Em fevereiro, o Joca foi até Porto Velho, capital de Rondônia, para entender a situação de alunos que ficaram sem transporte escolar — e sem aulas — por quase dois anos na zona rural da cidade
Alunos em todo o Brasil estão há cerca de dois meses sem aula por causa do novo coronavírus. Mas imagine ficar quase dois anos sem ir para a escola? Foi o que aconteceu com Davi L., 9 anos, e os outros 253 estudantes da escola municipal Deigmar Moraes de Souza, em Porto Velho, capital de Rondônia, entre 2018 e 2019. “Já era para eu estar no 5º ano, mas ainda estou no 3º”, reclama o estudante. Cerca de 3 mil crianças e jovens matriculados em instituições municipais e estaduais da cidade também foram afetados pela falta de aula em algum momento ao longo desses dois anos.
O problema não teve nada a ver com a atual pandemia, e sim com a falta de transporte escolar de maio de 2018 a outubro de 2019, principalmente na zona rural da cidade, onde as crianças chegam às escolas por estradas e rios. O serviço ficou paralisado depois que a Polícia Federal encontrou irregularidades nos contratos entre a prefeitura de Porto Velho e as empresas das voadeiras (pequenas lanchas) e dos ônibus que transportavam os estudantes. Segundo a investigação, foram desviados 20 milhões de reais do Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (Pnate).
Em outubro de 2019, o Ministério Público tornou o governo de Rondônia responsável pelo transporte escolar de Porto Velho. De lá até janeiro deste ano, o serviço de transporte fluvial (por rios) foi normalizado em todas as escolas, que puderam finalmente retomar as aulas. Mesmo assim, em 2020, quase 3 mil alunos que dependem do transporte terrestre continuaram sem aula pela falta de manutenção dos ônibus escolares, que estão em mau estado para enfrentar as estradas de terra.
A prefeitura de Porto Velho prometeu comprar e colocar para circular uma frota própria de 146 ônibus escolares em fevereiro, mas o prazo foi adiado para abril, quando foram entregues 36 ônibus novos — o restante ainda não teria chegado por problemas de entrega causados pelo novo coronavírus, segundo a prefeitura. Desde o dia 18 de março, as aulas estão suspensas na cidade e no estado em decorrência da pandemia. Faltavam dez dias para que Davi L. recuperasse o conteúdo perdido em 2018 e finalmente começasse o 4º ano.
Viagem no tempo
As aulas na Deigmar voltaram em janeiro de 2020, mas o conteúdo dado ainda era de dois anos antes. Para recuperar o tempo perdido, os alunos passaram a repor aulas de manhã e à tarde. “Não dá para repor todo o conteúdo. Definimos o que é mais importante e damos nas aulas de reposição, que acontecem no contraturno três vezes por semana”, afirmou a professora Delinalva de Oliveira. A prioridade tem sido repor as disciplinas de leitura, escrita e matemática.
De acordo com documento da Secretaria da Educação de Porto Velho, a reposição dos anos perdidos deveria ser concluída ainda em 2020, o que, na opinião dos professores da Deigmar ouvidos pelo Joca, é impossível de ser feito. A previsão é de que o ano letivo de 2019 comece em maio de 2020 e de que o ano letivo de 2020 só tenha início em outubro, segundo o diretor Evaldo Monteiro de Oliveira. “Creio que só em 2022 vamos começar o ano certinho”, diz. Agora, será preciso levar em conta também o fechamento das escolas pelo novo coronavírus.
Por terra e água
Morador da comunidade Cujubinzinho, Davi L. leva 15 minutos de voadeira ao longo da margem do rio Madeira até a escola municipal Deigmar Moraes de Souza. Localizada a 40 km do centro de Porto Velho, a instituição é a única escola de ensino fundamental que atende sete comunidades ribeirinhas da região do Cujubim Grande.
Nem Ludmila C., 16 anos, que vive a cinco minutos de caminhada da escola, escapou de perder as aulas. Como a maioria dos alunos depende de transporte e a expectativa era de que o problema fosse resolvido logo, a escola optou por interromper as aulas para todos até que o serviço fosse totalmente normalizado. “Fiquei desanimada. Queria terminar o ensino médio com 18 anos, mas tenho 16 e ainda estou no 9º ano”, conta Ludmila, que terá que adiar o sonho de cursar psicologia.
O problema do transporte levou 52 alunos da Deigmar a mudar de escola — e, algumas vezes, até mesmo trocar o campo pela cidade para não perder mais aulas. Dois decidiram parar de estudar de vez.
Dos 254 alunos do colégio, 109 vão à escola de voadeira, 32 dependem de ônibus escolar e o restante vai a pé ou de carro. Sete barcos e dois ônibus oferecidos pelo poder público atendem alunos e professores da escola.
Raio X de Porto Velho
Área: 34 mil km² (a maior capital do país)
População: 529 mil pessoas (92% urbana e 8% rural)
Ano de fundação: 1907 (113 anos)
Porto Velho
Estudantes sem aula por falta de transporte escolar*
2018 2.594
2019 3.889
2020 2.968
Em 2020, 21 escolas municipais ainda não concluíram o ano de 2019 em Porto Velho.
