Texto enviado para o Joca em 1º de julho de 2020

Para saber mais sobre como os hospitais e médicos estão lidando com a higiene nessa pandemia, entrevistamos o doutor Luis Claudio Celentano Heitzmann, médico urologista.

Por que lavar as mãos e tomar banho são tão importantes?
Lavar as mãos e tomar banho são importantes porque as mãos são os veículos mais frequente de transmissão de doenças. Muitas doenças são transmitidas pelas mãos sujas e, às vezes, elas não estão sujas de forma visível, mas estão contaminadas. Então você tem que ter o hábito de lavar as mãos, mesmo quando você olhar para elas e achar que estão limpas, porque a quantidade de bactérias, vírus e fungos que há nas mãos é muito grande, pois encostamos em várias coisas, como maçaneta, carro e no contato que a gente tem com as pessoas, então a transmissão é muito alta.

Nós só não ficamos mais doentes, porque o nosso sistema imunológico é muito forte, muito inteligente, está toda hora trabalhando e toda hora se contaminando. Um dos mecanismos mais eficientes para evitar a transmissão de doenças é pela lavagem das mãos com água e sabão, só isso, na verdade, é fundamental.

Tomar banho entra nessa questão de higiene, porque quando você toma banho e se lava com água, sabão e xampu, você também está removendo bactérias. Então não é só sobre o bem-estar, e sim uma questão de higiene, para evitar que você fique com esses fungos, bactérias e vírus e que você não os passe para outras pessoas.

O álcool em gel é tão eficiente quanto lavar as mãos?
O álcool em gel não é tão eficiente quanto a água e sabão, na verdade, a orientação é que a gente lave as mãos frequentemente com água e sabão. O álcool em gel é um substituto para quando você não tiver uma pia com água e sabão perto para fazer a higiene. Mas nunca devemos trocar o hábito de lavar a mão pelo álcool. Quando estiver com sujeira visível, você é obrigado a lavar as mãos com água e sabão, mas quando você não tem sujeira visível, pode usar o álcool. Entretanto, ele não é tão eficiente quanto a lavagem correta das mãos, que também não é lavar a mão em 5 segundos com um pingo de sabão. O tempo adequado é de 30, 40 segundos e tem a maneira correta de fazer a lavagem. Essa lavagem, sim, é eficiente.

Hábitos de higiene eram comuns antigamente?
Antigamente, não havia hábitos de higiene. Se pensar que hoje temos banheiro, que a gente lava as mãos numa pia, que a gente senta numa privada para fazer as necessidades… Mas na Idade Média não havia isso, as pessoas pouco lavavam as mãos, pois não sabiam que existiam bactérias ou vermes, isso foi acontecer muito tempo depois. O conceito inicial de que há bactéria e vírus nas mãos e que doenças poderiam ser transmitidas pelas mãos surgiu em 1847, por intermédio do médico Ignaz Semmelweis. Antes disso, ninguém lavava as mãos, nem enfermeiros, médicos, nem mesmo antes de fazer cirurgias. As pessoas não viam a necessidade de lavar as mãos, só lavavam quando aparentavam estar sujas, mas normalmente as mãos não estão visivelmente sujas, porém estão extremamente contaminadas.

Antigamente, não tinha esse conceito, então eles pouco lavavam as mãos, e também as questões de higiene não estavam relacionadas a necessidades fisiológicas, pois as pessoas faziam necessidades em um buraco no chão, limpavam-se com o que tinha, normalmente folhas, então a higiene era muito precária. Banho também não era uma coisa muito frequente. Quem tomava banho, geralmente, era o pessoal mais rico, as autoridades que viviam nas casas mais abastadas, nos palácios, mas mesmo assim não era muita coisa, pois não havia chuveiro com água corrente. As pessoas colocavam água em bacias para se banhar ou até faziam aquelas banheiras de imersão, mas a água não era trocada, era uma água muito contaminada, pois todo mundo tomava banho lá.

Então, os hábitos de higiene eram muito ruins, por isso muitas pessoas morriam por doenças que hoje não nos matam mais, já que temos hábitos de higiene melhores.

Quais as medidas o hospital normalmente toma com a higiene?
As medidas que o hospital normalmente toma com a higiene são grandes.  Além de fazer a limpeza normal, as instituições tomam alguns cuidados extras. Eles fazem um tipo de limpeza nos quartos quando o paciente fica internado que se chama limpeza terminal, em que eles limpam e lavam todas as paredes com produtos específicos e desinfetantes. Limpam a cama, o colchão, todos os materiais que há dentro do quarto. Nos corredores eles costumam limpar o chão e as paredes também. Então, a higienização é bem rigorosa, tem de ser feita diariamente e toda vez que entra e sai um paciente do quarto.

Quais medidas de higienização foram tomadas com a pandemia?
Com a pandemia esse tipo de higiene ficou ainda mais rigoroso. Além de fazer tudo isso que já fazem, eles utilizam produtos específicos, como álcool 70% na limpeza dos materiais, das portas, das maçanetas e do banheiro que o paciente usa. Eles passaram a fazer isso de maneira mais frequente, mais vezes ao dia e com um rigor maior.

Como vocês fazem a higienização dos instrumentos cirúrgicos após o uso?
Os instrumentos cirúrgicos, depois de utilizados, são colocados em uma caixa. Então, os enfermeiros, que são especializados nisso, procedem com a limpeza. Eles lavam com água e sabão e usam uma escovinha para tirar todas as sujeiras que ficam grudadas. Depois disso, normalmente deixam esse material de molho dentro de uma solução antisséptica por um tempo. Depois, os enfermeiros tiram, lavam em água corrente, e aí o instrumento está aparentemente limpo, mas ainda está contaminado com bactérias e fungos do ambiente, então não pode ser utilizado dessa forma.

Assim, os instrumentos são colocados em uma autoclave, que, com o calor ou com um produto químico, o óxido de etileno, mata todos os vírus, bactérias e fungos que ali estiverem. Então esse material está esterilizado. Quando é retirado da autoclave, é guardado numa caixa específica, que é fechada, embalada e vai ser utilizada em outra cirurgia. Assim é feita a desinfecção dos materiais cirúrgicos.

Quais são os protocolos que os médicos devem seguir diariamente com limpeza?
O principal hábito de higiene que os médicos têm, de maneira geral, é a lavagem das mãos. Nós devemos lavar as mãos entre um atendimento e outro no consultório. O ideal é que o paciente veja que você está lavando as mãos, porque, além de conversar, você examina, toca. Então, nós podemos transmitir uma doença de um paciente para o outro.

Entre todos os atendimentos é obrigatório higienizar as mãos, além das lavagens que fazemos comumente em outras situações, como antes de se alimentar, ao chegar em casa etc. Essas rotinas são para todos e para os médicos, além disso, tem essa lavagem frequente das mãos entre um atendimento e o outro. Quando o médico vai fazer uma cirurgia, tem que fazer uma lavagem diferente, bem mais rigorosa.

Com a pandemia fomos orientados a usar máscara, óculos de proteção, uma touca também para não contaminar o cabelo e um avental que a gente usa por cima para evitar a contaminação da nossa roupa. Mas, no geral, a medida de higiene mais comum entre os médicos é, realmente, lavar bem as mãos, que são as maiores vias de transmissão de doenças tanto no ambiente hospitalar como fora.

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