Uma entrevista com Clara Magalhães Martins, criadora do grupo Frente BrazUcra
Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro, a brasileira Clara Magalhães Martins iniciou um movimento para abrigar refugiados ucranianos. Com a mobilização de outras pessoas pela causa, foi criada a Frente BrazUcra, grupo que leva ajuda humanitária a locais afetados. Atualmente, Clara mora na Ucrânia para atuar mais de perto nas questões da guerra. Em entrevista à repórter mirim Maitê B., 9 anos, de Vitória (ES), ela explica como funciona seu dia a dia na Frente e dá sugestões de como os jovens brasileiros podem colaborar com as vítimas.
O que é a Frente BrazUcra e como ela surgiu?
A Frente BrazUcra é um grupo de voluntários brasileiros que se juntou em fevereiro, quando a guerra [entre Rússia e Ucrânia] começou. Tudo teve início no Facebook, quando ofereci o meu apartamento na Alemanha para os brasileiros que estivessem saindo da Ucrânia e precisassem de uma casa. O movimento cresceu, com vários brasileiros residentes na Europa e no Brasil trabalhando, e virou esse grupo de voluntários que está aqui, nove meses depois.
Vocês já atuaram em outros locais com situação semelhante à da Ucrânia?
Não, esta é a minha primeira guerra, e espero que seja a última. Também é a primeira vez do resto do pessoal da BrazUcra.
Qual apoio vocês fornecem aos ucranianos?
A gente trabalha com ajuda humanitária de alimentos e doação de roupas, brinquedos, livros, itens de higiene pessoal (como sabonete) e do que mais eles precisarem. Hoje, eles entram em contato pedindo o que é mais urgente na região da Ucrânia em que estão e a gente organiza esses itens para fazer a entrega para a comunidade, grupo ou vilarejo.
Como alguém pode se voluntariar à BrazUcra?
Quem quiser se voluntariar pode acessar nosso grupo do Telegram, entrar em contato direto comigo ou pelo Instagram da Frente, falando como gostaria de colaborar — pode ser on-line, buscando fundos, ajudando com as doações, por exemplo, ou indo para a Ucrânia.
Como os brasileiros podem contribuir para minimizar o sofrimento das vítimas ucranianas?
Tem várias maneiras. Vocês que estão na escola podem escrever cartas para crianças ucranianas. Você pode ter um amigo na Ucrânia. Não precisa ser uma carta, pode ser um e-mail. É legal saber que alguém do outro lado do mundo está se preocupando com eles, não é? Essas mensagens podem ser enviadas por e-mail (clara@robinhoodukraine.org) ou para o meu WhatsApp (11 98706-6809). Já os adultos que trabalham em alguma área específica, por exemplo, psicólogos, que são bastante necessários em zonas de guerra, podem colaborar se voluntariando para trabalhar on-line. Também tem a opção de oferecer auxílio financeiro à nossa vaquinha e nos links de doação que a gente recebe para continuar trabalhando aqui.
Qual é a principal meta da BrazUcra?
Quando a gente começou, era tirar os brasileiros da Ucrânia e trazê-los para um lugar seguro, que fosse outro país na Europa ou de volta para o Brasil. Hoje, a nossa missão é continuar trabalhando para ajudar as vítimas da guerra, isto é, continuar levando comida, angariando doações e dando entrevistas, como a que estou fazendo com você, para apresentar essa realidade a outras pessoas. Então, o que você está fazendo agora, para mim, é uma parte muito importante da Frente.
Como é o processo de doar esses itens que você comentou aos ucranianos?
Geralmente, a gente recebe um pedido de um coordenador que trabalha com um grupo de pessoas. Ele diz quantas há nesse grupo, quantas são crianças, quais são as idades e qual é a necessidade. Então, se precisa de escova de dente para bebê e pasta de dente infantil, por exemplo, a gente monta esse kit e faz a entrega para ele. Isso quando é a Frente que faz, mas também temos algumas organizações internacionais trabalhando por aqui que mandam caixas com itens de kits de higiene. No geral, a gente entrega pessoalmente.
E como é sua atuação na Ucrânia?
Cada dia é diferente. Temos dificuldades em achar doações de comida e roupas, e há territórios aos quais a gente não pode ir, porque estão ocupados pelo exército russo e corremos o risco de ser atacados. Mas tem cidades liberadas pelo exército ucraniano, aonde podemos ir. Fizemos um treinamento e usamos capacete e colete à prova de balas, além de seguir uma série de regras.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 197 do jornal Joca.
Ainda não é assinante? Assine agora e tenha acesso ilimitado ao conteúdo do Joca.
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.