Por Martina Medina

“Onde eu morava na Angola era muito perigoso, havia muita bandidagem na rua, como no Brasil. Mas lá, a pessoa vai se estragando. Muitas amigas minhas estavam saindo com gente que não era legal”, conta Vânia Sofia G., 16 anos, que saiu de Luanda para viver em São Paulo.

No total, 8% dos refugiados que vivem no Brasil vêm da Angola. Eles se refugiam de conflitos armados que se arrastam há mais de trinta anos em seu país. “Eu fugi porque não queria me tornar alguém diferente do que eu sou”, justifica Vânia, falando do seu desejo de ser cantora, modelo e atriz. “Estou no segundo ano do ensino médio em uma escola estadual e quero fazer um curso de teatro para realizar o meu sonho”, diz.

Viagem
Seu irmão mais velho já morava no Brasil com a mulher quando convidou-a para vir para cá. A mãe de Vânia apoiou a viagem e assinou os documentos necessários para que ela viesse sozinha de avião. “Eu vim e decidi ficar”, diz.

O irmão se mudou para a França e sua outra irmã chegou em janeiro deste ano. “Ela mora com uma amiga no bairro de Santana e eu em um abrigo em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo.”

Oportunidades
Nem tudo saiu como Vânia imaginava. “Sempre fui fã do Brasil, mas não foi fácil chegar em um país onde não conhecia ninguém e ter que construir tudo de novo. Conseguir um emprego é difícil, o atendimento nos hospitais é demorado e a escola do Estado não é muito boa”, critica.

Segundo ela, na Angola, a escola é mais difícil: todo mundo estuda porque a matéria ensinada em um dia cai em prova no dia seguinte. “No Brasil, muito aluno termina o ano sem saber o que aprendeu porque só tem apostila para ler.”

Vânia também tentou trabalhar com vendas e telemarketing, mas as condições de trabalho eram muito ruins e ela saiu. Para ela, a crise econômica brasileira torna mais difícil encontrar um bom emprego. “A gente tem que se virar com o que aparece. O Brasil tem muitas oportunidades mas é difícil chegar lá.”

Preconceito
Outra dificuldade enfrentada por Vânia foi o racismo. Ela conta que pessoas já se levantaram de seus assentos no metrô ou no ônibus quando ela se sentava ao lado. Em outra ocasião, uma colega na escola, também negra, agiu com preconceito contra ela.

“Eu nem ligo se não gostam de mim ou se têm preconceito. Cada um na sua. Eu sou assim, minha cor de pele é essa, essa é a minha vida e não vou mudar”, afirma. “Até agora não refiz minha vida no Brasil. Na Angola eu tinha amigas em que confiava, aqui é tudo novo. Ainda tenho que saber em quem confiar e como.”

Confira o depoimento completo de Vânia e de outras quatro crianças refugiadas aqui.
Saiba mais sobre a situação dos refugiados no Brasil e no mundo nesta matéria.
Clique aqui e entenda a diferença entre refugiado e imigrante.

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