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Vini Jr., do Real Madrid, durante partida contra o Valencia, na Espanha, em 21 de maio, quando o mais recente caso de racismo contra ele aconteceu. Crédito de imagem: Aitor Alcalde Colomer/Getty Images

De acordo com o Portal Geledés, do Geledés Instituto da Mulher Negra, racismo é um conjunto de práticas de determinada raça/etnia que, estando em situação de favorecimento social, coloca outra(s) raça(s) em situação desfavorável. O racismo acontece, por exemplo, contra negros e contra indígenas, e é crime no Brasil.

Atualmente, diversas iniciativas falam também de como é fundamental manter uma postura antirracista, com ações ativas de oposição ao racismo. Um projeto desse gênero vem do próprio Vini Jr., por meio de seu instituto. Criado em 2021, o Instituto Vini Jr. atua, entre outros pontos, com o antirracismo nas escolas. Desenvolvido em parceira com o professor Allan de Souza, o projeto, criado há quatro meses, já chegou a dois colégios públicos da cidade do Rio de Janeiro, com oficinas para formar professores sobre, por exemplo, a importância de existir uma educação antirracista. O objetivo é expandir a atuação para mais locais.

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O professor e rapper Allan de Souza, também conhecido como Pevirguladez. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Entenda o caso de racismo contra o jogador Vini Jr.

“O Meu Cabelo É Bem Bonito”

Allan de Souza, conhecido também como Pevirguladez, é um professor e rapper carioca que viralizou nas redes sociais, em agosto de 2022, com um vídeo em que aparece cantando a música antirracista “O Meu Cabelo É Bem Bonito”, de própria autoria, com seus alunos. “Vejo a música como uma ferramenta de grande importância com os estudantes. No ano passado, veio a circunstância de trabalhar música de maneira antirracista com as crianças”, disse Allan ao Joca.

Por meio de canções, o professor reforça a importância de que o tema seja tratado com pessoas de todas as idades. “A música tem um poder único no imaginário humano. Versos como ‘Deixe de bobagem, pretinho, quem foi que disse que você não é lindo?’ vão ficar com a criança durante toda a vida e fazer com que ela recorra a esse tipo de pensamento quando for atravessada por uma situação racista”, explicou. “Quando se tem noção de que o seu cabelo e nariz são bonitos, de que não há nada de errado, a reação é muito melhor do que quando não existe um trabalho nesse sentido.”

As ações de Allan em sala de aula se tornaram um show, que atualmente percorre escolas públicas no Rio de Janeiro. “O Meu Cabelo É Bem Bonito Tour promove a mensagem de que o antirracismo salva, o antirracismo cura. Devemos trabalhar isso na base, com as crianças, para ter uma geração, lá na frente, mais saudável na nossa sociedade”, conclui.

Clique aqui para ler a reportagem sobre racismo no futebol e o caso Vini Jr. na edição 207 do Joca.

O Clube do Joca pergunta

Integrantes da terceira turma do clube trouxeram questões para o professor Allan responder:

Como se conscientizar para o antirracismo?
Segundo ele, algumas maneiras são:

• Conhecer personagens e histórias do povo negro sem ser pela escravização (que fortalece o imaginário negativo, com os negros acorrentados, por exemplo).

• Mostrar que os negros também são descendentes de reis e rainhas, da África.

• Saber que a cultura negra é importante para todo o desenvolvimento e a identidade do Brasil.

Por que ainda existe racismo?
“Essa é uma herança escravocrata, com mais de 400 anos, e a sociedade brasileira vem atuando há pouquíssimo tempo para combater o racismo de forma eficaz. Ainda vamos precisar de muitos debates e da construção de muitas coisas para eliminá-lo do país. Vai demorar um bocado para haver uma geração em que o racismo não se faça presente”, afirma Allan.

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Em 21 de maio, Vini Jr. reage após ataques racistas de torcedores em jogo contra o Valencia, na Espanha. Crédito de imagem: Aitor Alcalde/Getty Images

Clique aqui para ler a edição 152 do Joca e conhecer alguns dos principais fatos da escravização no Brasil e qual é a relação disso com o racismo.

A seguir, confira a entrevista completa com o professor Allan de Souza.

O senhor ficou conhecido por causa de seu trabalho no Espaço de Desenvolvimento Infantil Carlos Falseth, com a música “O Meu Cabelo É Bem Bonito”. Isso já surgiu para desenvolver uma atitude antirracista na escola?
Desde que entrei para a educação, procurei trazer um pouco do repertório de mundo que eu tinha no meu dia a dia. Eu tenho uma relação com a música de mais de 20 anos. Então vi a música como uma ferramenta de grande importância para utilizar com os alunos. A minha linguagem é o rap e, recentemente, acabei entrando no universo infantil e acabei trazendo outra configuração da minha música, do meu rap, para levar essa linguagem para as crianças. Em particular na minha relação com a educação infantil, comecei trabalhando com literatura, que é a minha formação, sempre trazendo livros com enfoque antirracista, com personagens negros de uma maneira positiva, com representatividade. A pandemia interrompeu um pouco meu trabalho entre 2020 e 2021. Só no fim de 2021 é que voltei a trabalhar com as crianças e ter essa vivência prática de literatura antirracista. Em 2022 é que veio a circunstância de trabalhar a música de maneira antirracista com as crianças. E tudo ganhou uma proporção que eu não imaginava. Eu simplesmente estava pensando em fazer uma prática com os alunos utilizando algo que já alimento dentro do meu trabalho desde sempre.

