Cidadãos do Afeganistão que deixaram o país em um avião da Força Aérea dos EUA após o Talibã conquistar Cabul. Foto: Ben Shread/MoD Crown Copyright via Getty Images

Após as tropas dos Estados Unidos iniciarem o processo de retirar soldados do Afeganistão, o Talibã, um grupo radical de combatentes que usa a própria interpretação da Sharia (a lei do islamismo, religião praticada pelos muçulmanos) para governar, começou a conquistar territórios do país e impor suas regras. Em 16 de agosto, o movimento chegou à capital, Cabul. Horas depois, o presidente afegão, Ashraf Ghani, embarcou para o Tajiquistão para fugir do controle dos rebeldes.

A saída das tropas norte-americanas do Afeganistão fazia parte de um acordo de paz entre o Talibã e os EUA, firmado em 2020. Entre outras promessas, o país se comprometeu a trazer seus soldados de volta para o território norte-americano até 11 de setembro de 2021, com a condição de que o grupo não os atacasse.

De acordo com o professor doutor Sergio Aguilar, livre docente em segurança internacional e professor do curso de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o Talibã já estava se programando para retomar o poder desde que começaram as negociações de paz com os EUA. “Na minha percepção, os militares e policiais afegãos consumiram muitos recursos em treinamento, equipamento e salários que vieram do exterior, mas não se criou o senso de ‘forças armadas nacionais’.” Ou seja, não foi criado um exército unificado para defender o país do Talibã, e sim vários grupos isolados que não se uniram. “Dessa forma [os militares e policiais] se renderam, fugiram ou se juntaram ao Talibã sem oferecer resistência ou oferecendo uma resistência fraca”, completa Aguilar. Isso quer dizer, segundo o especialista, que o governo dos EUA não conseguiu prever a velocidade com que a organização tomaria o poder, tampouco que o Exército afegão (que não está ligado ao Talibã) deixaria de impedir o avanço do grupo.

O Talibã já tinha governado o Afeganistão antes, entre 1996 e 2001, mas foi forçado a deixar o poder após tropas internacionais, lideradas pelos EUA, invadirem a região. De 2001 até os últimos acontecimentos, soldados norte-americanos e de nações aliadas, como Reino Unido, ocuparam o território do Afeganistão. Um dos principais objetivos era evitar que o Talibã controlasse o país e deixasse que grupos terroristas parceiros usassem suas áreas para atividades, como treinamentos.

Tentativas de fuga

Desde que o Talibã chegou a Cabul, muitas pessoas tentam fugir do país por medo de sofrer ataques do grupo e viver em um território governado pela organização, entre outras razões. Há casos de aviões militares de algumas nações, como dos EUA, decolarem do país com centenas de pessoas a bordo. Muitos afegãos também lotaram aeroportos, mas membros do Talibã estão dificultando as viagens.

Afegãos que conseguiram embarcar em avião para fugir do país. Foto: Pablo Blazquez Dominguez/Getty Images

Uma alternativa para quem tenta deixar o Afeganistão é ir a pé até países vizinhos, como Paquistão, ou para a Europa, via Grécia — que ergueu um muro na fronteira com a Turquia (por onde os afegãos chegam).

O que diz o Talibã?

No dia seguinte à chegada a Cabul, o porta-voz do grupo, Zabihullah Mujahid, deu uma entrevista coletiva. Entre outras promessas, ele afirmou que os cidadãos que ajudaram os EUA e aliados no Afeganistão não iriam sofrer retaliações (ou seja, vingança) e que as mulheres teriam mais liberdade do que na última vez em que a organização governou o país. De acordo com Mujahid, as afegãs poderão, por exemplo, trabalhar.

Porém, menos de 24 horas depois, as promessas começaram a ser descumpridas. Na véspera do Dia da Independência do Afeganistão, um grupo de afegãos tentou trocar a bandeira do Talibã que estava em uma praça pela do país, mas foi impedido. Ao menos três cidadãos morreram.

