Com 8.106 focos de incêndio registrados entre os dias 1º e 30, setembro de 2020 bateu o recorde histórico de queimadas para um único mês no Pantanal. O recorde anterior era de agosto de 2005, com 5.993 pontos de fogo. Os dados são recolhidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde 1998.

Vista aérea de região do Pantanal, no Mato Grosso, consumida por incêndios, em setembro de 2020 | #pracegover: a foto mostra parte da devastação e poucos pontos verdes. Foto: Leandro Cagiano_Greenpeace

O aumento também é visto na comparação com setembro de 2019, quando houve 2.887 pontos de incêndio. Ou seja, neste ano, o mesmo mês teve crescimento de cerca de 180% nos focos. O número em setembro de 2020 também está mais de 315% acima da média histórica para o mês: 1.944 pontos de incêndio.

Investigação
No dia 14 de setembro, a Polícia Federal (PF) deu início à Operação Matáá para investigar possíveis crimes ambientais (e seus responsáveis) relacionados às queimadas deste ano no Pantanal. O nome Matáá quer dizer “fogo” no idioma guató, de indígenas que vivem nas proximidades.

A PF analisou imagens de satélites e sobrevoo para identificar o início e a evolução dos incêndios na região do Mato Grosso do Sul. Há suspeitas de que os focos tenham começado em fazendas, que usam o fogo para, por exemplo, abrir áreas de pastagem para animais.

Em 30 de setembro, Eduardo Bim, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), falou na comissão do Senado Federal criada para tratar do Pantanal. Ele declarou que uma equipe foi enviada à região para rastrear possíveis origens do fogo, com o objetivo de evitar que isso volte a acontecer.

Saiba mais sobre as causas e as possíveis formas de evitar queimadas na edição 155 do Joca.

grafico-queimadas-Pantanal
Número de queimadas no Pantanal por ano (2005-2020). Em 2020, até 30 de setembro, o número total é de 18.259 focos de incêndio no Pantanal — maior do que o recorde anual já registrado, em 2005 (12.536) | #pracegover: um gráfico mostra a variação ao longo dos anos, entre 2005 e 2020. Os anos de 2005 e 2020 aparecem com barras em vermelho, enquanto as outras barras estão na cor laranja. Fonte: Inpe

Fontes: Agência Brasil, CNN Brasil, Estadão, Folha S.Paulo, G1, Greenpeace, Inpe, Ministério da Justiça e Segurança Pública, O Globo, Senado Federal e UOL.

Situação na Amazônia
Em setembro, o Inpe registrou 32.017 focos de calor na Amazônia. Este número é o segundo pior para o mês na última década (período entre 2011-2020) e perde apenas para setembro de 2017, que teve 36.569 pontos. Em relação ao mesmo período do ano passado, a Amazônia registrou aumento de mais de 60% na quantidade de focos de calor — eram 19.925 em setembro de 2019.

Mesmo faltando cerca de três meses para o ano acabar, 2020 já teve 79.045 pontos de calor na Amazônia, de acordo com dados do Inpe em 4 de outubro. Dentro do período 2011-2020, este número já supera o total de anos como 2018 (68.345) e 2013 (58.688).

Fontes: Folha de S.Paulo, Greenpeace e Inpe.

Além da Amazônia e do Pantanal
Desde 27 de setembro, o fogo também atinge o Parque Nacional da Serra do Cipó, em Minas Gerais. Estimativas indicam a queima de mais de 9 mil hectares de vegetação.
Fontes: Estado de Minas e G1.

O que é o Pantanal?
Este bioma (conjunto de vida vegetal e animal com características próprias em uma região específica) fica no Centro-Oeste do Brasil, além de ter território que se estende por parte do Paraguai e da Bolívia. O Pantanal alterna períodos de muita chuva, entre outubro e março, e muita seca, de abril a setembro. Com isso, passa metade do tempo inundado (cheio de água) e, depois, seca novamente.

Fauna | Por estar sempre alagando e secando, o Pantanal é a moradia ideal para várias espécies de animais que não conseguiriam viver tão bem em outros lugares. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o bioma é lar de 582 espécies de aves, 132 de mamíferos, 113 de répteis e 41 de anfíbios. Isso inclui animais classificados como vulneráveis para risco de extinção, como o lobo-guará.

Flora | A do Pantanal é tão rica que não há certeza sobre o número de espécies da região. Com as queimadas, é possível que algumas sejam extintas antes de os humanos as descobrirem. O MMA afirma que já foram catalogadas cerca de 2 mil plantas por lá.