*Os números se referem à soma dos dados de escolas estaduais de Porto Velho obtidos pela Lei de Acesso à Informação (LAI) no governo de Rondônia e em informações divulgadas nos canais oficiais da prefeitura de Porto Velho, já que esta enviou dados incompletos e incorretos por meio da LAI.
O que são comunidades ribeirinhas?
São conjuntos de famílias que vivem na beira de rios, sobrevivendo de agricultura, criação de animais, extrativismo (de castanha e açaí, por exemplo) e pesca. Os rios são como ruas: é por eles que os ribeirinhos se locomovem. Essas comunidades são reconhecidas como populações tradicionais pelo governo brasileiro desde 2007. Como dependem da terra e do rio para a sobrevivência, ajudam a preserva
Fonte: estudo “Ribeirinhos, desenvolvimento e a sustentabilidade possível”, da pedagoga Josélia Gomes Neves (Fundação Universidade Federal de Rondônia).
Educação no campo
A Constituição Federal (conjunto de leis seguidas pelo país) garante educação e transporte escolar a todas as crianças e jovens no Brasil. Mas, nas áreas rurais, o acesso a esses direitos é menor do que nas cidades. A diferença também existe entre a Região Norte e as demais regiões do país.
Porto Velho
Crianças com atraso de dois anos ou mais em relação à série em que estão (1º ao 5º ano)
Na cidade: 1 a cada 10 estudantes
No campo: 2 a cada 10 estudantes
Brasil
Crianças com nível suficiente na avaliação da leitura
Na cidade: 5 a cada 10 estudantes
No campo: 3 a cada 10 estudantes
Fontes: Censo Escolar de 2015 e 2017, Qedu, IBGE/Pnad Contínua – Elaboração: Todos Pela Educação, Inep.
Jovens ribeirinhos
“A falta de transporte prejudicou muito a gente. Já era para eu estar no 7º ano, mas continuo no 5º… Levo 50 minutos de barco para chegar à escola. O barco é bom, só não pode acelerar muito, senão dá problema. Então ele vai muito devagar… No tempo sem aula, pulei corda, joguei pingue-pongue e futebol.” Kaline S., 14 anos, mora na comunidade ribeirinha de São Miguel
“Já era para eu estar no ensino médio, em outra escola, mas continuo no 8º ano. Gosto muito de viver na minha comunidade. Lá, a família fica toda reunida, tem a roça e a pesca. No tempo sem aula, eu ajudei meus pais na roça e a levar frutas para vender nas feiras da cidade. Na cidade não tem nada para fazer — só se trabalhar e ganhar dinheiro dá para comer e sair para passear por lá. E também é ruim de sair na rua porque não para de passar carro! Eu quero ir para a cidade fazer faculdade, mas volto para a minha comunidade assim que terminar os estudos.” Cleyton R., 18 anos, mora na comunidade de Silveira
Esta reportagem foi produzida por meio de bolsa concedida pelo edital de Jornalismo de Educação 2019, com apoio da Jeduca e da Fundação Itaú Social – e publicada originalmente na edição 149 do jornal Joca.
Espero que esses estudantes consigam voltar a estudar nas escolas logo! :-)
oi gostei
muito legal
É muito assustador ver pessoas da sua família,amigos e pessoas que vc não conhece,morrendo de coronavírus!!Não poder sair de casa,não poder passear,sair,abraçar ninguém,é muito triste!!Tem pessoas que não estão nem aí para a pandemia,falam que isso é brincadeira,mas NÃO é!!Eu e minha família estamos fazendo quarentena desde março!!Ficar 9 meses sem sair de casa,é muito assustador!!Eu fui fazer prova na minha escola,fiquei muito feliz de ver minhas amigas,fiz todas as recomendações,usei máscara o tempo TODO,higienizei minhas mãos,antes e depois de fazer a prova e depois de sair da escola!!Então façam a quarentena certinha,usem álcool em gel,usem máscara,evite aglomerações,façam distanciamento social,façam isolamento social e se sentirem algum sintoma,procure um médico ou um posto de saúde!!
Imagina dois anos sem ir para escola eu que tô só alguns meses já tô com muita saudades espero que 2021 seja muito feliz não vejo a hora de voltar para escola logo e que essa pandemia acabe de vez
Deve ser muito triste ficar 2 anos sem ir na escola, pois alguns meses que não fui a escola por causa dessa pandemia fiquei muito triste com isso então imagino como deve ser difícil pra essas crianças Mas infelizmente essa é a realidade de algumas crianças, mas espero que essa pandemia acabe logo e que esse problema do transporte seja resolvido e tudo volte ao normal.
É muito triste imaginar dois anos sem ir a escola, pois esse ano que fiquei meses já senti muito e não vejo a hora de tudo isso acabar e poder voltar, as aulas presenciais é bem melhor, estamos sofrendo com a pandemia, os professores também, então dois anos sem ir na aula imagino que as crianças não conseguem acompanhar, tomara que esse problema de transporte seja resolvido logo, e que a pandemia acaba de vez.
Eae lucas Oi eu queria sair um pouco de casa e aproveitar o tempo com minha família mas tbm ia querer aproveitar o tempo na escola kkkk:)
EAE LUCAS
essa reportagem me ajudou no trabalho da escola
Eu adoro as reportagens do Jornal Joca
Gostei muito da reportagem.
Eu gosto muito do Jornal Joca :-)
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