Esta matéria foi originalmente publicada na edição 230 do jornal Joca
A Voz dos Oceanos é uma iniciativa que usa expedições marítimas e projetos em terra para conscientizar a sociedade sobre a poluição dos resíduos nos mares. As viagens de exploração são feitas a bordo de um veleiro especial, uma embarcação tecnológica com diversas soluções sustentáveis para não impactar negativamente o meio ambiente. O repórter mirim Davi K., 11 anos, entrevistou Heloisa Schurmann, uma das idealizadoras do projeto. Confira.
Como vocês fazem para comer e beber no veleiro?
Olha, nós fazemos um abastecimento: temos uma lista dos alimentos e, em cada lugar que paramos, experimentamos a culinária local. Procuramos alimentos nos supermercados, nas feiras livres e abastecemos o barco, além de beber água do mar. Como? Nós temos um aparelho que chama dessalinizador, e ele transforma a água salgada do oceano em água doce. Nós temos geladeira e freezer, então guardamos. Assim, a cada semana, se a gente está no porto, pode comprar verduras e outros vegetais. Então cozinhamos as nossas refeições como todo mundo faz em casa.
Eu fiquei curioso com essa transformação da água. Ela é rápida ou demora alguns dias?
Ela é rápida! O dessalinizador faz 200 litros de água por dia. É chamada osmose reversa, processo que tira a água do mar, passa por um filtro bem fininho e transforma em água doce. É uma água bem gostosa.
Qual foi o maior período que vocês permaneceram embarcados?
Já ficamos 30 dias no mar, cruzando o Oceano Pacífico, desde a costa da América do Sul até a Polinésia Francesa. Foram 30 dias sem ver outra ilha, sem ver outro lugar. Éramos apenas nós, o céu e o mar. Quando estávamos chegando à terra firme, meu filho até comentou que poderíamos passar mais tempo no mar porque é muito gostoso.
Qual foi o pior momento que você já viveu em alto-mar?
Em 1992, nós saímos da Nova Zelândia com o nosso barco. A previsão do tempo era boa, mas, depois de três dias navegando, alguém nos chamou no rádio e avisou que havia uma tempestade se aproximando. Nós nos preparamos, e a tempestade chegou muito forte, com ventos de mais 100 quilômetros por hora e ondas de 10 metros. Uma dessas ondas quebrou os mastros do barco. Nós tivemos que voltar para a Nova Zelândia.
O que vocês fazem com o lixo que coletam no oceano?
Levamos a bordo e temos um compactador (máquina capaz de deixar o lixo menor, ocupando menos espaço). Ele transforma cinco sacos de lixo em um bloquinho pequeno. Assim, vamos guardando até encontrar um lugar que tenha reciclagem confiável. Às vezes, ficamos até dois meses com o lixo.
O que são microplásticos?
Microplásticos são pequenas partículas de plástico. Por exemplo, uma garrafa PET é jogada na praia e, com o sol batendo e a onda do mar, ela vai se quebrando em pedaços cada vez menores. Esses fragmentos com menos de 5 milímetros são chamados de microplásticos.
É possível tirar os microplásticos dos oceanos?
Infelizmente, não. Hoje existem navios que recolhem os grandes plásticos, mas os microplásticos são impossíveis de remover. Esse é o grande perigo, porque o plástico se transforma em microplásticos, e esses pedacinhos são ingeridos pelos animais, como peixes e crustáceos, então nós também acabamos os consumindo com esses alimentos. Além disso, eles circulam no ar, formando partículas que já foram encontradas em montanhas, no ar que respiramos, nas nuvens, em todos os lugares. Hoje, não estamos livres de achar microplásticos até no corpo humano.
Quais são as principais soluções para esse problema?
Já existe alguma? A principal solução é evitar o uso de plásticos. Vamos começar recusando o plástico, nem reciclar é a prioridade. O mais importante é repensar. Por exemplo, ao ir ao supermercado, leve a própria sacola reutilizável. Se você pegar um melão, uma melancia ou bananas, evite colocá-las em sacos plásticos. São pequenas atitudes que podemos adotar. Não use garrafas PET. Elas demoram 15 dias para ser fabricadas, você consome o conteúdo em cinco minutos e, depois, elas levam 450 anos para se decompor na natureza. Então, precisamos evitar o plástico.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 230 do jornal Joca
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