O que é ter uma postura ou atitudes antirracistas?
Da mesma forma que uma criança sente quando um colega a chama de feia, ela sente quando outra criança diz que o cabelo dela é duro ou de bruxa, ou que se parece com macaco. É importante, em qualquer idade, saber que isso não pode, que não é algo certo. É preciso prezar sempre pelo respeito e entender que há uma diversidade enorme dentro do universo escolar, assim como dentro do nosso país, que foi constituído assim.

Como é o seu trabalho atualmente nesse sentido? O que é a O Meu Cabelo É Bem Bonito Tour?
É um show que eu já estou levando para as escolas públicas desde o início do ano. Com um repertório musical autoral, trago diversas questões relacionadas ao antirracismo, voltadas para o universo infantil e da educação, com turmas da pré-escola até o 5º ano. É um projeto que envolve a escola antes do show, com a colaboração dos professores para disseminar a questão do antirracismo, da importância da literatura negra dentro da escola, de um ambiente escolar em que a decoração também traga a diversidade do nosso país. É um projeto impactante para a educação antirracista. Hoje tenho mais de 50 pedidos de escolas querendo receber a tour, inclusive fora do Rio de Janeiro, como de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O objetivo da tour é promover a mensagem de que o antirracismo salva, o antirracismo cura, e a gente deve, na melhor forma, trabalhar isso na base, com as crianças, para ter uma geração, lá na frente, mais saudável na nossa sociedade.

https://www.youtube.com/watch?v=SU7NrWdMyR0
Apresentação do professor Allan em escola, com a música “Deixe de Bobagem, Pretinho”

Qual é a importância de a atitude antirracista começar a ser desenvolvida ainda nos primeiros anos da infância?
É fundamental. A música tem um poder no imaginário do ser humano que é único dentre todas as manifestações artísticas. O ensinamento musical vai acompanhar a criança durante a vida inteira. Versos como “Deixe de bobagem, pretinho, quem foi que disse que você não é lindo?” vão ficar no imaginário da criança durante toda a vida dela. O que vai fazer com que essa pessoa recorra a esse tipo de pensamento, de raciocínio, quando for atravessada por um movimento ou situação racista. Nisso entra o empoderamento: quando a criança já é empoderada, já tem essa noção de que o cabelo dela é bonito, de que o nariz dela é bonito, de que não há nada de errado com o corpo dela, a reação vai ser muito melhor do que quando ela não é trabalhada nesse sentido. É preciso trabalhar a questão de raça ainda na infância. Nós vivemos em um país em que a raça está presente desde o momento em que se nasce. E a criança vai percebendo na sua vivência, nos olhares, no comportamento dos adultos como isso vai distinguir os tratamentos. Se o assunto for trabalhado, a criança vai crescer de maneira mais segura e internalizada sobre aquilo que ela é neste mundo, sobre como pode reagir diante de qualquer situação.

Como as crianças podem ser antirracistas no dia a dia? Poderia dar dicas?
Algumas das formas são conhecer personagens e histórias do povo negro de uma maneira que não seja pela da escravização (que fortalece o imaginário negativo, com os negros sendo trazidos para o Brasil acorrentados), mostrar que nós somos descendentes de reis e rainhas também, saber que a cultura negra é importante para todo o desenvolvimento e a identidade do Brasil. Sempre ter contato com a presença do negro no país de maneira positiva. A criança branca também precisa entender que ela não é o centro do universo nem o personagem mais importante na sociedade, que existem outros que também são importantes.

O que fazer ao sofrer com racismo dentro da escola?
Primeiramente, contar para qualquer profissional da escola, mesmo que não seja o professor, se ele não estiver perto, ou seja, falar com um adulto. É o adulto quem vai agir. Um dos problemas do racismo acontece quando a gente pensa que não falar é uma solução. É o contrário. Quando se verbaliza sobre o racismo é que existe a oportunidade de modificação. Dentro das escolas, o melhor trabalho que os educadores podem fazer é prevenir o racismo, atuando desde a primeira infância.

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Comentários (7)

  • Aluno Junq 1

    8 meses atrás

    Junqueirópolis-SP, 22 de agosto de 2023. Queridos, Felipe Sali, Larissa Mariano e Maria Carolina Cristianini. A reportagem Especial "Racismo no futebol", edição nº 207, é muito importante! Racismo é crime, o que aconteceu com Vini Jr. e outros jogadores, infelizmente acontece no mundo todo. O movimento antirracismo é uma ótima iniciativa, aliás, adoramos o clipe da música "Meu cabelo é bem bonito". Atenciosamente, Alunos do 5º ano da Prof.ª Tábita Brandão, da E.M. Prof.ª Neyde Macedo Brandão Fernandes.

  • SME TS ALUNO 37

    8 meses atrás

    Top

  • SME TS ALUNO 37

    8 meses atrás

    Muito bom esse texto, porque ele ensina não ser racista, e ensina o que fazer quando sofremos racismo.

  • SME TS ALUNO 25

    8 meses atrás

    muitos bom esse texto, porquê ele ensina não ser racista, e ensina o que fazer quando sofremos racismo

  • Isadora Do Amaral Machado

    10 meses atrás

    Top

  • SME TS ALUNO 37

    8 meses atrás

    Legual

  • ecc7 ecc7

    10 meses atrás

    ola

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