Consequências dos incêndios | As queimadas causam mudanças drásticas no ambiente. Isso significa que mesmo os animais que sobreviverem podem sofrer com a escassez de alimentos. Outros vão encontrar dificuldade para se esconder de predadores, pela falta de vegetação. O Centro de Pesquisa do Pantanal, em Cuiabá, no Mato Grosso, indica que a região pode levar até 30 anos para se recuperar completamente.

Fontes: Agência Brasil, Brasil Escola, Centro de Pesquisas do Pantanal, Embrapa, Época, ICMBio, InfoEscola, Ministério do Meio Ambiente, National Geographic, O Globo e Superinteressante.

Direto do Pantanal
Confira depoimentos de quem trabalha para diminuir os impactos dos incêndios na região

“Já atuei em várias áreas do Pantanal. Hoje, estou no comando da operação de resgate dos animais silvestres. Começamos essa operação em 23 de agosto, com o resgate de uma onça. Ela foi encaminhada para uma ONG [organização não governamental] que faz tratamento com células-tronco [capazes de se autorreproduzir ou se tornar outros tipos de célula] e está recebendo bem o tratamento. Depois disso, nós estruturamos o Posto de Atendimento Emergencial a Animais Silvestres (Paeas) Pantanal, uma base fixa no km 17 da Rodovia Transpantaneira. Lá há pessoas cuidando dos animais, como veterinários, biólogos, bombeiros, voluntários. Hoje, temos cinco postos de atendimento a animais silvestres no Pantanal. Também distribuímos alimentos e água na natureza. Atualmente, estamos na segunda fase do desastre, que é a da fome cinzenta [com a destruição, os animais passam fome e sede]. É muito difícil controlar incêndios no Pantanal. O fogo queima o solo, a copa das árvores (pode atingir árvores de 20 a 25 metros, queimando-as por completo) e o subterrâneo. Há raízes que estão muito secas, pois não recebem água há muito tempo. Se não tem água, tem oxigênio e o fogo se propaga nas raízes das árvores. Assim, os incêndios surgem em pontos em que as chamas já tinham acabado. Isso dificulta muito o trabalho dos bombeiros.” Coronel Barroso, do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso

“Nós estamos fazendo o possível para deixarmos alimentos perto de lagoas que secaram. Os animais buscavam água lá, então são lugares que eles conhecem. Nós levamos banana, melancia, mamão, goiaba, cenoura… Alimentos que possam ser consumidos por grande número de espécies. Não temos um número exato de animais que já resgatamos, mas sei que foram dezenas. Dependendo da gravidade, o animal é levado para o Mato Grosso do Sul, para a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) ou para postos de veterinária instalados ao longo da Rodovia Transpantaneira. Nem todos conseguem sobreviver. Durante a semana, nós, da ONG É O Bicho, tentamos arrecadar alimentos doados para os animais. Também temos uma vaquinha para conseguir dinheiro e comprar comida. Falar do Pantanal é algo que hoje me entristece muito. Quando vejo um animal correndo do fogo, tentando salvar os seus filhotes… É um desespero, uma dor… As novas gerações têm que saber o que está acontecendo com o nosso planeta.” Professora Helibera, da ONG É O Bicho, do Mato Grosso

Saiba como ajudar a ONG É O Bicho: bit.ly/e-o-bicho

No site do Joca, leia o relato de Marina C. M., 8 anos, sobre fogo em mata na cidade de Campinas, São Paulo: jornaljoca.com.br

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 158 do jornal Joca.

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Comentários (5)

  • felipe

    2 anos atrás

    E se a gente reduzir,reutilizar,resiclar e diminuir a poluição vai ser ótimo

  • Lara Sophia Lins , 10 anos

    3 anos atrás

    É muito triste saber que o Pantanal está sendo destruído pelas queimadas. Todos nós devemos ter a consciência da importância de cuidar do nosso planeta, pois precisamos dos recursos oferecidos por ele para sobrevivermos. Que pena que muitas pessoas agem de forma egoísta.

  • Andrea

    3 anos atrás

    se todos fizermos a nossa parte o pantanal continuara vivo

  • HELENA

    3 anos atrás

    O Pantanal sofre muito com as queimadas, e os animais que vivem lá não tem onde morar , outros se machucam feio , outros morrem e etc.

  • Andrea

    3 anos atrás

    e verdade joca o patanal tambem e muito importante para mim

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