Dificuldades para crianças, jovens e mulheres

Embora não estivesse no comando do Afeganistão nos últimos 20 anos, o Talibã continuou existindo e controlando algumas partes do território afegão, principalmente no interior. Ao longo desse período, crianças e jovens foram grandes vítimas do grupo.

No Instagram, Angelina Jolie, atriz e defensora dos direitos dos refugiados, publicou uma carta de uma jovem afegã que se diz assustada com a chegada do grupo ao poder. “Nós todos estamos com medo deles e achamos que todos os nossos sonhos acabaram”, escreveu. 

Para a Organização das Nações Unidas (ONU), a maior preocupação é que os menores de idade sejam ainda mais perseguidos agora que o grupo extremista está no poder. Um relatório feito pela entidade mostrou que, entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020, cerca de 5.700 jovens foram mortos no país — boa parte em incidentes causados pelo Talibã. O movimento é responsável, por exemplo, por ataques a escolas, sequestros de crianças e recrutamentos de meninos para combate.

Outra preocupação da ONU são as mulheres. O receio é que o Talibã imponha as mesmas restrições de quando governou o país na década de 1990. Na época, elas só podiam ir à escola até os 10 anos e não tinham permissão para trabalhar.

O que é um grupo terrorista?

Organização que usa métodos violentos, como ataques aéreos e bombas em lugares públicos, para conquistar seus objetivos. 

Repercussão internacional

A ativista paquistanesa Malala Yousafzai, que foi vítima do Talibã, fez uma postagem nas redes sociais no dia 15 de agosto solicitando que líderes mundiais e locais peçam um cessar-fogo imediato e ofereçam ajuda humanitária aos afegãos. “Estou profundamente preocupada com mulheres, minorias e defensores dos direitos humanos”, publicou.

A paquistanesa Malala Yousafzai. Foto: James D. Morgan/Getty Images for The Growth Faculty

Malala, 24 anos, ficou conhecida aos 15. Na época, ela tinha um blog em que falava sobre as dificuldades que as garotas do Paquistão enfrentavam para estudar no país, então controlado pelo Talibã. Os textos começaram a incomodar o grupo extremista. Malala sofreu um atentado, mas sobreviveu e foi levada para o Reino Unido, onde vive até hoje. Após esses fatos, a luta da ativista pelos direitos de as meninas estudarem se tornou conhecida mundialmente.

Autoridades de diversas nações se posicionaram. Os EUA, por exemplo, publicaram uma carta com mais 60 nações, como Japão e Reino Unido, afirmando que irão ajudar os habitantes do Afeganistão que quiserem sair de lá.  

*Versão estendida da reportagem publicada na edição 175 do Joca.

Fontes: Agência Brasil, BBC, CNN Brasil, G1, G1, Folha de S.Paulo, Folha de S.Paulo e página do Twitter de Malala Yousafzai.

 

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Comentários (9)

  • Maria Clara

    2 anos atrás

    ESPERO QUE ELES RESOLVAM IR EMBORA!!

  • a.castro@alunos.kampus.com.br

    2 anos atrás

    muito triste essa situação toda... espero que isso tudo se resolva o mais breve possível.

  • Gabriela

    2 anos atrás

    Muito legal o conteúdo

  • Luciane Sampaio de Arantes

    2 anos atrás

    Espero que os Afegãos possam sair dessa, estou muito triste com o que o Talibã faz. :(

  • aluno.mariaclaragomes@colegiomagister.com.br

    2 anos atrás

    Isso é muito triste uma pessoa ter que sair de seu país abandonar sua casa e se afastar de sua família

  • aluno.anajuliamartins@colegiomagister.com.br

    2 anos atrás

    Eu estou muito preocupada com essa noticia, estou gostando muito também. Esta muito legal.

  • aluno.thomasnascimento@colegiomagister.com.br

    2 anos atrás

    Mds que triste

  • aluno.oliviamikalauskas@colegiomagister.com.br

    2 anos atrás

    Isso é muito triste vê isto assim me magoua, estou torcendo que vocês consigam ficar todo mundo num lugar seguro

  • aluno.thomasnascimento@colegiomagister.com.br

    2 anos atrás

    Que triste mds ;-;

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