por Helena Rinaldi e Joanna Cataldo

Em 2021, o Dia dos Pais será comemorado em 8 de agosto. Entretanto, nem todas as famílias celebram a data. De acordo com a Associação Nacional dos Registradores Civis de Pessoas Naturais (Arpen), uma a cada 16 crianças nascidas no Brasil possui apenas o nome da mãe na certidão de nascimento – o que quer dizer que, oficialmente, grande parte dos jovens é criada apenas pela mãe. 

Por isso, pensando que, por várias razões, algumas pessoas podem não ter pais ou mães presentes no dia a dia, várias escolas ao redor do Brasil decidiram substituir as comemorações de Dia das Mães e Dia dos Pais por datas que celebram todos os tipos de famílias, como o Dia da Família ou o Dia de Quem Cuida de Mim. 

Para Marta Gonçalves, psicóloga e professora do Instituto Singularidades, esses eventos que celebram configurações familiares distintas são formas de atender às necessidades de diversas crianças e adolescentes. “Alguns jovens foram abandonados pelos pais, outros perderam os pais por falecimento e vivem com a avó, por exemplo, entre uma série de situações. O Dia da Família ou de Quem Cuida de Mim é uma tentativa de contemplar os diversos formatos de família que existem no mundo”, explica. “Para quem não tem pais presentes, é positivo porque o aluno vai se sentir acolhido. Já para quem vem de uma família tradicional (com pai e mãe), vai ser bom também, para aprender sobre os variados tipos de família e acabar com o preconceito de que o único que existe é aquele em que há um pai e uma mãe.” 

Celebrações nas escolas 

No Colégio Franciscano Pio XII, em São Paulo, há mais de dez anos as celebrações de Dia dos Pais ou das Mães foram substituídas pelo chamado Dia da Família, data em que alunos e seus parentes (pais, avós, tios, irmãos, entre outros) realizam celebrações, jogos e atividades de música, dança, contação de histórias e esportes.

“Com o Dia da Família, todas as famílias são contempladas e recebem o mesmo acolhimento e atenção”, diz Maria Aparecida Scognamiglio, coordenadora da pastoral da escola. “Antes da pandemia, realizávamos o evento presencialmente. Ao fim, fazíamos um gostoso piquenique nos bosques do colégio – as pessoas estendiam as toalhas no chão, era maravilhoso… Neste ano, vamos ter que fazer a celebração de forma remota, mas faremos o possível para que a gente tenha um momento de alegria e ternura.”

Marcado para acontecer em 14 de agosto, o Dia da Família on-line terá a participação de alunos da educação infantil ao 5° ano e dinâmicas parecidas com as realizadas nos eventos presenciais. Para a estudante Rafaela, de 9 anos, a data é uma oportunidade para se divertir com a família e fazer atividades que agradam todos os parentes. “Nós vamos participar do Family Bingo – eu e os meus familiares amamos jogar esse jogo! Além disso, eu vou participar de uma oficina que chama Árvore dos Sentimentos, em que usamos garrafa, gravetos e folhas de papel colorido para escrever os nossos sentimentos. O Dia da Família é muito legal!”

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Laerte José dos Santos, em Osasco (SP), o Dia de Quem Cuida de Mim já é comemorado por lá há alguns anos, mas precisou passar por mudanças por causa da pandemia do novo coronavírus. “As famílias sempre estiveram presentes nos eventos da escola, mas neste momento não teríamos como fazer assim. Então decidi fazer uma releitura de um painel que foi feito na creche do meu filho, que fazia uma homenagem aos pais – e, como nem todas as crianças têm pais, tiramos a palavra pai e escrevemos ‘sempre seguirei seus passos’, porque as crianças vão seguir as pessoas que são importantes para elas”, explica a professora Maricler Ferreira da Silva Reis.

Para a coordenadora pedagógica do Colégio, Carla Thamara, a comemoração é importante para os alunos, desde pequenos, conhecerem os diversos tipos de família. “Há seis anos, quando entrei na Emef Laerte, fiquei me perguntando por que o nome Dia de Quem Cuida de Mim. Conversando com as famílias, os professores e a gestão, entendi que ‘quem cuida de mim’ é aquela pessoa que te coloca para dormir, que faz sua comida com amor e carinho, que manda uma mensagem no meio do dia, que te pega na porta da escola… Ou seja, é quem oferece cuidados básicos”, diz.

Por isso, o objetivo é mostrar que o amor está presente em vários formatos de famílias: “Essa data é uma homenagem para aquela vovó, aquele vovô, aquela tia, aquele técnico dos abrigos e todas as outras pessoas que realmente cuidam e se importam com as pessoas”.

Já na Escola Estadual Henrique Dumont Villares, em São Paulo (SP), a ideia é mostrar que as pessoas que cuidam devem ser celebradas todos os dias do ano. “Não existe um dia fixo para o Dia do Cuidar, porque não queremos que as coisas sejam feitas apenas naquela data. Nós colocamos durante o ano inteiro esse momento do ‘cuidar’: nas reuniões de pais sempre inserimos alguma reflexão sobre isso e mesmo no Dia dos Pais e das Mães sempre propomos uma reflexão sobre quem cuida, porque quem cuida também precisa ser cuidado”, explica a professora Aretha Tagliari.

Foi percebendo que os dias que celebram os pais e as mães não são comemorados por todos os estudantes que o colégio resolveu fazer a mudança. “Quando chegavam essas datas, sempre havia aqueles alunos que até faziam as lembranças e as atividades [para presentear as famílias], mas relatavam o quanto era doloroso para eles. As datas comemorativas são muito complicadas”, diz Aretha. “Decidimos enfatizar o ‘cuidar’, porque ser mãe ou pai é uma função – e quem exerce essa função nem sempre é uma mãe ou um pai. É mais do que garantir alimentação, roupas e etc., é conduzir por um caminho e dar um exemplo”, completa.

*Reportagem atualizada em 10 de agosto, às 16h37.

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