Ao andar pelas ruas, você já deve ter visto pessoas com carroças. São os catadores de resíduos, que circulam pelas cidades recolhendo lixo com suas carroças para, então, levar os itens até pontos de descarte adequado — ou seja, locais em que esses materiais serão reciclados ou utilizados sem prejudicar o meio ambiente. Em troca, os catadores ganham dinheiro por cada item que entregam.

Esses trabalhadores, no entanto, enfrentam uma rotina difícil: puxam carroças pesadas, ganham pouco e sofrem com o preconceito das pessoas. Para ajudá-los a ter melhores condições de trabalho e de vida, em 2007, foi criado o projeto Pimp My Carroça, que já ajudou mais de 2 mil catadores, em 50 cidades. À repórter mirim Ana Clara F., 14 anos, de São Paulo, Elissa Fichtler, da equipe do Pimp My Carroça, contou mais sobre a iniciativa. Confira.

#pracegover: Elissa (de camiseta azul-clara) aparece ao lado do catador seu Eulei (de cabelo branco) e de dois voluntários do projeto. Junto a eles, um cachorro de pelos pretos. Foto: divulgação

Como o projeto começou?
Foi com um grafiteiro chamado Mundano. Um dia, ele encontrou um catador e perguntou se podia fazer uma pintura na carroça dele. O catador pediu que ele pintasse uma frase que chamasse a atenção das pessoas. Mundano escreveu: “O meu trabalho é honesto. E o seu?”. Depois de duas semanas, o catador reencontrou o grafiteiro e disse que percebeu uma mudança muito grande na forma como era tratado nas ruas. As pessoas buzinavam menos para ele, faziam perguntas (quem tinha pintado a carroça? Qual era o nome dele?). Então, Mundano percebeu que a arte poderia ser uma maneira de trazer reconhecimento para os catadores. Por quase cinco anos, ele pintou carroças por todas as cidades em que passava. Até que, em 2012, percebeu que sozinho não conseguiria gerar um impacto muito grande. Assim, surgiu o movimento Pimp My Carroça.

O foco do projeto mudou ao longo dos anos ou continua o mesmo?
Conforme fomos escutando as opiniões dos catadores, criamos programas diferentes. Hoje, temos mais ou menos 14 programas que atuam de maneiras distintas. Tem o Cataki, um aplicativo que conecta catadores a pessoas que produzem lixo; o Cataflix, canal no YouTube em que catadores falam para catadores; e o Carroça do Futuro, que visa fazer com que as carroças sejam movidas a energia elétrica.

Que resultados o projeto já alcançou?
Alguns catadores dizem que nunca mais sofreram acidentes em uma descida, pois agora o freio está instalado, ou que os carros não batem mais na traseira da carroça, graças a faixas que refletem a luz e a deixam visível. Quando a gente fala sobre segurança, também fala de dar para eles boné, luva, capa de chuva… Agora, com a pandemia, também estamos dando máscaras, kits de água e sabão… Nós também temos programas que os ajudam a ganhar mais dinheiro com o trabalho. Uma pesquisa mostrou que o aplicativo Cataki aumentou em 70% a renda deles.

Como o aplicativo funciona?
Ele faz matches entre catadores e pessoas que moram em lugares em que a coleta seletiva não passa — o que é muito comum no Brasil, já que só 6% das ruas recebem serviços de coleta seletiva. Você pode usar o aplicativo para chamar um catador perto de você, que vai retirar os resíduos recicláveis. Ele, então, levará os resíduos para locais que farão o descarte adequado desses itens. Esses pontos pagam os catadores pelos resíduos.

O que fazer para dar visibilidade ao trabalho dos catadores?
A primeira coisa é separar os resíduos que você produz entre secos [garrafas, pacotes, entre outros] e orgânicos [restos de comida, por exemplo]. Depois, temos que começar a valorizar mais os profissionais que são desvalorizados, como catadores, garis, diaristas… Imagine o que aconteceria com uma cidade se ela ficasse um mês sem esses trabalhadores? Mas falando especificamente dos catadores: quando passar por eles, dê “bom dia”, “boa tarde” ou, se estiver no carro, não buzine. Aquele profissional está trabalhando, precisa fazer esse serviço para garantir a sobrevivência dele. Além disso, eles fazem um trabalho muito
importante para a sociedade, coletando o lixo jogado por aí.

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#pracegover: Ana Clara veste camiseta branca com o logo de sua escola, em verde. Ele usa óculos. Foto: arquivo pessoal

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 161 do jornal Joca.

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Comentários (2)

  • Andrea

    3 anos atrás

    os catadores de lixo são tão importantes

  • EDGAR SANTOS

    3 anos atrás

    Excelente entrevista. Parabéns ao projeto!

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