeu os repórteres mirins do Joca (Noah, Alexia, Nico, Luca e Matteo) na casa onde vive desde 1950, em São Paulo. Foi no Brasil que ela recomeçou a vida e lançou, recentemente, o livro Eu Sobrevivi ao Holocausto – O Comovente Relato de Uma das Últimas Amigas Vivas de Anne Frank (editora Universo dos Livros).

Entre as muitas histórias emocionantes da publicação, Nanette relata o encontro com a amiga Anne Frank a poucas semanas da morte de Anne. Em janeiro de 1945, depois de passar anos em Auschwitz, a colega de Nanette foi transferida com a irmã para o campo de concentração Bergen-Belsen, na Alemanha. Elas conversaram e deram apoio uma a outra. Leia mais na entrevista a seguir.

Por que sua família não podia fingir que vocês não eram judeus?

Tínhamos registros e certidões desde o nascimento. Nunca ninguém poderia ter previsto que seríamos perseguidos de tal maneira. Muitos judeus conseguiram se esconder, mas não poderíamos mudar nossas certidões.

Quais são as lembranças da amizade com Anne Frank?

Estudávamos na mesma sala – depois que os judeus foram realocados para escolas exclusivamente judaicas. Lembro-me de ter participado da festa de 13 anos de Anne, quando ela ganhou seu amado e posteriormente famoso diário [O Diário de Anne Frank, que se tornou livro].
Lembro de ter dado um broche de presente para ela. Em julho de 1942, a família Frank desapareceu. Eles se esconderam no anexo localizado na empresa do senhor Frank. No fim de junho de 1942, os nazistas decidiram enviar os judeus para campos de trabalho forçado na Alemanha. Em setembro de 1943, eles bateram à porta da família de Anne.

O que aconteceu naquele instante?

Levaram-nos para o campo de transição de Westerbork, na Holanda, e, meses depois, ao campo de Bergen-Belsen, na Alemanha. Meu pai e irmão ficavam nos barracões masculinos; minha mãe e eu, nos femininos. Dormíamos em beliches duros de madeira, forrados de palha.

Como era o dia a dia no campo de concentração de Bergen-Belsen para uma menina de 14 anos?

A rotina era a luta pela sobrevivência. Diariamente, passávamos por uma contagem (appel). Todos os prisioneiros precisavam participar, mesmo que estivessem doentes ou fracos demais para ficar em pé. A contagem também ocorria debaixo de chuva ou neve e podia durar horas e horas. Lembro de uma vez que estava tão frio que um prisioneiro teve os pés congelados e não houve jeito, teve que amputar os dedos. No campo não havia condições de higiene, tomávamos banhos frios e sem sabão. Quase não tínhamos comida. Também sofríamos por causa dos piolhos, que ficavam alojados na cabeça e no corpo todo. Muitas doenças se alastravam rapidamente, como tifo.

Como foi o reencontro com Anne?

Meus pais e meu irmão tinham morrido. Eu estava sozinha, debilitada, não pesava mais de 30 quilos. Reconheci Anne Frank do outro lado do campo. Foi um momento emocionante. Ela estava envolta em um cobertor, pois não aguentava mais os piolhos na roupa, e tremia de frio. Anne me contou sobre Auschwitz, o esconderijo de sua família e o diário que sonhava em publicar. Ainda encontrei Anne e sua irmã Margot algumas vezes, mas logo ambas foram contaminadas com tifo e faleceram.

A senhora dá o seu depoimento em escolas contando a sua história. Que mensagem quer passar?

Que os jovens se interessem pela política e pelos acontecimentos do Brasil e do mundo. Que leiam jornais e acompanhem o governo. Os jovens precisam ser atuantes e saber o que está acontecendo em seu país e no planeta.

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