por Martina Medina

Avril começou a praticar karatê na Venezuela aos 4 anos de idade e continua treinando e competindo no Brasil.

A venezuelana Avril D., 10 anos, fez uma longa viagem de ônibus da sua cidade natal, Maturim, até Boa Vista, Roraima, na fronteira entre a Venezuela e o Brasil. O caminho é cheio de paisagens bonitas, relata Avril. Segundo ela, a única coisa ruim foi ter acordado quando policiais revistaram o veículo no meio da noite.

Acompanhada pelos pais e pelo irmão, Avril, na época aos 8 anos, fugia da crise econômica e social que afeta o país, com falta de alimentos e altos índices de violência. “Minha mãe não aguentava mais, ela queria comer e me dar leite porque eu era bebê, mas não era sempre que conseguia”, conta. Como saiu de um país em crise, a família de Avril é considerada refugiada no Brasil.

Nos últimos sete anos, mais de 126 mil pessoas de outros países buscaram refúgio no Brasil. Só no ano passado foram 33 mil, a maioria formada por venezuelanos. Foram 17 mil venezuelanos que cruzaram a fronteira em 2017 – número que cresceu cinco vezes desde 2016. O estado que mais recebeu pedidos de reconhecimento de refugiados foi justamente Roraima. Fazendo fronteira com a Venezuela, essa é a principal porta de entrada dos venezuelanos no paísSaiba mais sobre os refugiados nesta matéria.

Sem comida
A maioria dos venezuelanos não consegue fazer as três refeições do dia – não há café da manhã, só almoço e janta. Há três semanas, quando chegou para se unir à família no Brasil, o avô de Avril se surpreendeu ao ver a mesa cheia de comida. “Ele perguntou se aquela comida era para a semana toda. A gente falou que era o almoço para a nossa família de cinco pessoas e ele ficou emocionado”, conta a garota.

Karatê
Apesar de não ser tão popular no Brasil quanto na Venezuela, o karatê continua presente na vida de Avril por aqui. Ela ganhou uma bolsa para praticar no país. “Eu luto Karatê desde os 4 anos e já ganhei muitas medalhas – tenho umas 60 no total”, contabiliza. Faixa verde no esporte, ela foi selecionada para competir no Rio de Janeiro em julho e já está se preparando.

Aulas e brincadeiras
Avril se sente tão em casa no Brasil, que já acha mais fácil falar português do que espanhol – o idioma oficial da Venezuela. Para ela, a escola no Brasil é melhor e diferente da venezuelana porque tem merenda e boas aulas.

Com seus amigos brasileiros e venezuelanos, ela assiste às aulas e brinca todos os dias. Sua brincadeira preferida é estátua, que na Venezuela é chamada de “paralisado” ou “encantado”. Já a matéria que mais gosta é Ciências. “Eu gostei de aprender que na parte de trás do cérebro fica a visão.”

Adaptação
“Não sinto falta da Venezuela, só de parte da minha família que ainda está lá, como a minha tia e a mãe dela e minha avó, que não pode viajar porque sofre da pressão”, diz. “Se já era difícil há dois anos quando eu morava lá, imagina agora que a crise está muito pior! Eu gosto daqui porque tem mais vida e comida. Aqui, a gente pode viver.”

A única coisa que Avril não gosta é o fato de a maioria das calçadas de Boa Vista não ser asfaltada, o que dificulta as caminhadas pela cidade. Por outro lado, as ciclovias facilitam os passeios de bicicleta da pequena venezuelana. “Quero continuar morando no Brasil e mudar, um dia, para Santa Catarina [no sul do Brasil] porque eu gosto muito do frio”, afirma Avril, revelando ainda a “estranha” mania de dormir sem coberta no frio e de se cobrir quando está quente.

Confira o depoimento completo de Avril e de outras quatro crianças refugiadas aqui.

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Comentários (3)

  • Gabriel Nunes Teodoro Santana

    2 anos atrás

    Legal

  • Davi Costa Oliveira

    5 anos atrás

    Bem iradasso.Queria ve-la algum dia em olhos.Qual a materia que aparecem essas criancas.

  • Jornal_Joca

    5 anos atrás

    Oi, Davi! Que legal que gostou! A matéria com os depoimentos completos das crianças é a seguinte: https://jornaljoca.com.br/portal/conheca-a-historia-de-5-criancas-refugiadas-no-brasil/

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