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Nathalia Dimambro, editora da Companhia das Letras. Foto: Renato Parada | Divulgação

O trabalho dos autores de livros é bem conhecido: eles precisam pensar na história, nos personagens, em um final interessante. Mas o que faz um editor de livros? Para desvendar esse universo, Giulia S. M., 9 anos, entrevistou Nathália Dimambro, editora da Companhia das Letras.

“Quando entrei na faculdade, já sabia que queria trabalhar com livros infantis ou juvenis, minha maior paixão. Fiz estágio na Biruta, uma pequena editora focada em livros infantojuvenis. No ano seguinte, passei a estagiar na Companhia das Letras, bem na época em que o selo jovem, a Seguinte, foi criado. Depois, fui contratada e continuei trabalhando com os livros juvenis até me tornar editora de fato”, contou Nathália para Giulia. A seguir, confira o resultado da entrevista.

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“Sempre que eu lia os jornais, achava muito interessante pensar em perguntas e participar de uma entrevista. Tinha curiosidade sobre escritores e editores. Por isso, quis ser repórter mirim”, Giulia S. M., 9 anos. Foto: arquivo pessoal

Como o trabalho com os livros aconteceu na sua vida?
Desde pequena eu sempre gostei muito de ler — um dos meus momentos favoritos na escola era quando íamos à biblioteca escolher um livro para levar para casa. No ensino médio, quando precisava decidir uma carreira, pensava em cursar letras ou design gráfico — artes visuais também me interessavam muito. Quando descobri o curso de editoração (também chamado de produção editorial), percebi que ele juntava tudo que me interessava: texto, design e livros! Foi maravilhoso perceber que eu podia viver de fazer livros, então não pensei duas vezes em seguir essa carreira.

Qual é a diferença entre um editor de livros e um escritor de livros?
O escritor é quem inventa e escreve toda a história. Já o editor faz a ponte entre o escritor e os leitores. O editor trabalha para que a história se torne a melhor possível, dando dicas e sugestões para o autor aprimorar ainda mais o texto. O editor pensa quais seriam os leitores daquele livro, decide qual a melhor capa, em quais lojas ele precisa estar, e assim por diante, ajudando aquela história a chegar ao maior número possível de leitores.

Você se inspirou em alguém para seguir a carreira de editora de livros?
A princípio, não. Ninguém na minha família trabalha com livros, e confesso que até hoje alguns parentes não entendem direito o que eu faço. Durante a faculdade, conheci a história de vários editores do passado que se tornaram inspirações para mim, como a Rose Marie Muraro e o Ênio Silveira.

O que o curso que você fez na faculdade, de editoração, te ensinou?
Na faculdade a gente aprende todo o passo a passo da produção de um livro, desde que recebemos a história do autor, até o livro ser impresso, distribuído e chegar às mãos dos leitores. São muitas etapas e muita gente envolvida nesse processo!

O período da faculdade também foi muito rico porque, além das matérias que eu cursava, aprendi muito com os outros colegas e me envolvi em vários projetos paralelos em que pude começar a colocar a mão na massa.

Conte um pouco sobre a sua carreira: como você começou a trabalhar com livros e como chegou ao trabalho que tem atualmente?
Quando entrei na faculdade, eu já sabia que queria trabalhar com livros infantis ou juvenis, minha maior paixão. No terceiro ano do curso, comecei a fazer estágio na Biruta, uma pequena editora focada em livros infantojuvenis. No ano seguinte, passei a estagiar na Companhia das Letras, bem na época em que o selo jovem, a Seguinte, foi criado. Depois, fui contratada como editora de texto assistente e continuei trabalhando com os livros juvenis até me tornar editora de fato.

Quantos livros você lê por ano?
É muito difícil contar, porque tem livros que lemos várias vezes antes de serem publicados, livros que não lemos até o final, livros que não chegaram a ser lançados aqui no Brasil… Eu chutaria uns 40 livros por ano, além dos que tento arrumar tempo para ler por lazer!

E quantos livros você já editou na sua carreira?
Acho que já devem estar chegando a cem!

Você conversa bastante com os autores dos livros com os quais você trabalha?
Com os autores brasileiros, o tempo todo! O processo de edição envolve várias conversas, sobre cada detalhe do livro — o texto, a capa, a divulgação, e por aí vai. No caso dos autores estrangeiros, o contato costuma ser com os agentes literários, então só conseguimos conversar diretamente quando eles vêm ao Brasil para algum evento.

E com os leitores dos livros? Você tem contato?
Sim, e é uma das partes de que eu mais gosto! Estamos sempre em contato pelas redes sociais (principalmente Instagram e YouTube), e adoro encontrar os leitores pessoalmente, em eventos como a Bienal do Livro. São ótimas oportunidades de conhecê-los, conversar, saber a opinião deles sobre os livros, trocar muita ideia!

Como é feita a escolha dos livros que vão ser publicados? Por que um é escolhido e outro, não?
São vários fatores que a gente leva em consideração na hora de publicar um livro. O primeiro ponto é que o livro deve se encaixar no catálogo da editora, ou seja, precisa ter um perfil semelhante aos outros títulos publicados. Por exemplo, uma editora de poesia não vai lançar um livro de culinária, por melhor que seja.

Pensando em livros de ficção, os personagens precisam ser bem construídos e diversos. A história precisa ser criativa ou trazer alguma novidade para o gênero. E, claro, deve ser bem escrita e prender a atenção do leitor.

Qual é o maior desafio do seu trabalho?
Para mim, pessoalmente, um dos desafios é a parte social do trabalho. Muita gente acha que ser editor é ficar sozinho lendo o tempo todo, e por mais que tenha alguns momentos assim, a gente precisa estar em contato com muita gente! Autores, colegas de trabalho, colaboradores. São muitas demandas, e como eu sou bem introvertida, às vezes essa parte é bem desafiadora.

Pensando no mercado de forma geral, acho que um dos maiores desafios para as editoras é fazer o livro chegar ao maior número possível de leitores. O Brasil é um país enorme, e muitas cidades não têm livrarias, nem bibliotecas, e faltam políticas governamentais de incentivo à leitura. Então, um grande desafio para todo mundo que trabalha no mundo dos livros é fazer com que ele chegue a mais pessoas.

Qual é o seu livro preferido?
São vários! Durante a minha formação, a leitura que mais me impactou foi a série Harry Potter — acho que nunca vou amar tanto uma série assim! Mas se tivesse que escolher um livro hoje, seria Orgulho e Preconceito, da Jane Austen.

Você já escreveu algum livro? Se sim, qual?
Nunca! Já tive algumas ideias para histórias, mas acho que não tenho disciplina suficiente para sentar e escrever, do zero. Quem sabe um dia?

O que você gostaria de fazer se não fosse editora de livros?
Quando eu era adolescente, adorava design gráfico e ia aprendendo a fazer sites por conta própria. Acho que se não fosse editora, teria seguido esse caminho e trabalharia com webdesign.

Sonhando alto, como sempre gostei muito de ler e estudar, brinco que a profissão ideal para mim seria ser estudante para sempre, fazendo uma faculdade depois da outra, de todos os cursos que me interessam!

Que dicas você pode dar para os leitores do Joca que sonham em escrever e publicar um livro?
Leiam muito! Se encontrarem uma autora ou autor de que gostam, procurem ler os outros livros já publicados. De vez em quando, saiam da zona de conforto e leiam um tipo livro que vocês não costumam ler — isso é ótimo para dar ideias! Enquanto leem, tentem entender o que funcionou naquele livro (e o que não funcionou). Isso vai ajudar na hora de criar suas próprias histórias. Além disso, é importante estar por dentro dos últimos lançamentos e sempre apoiar outros autores nacionais.

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Comentários (6)

  • Julia Felix

    3 anos atrás

    Muito boa entrevista !!

  • carlaaraujo@educacaosalvador.net

    3 anos atrás

    Parabenizo o Jornal Joca , pela qualidade das matérias , e como abordagem clara e fácil entendimento para nossos alunos.

  • Danielly

    2 anos atrás

    Sim Sim

  • unibr

    3 anos atrás

    eu gostei muito de saber que existe um jornal para crianças

  • ciparullo

    3 anos atrás

    Gostei muito de saber sobre editor

  • Jhoslyn B.CAUNA MARAZA

    3 anos atrás

    Sim

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