Crédito de imagem: hxdbzxy/Getty Images/reprodução

A Organização Para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou, em 5 de dezembro, os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022 — considerada a primeira pesquisa a coletar, em nível global, dados sobre o desempenho, bem-estar e equidade de estudantes após a pandemia da covid-19. Desde o início do programa, no ano 2000, estes foram os resultados que apresentaram quedas mais significativas: a nota média dos países que compõem a OCDE caiu 15 pontos em matemática, dez em leitura e se manteve estável em ciências.

Pisa: o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes é uma prova realizada, a cada três anos, pela OCDE para comparar o nível da educação entre os alunos dos países que participam. Quem responde a avaliação são estudantes de 15 anos. O objetivo é que, a partir dos resultados, o Pisa avalie como está o ensino das escolas em cada país e que, a partir disso, os governos decidam como melhorar a educação. As competências avaliadas se dividem entre matemática, ciências e leitura. Leia abaixo mais detalhes sobre a edição de 2022 e o desempenho do Brasil.

OCDE: formada atualmente por 38 países-membros, a organização reúne países, na maioria, desenvolvidos, a fim de debater políticas públicas para o desenvolvimento econômico. É conhecida como “Clube dos Países Ricos”.

Nota média da OCDE: a média feita usando as notas dos países-membros da organização serve como referência de qualidade para os demais países. Assim, nações menos desenvolvidas podem utilizá-la como guia para analisar o quanto precisam melhorar.

As quedas consideráveis em boa parte dos países e economias (cerca de 50 dos 81 que participaram do programa) podem estar relacionadas ao período da pandemia, quando escolas foram fechadas e o acesso à educação foi menor para estudantes com menos recursos tecnológicos (como computador e internet em casa). No entanto, a análise do Pisa revela um declínio generalizado que começa mesmo antes da covid-19.

“O relatório conclui que, apesar das circunstâncias desafiadoras, 31 países/economias conseguiram pelo menos manter o desempenho em matemática desde o Pisa 2018”,

aponta a introdução do relatório.

O Brasil no Pisa 2022

Em azul no gráfico, as pontuações do Brasil ao longo dos anos em leitura, matemática e ciências (respectivamente). Em laranja, o comparativo das médias dos países que compõem a OCDE. Crédito de imagem: OCDE/divulgação

Ao contrário de grande parte dos países — até mesmo de uma parcela considerável dos membros da OCDE —, os resultados do Brasil no Pisa 2022 podem ser considerados estáveis quando comparados à última edição (2018): em matemática, foram cinco pontos a menos; leitura, três pontos; e ciências, apenas um. Apesar da estabilidade, o Brasil está consideravelmente abaixo da média das nações da OCDE. As notas do país em leitura, matemática e ciências foram, respectivamente, 410, 379 e 403; já as médias da OCDE foram 476, 472 e 485.

No Brasil, apenas 27% dos estudantes alcançaram, pelo menos, o nível 2 em matemática (entenda o que cada nível significa mais abaixo); já nos países da OCDE, esse número foi de 69%. A porcentagem de estudantes brasileiros que atingiram a classificação mais alta em matemática, por sua vez, foi de apenas 1%, inferior aos 9% da OCDE. Isso equivale dizer que apenas um a cada cem brasileiros de 15 anos é capaz de lidar matematicamente com situações complexas, selecionando, comparando e avaliando as melhores estratégias para a resolução de problemas.

Pisa 2022

A edição testou quase 700 mil estudantes de 15 anos, em 81 países e economias parceiras. Cada edição tem um enfoque específico em uma das três disciplinas — neste ano, o programa focou a matemática, além de elaborar questões sobre pensamento criativo.

No Brasil, participaram do Pisa 2022 cerca de 14 mil estudantes, de 606 escolas diferentes (públicas e privadas, espalhadas por todo o território). A prova foi aplicada em formato eletrônico, com coordenação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Em 2022, o foco da avaliação foi atrelado à matriz de referência “pensamento criativo”. A categoria avalia a capacidade dos alunos em desenvolver as próprias ideias e soluções de maneira independente e crítica. Segundo a OCDE, a área pode ser descrita como:

“​​A competência de participar produtivamente da geração, avaliação e melhoria de ideias, que pode resultar em soluções originais e eficazes, avanços no conhecimento e expressões impactantes da imaginação”.

Dentre as ações consideradas como expressivas do pensamento criativo e levadas em conta na formulação das avaliações estão capacidade de resolução de problemas, expressão criativa e criação de conhecimento. Essas ações podem ser geradas em sala de aula, a partir de facilitadores individuais e coletivos.

Critérios de avaliação

A partir dos resultados das avaliações, os estudantes são classificados em diferentes níveis. O primeiro nível categoriza estudantes com baixo nível de compreensão e aprendizado. O nível 2 é considerado o mínimo que todo aluno de 15 anos deve ter após o ensino secundário, que engloba o ensino fundamental 2 e início do ensino médio; já os níveis 3 e 4 abarcam os estudantes com habilidades moderadas. Por fim, os níveis 5 e 6 são alcançados por alunos com habilidades consideradas altas dentro do seu atual nível acadêmico.

Matemática: para avaliar o desempenho dos alunos, a OCDE considera, mais do que o conhecimento e a aplicação de fórmulas matemáticas, a capacidade de “formular, usar e interpretar” a matemática no dia a dia. A avaliação busca definir o “letramento matemático” de cada estudante, ou seja, a capacidade de interpretação da área de conhecimento sob diferentes contextos. Por exemplo: em 2022, muitas das questões abordaram o tema da educação financeira.

Leitura: a avaliação categoriza a capacidade dos estudantes de “processar o texto”. De maneira geral, o aluno deve ser capaz de identificar pontos específicos no texto após a leitura, compreender as ideias ali emitidas e, por meio da própria avaliação, refletir de modo crítico sobre a mensagem principal transmitida. De acordo com a matriz de referência de leitura de 2018 da OCDE, a definição do letramento em leitura de um estudante é: “O letramento em leitura refere-se a compreender, usar, refletir sobre e envolver-se com os textos escritos, a fim de alcançar um objetivo, desenvolver seu conhecimento e seu potencial de participar da sociedade”.

Ciências: o Pisa leva em consideração, aliada aos conhecimentos específicos, a capacidade de contextualização geral da matéria. No caso científico, o letramento se dá por meio dessas etapas: a capacidade de explicar fenômenos cientificamente, reconhecendo e avaliando teorias para fenômenos naturais e tecnológicos; o ato de avaliar e planejar investigações científicas, sendo capaz de descrever e propor formas de abordar questões cientificamente; e, por fim, o ato de interpretar dados e evidências cientificamente, sob a tentativa de analisar e avaliar os resultados, afirmações e argumentos, chegando a conclusões científicas apropriadas. Assim, as questões de ciências trazem fenômenos naturais, como a migração de pássaros, e requerem que o aluno seja capaz de compreender a funcionalidade daquele fenômeno e suas consequências.

Fontes: OCDE, MEC, Inep, Jeduca, Matriz de Letramento em Leitura, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes Matriz de Avaliação de Ciências, Pisa 2022 – Insights and Interpretations, Matriz de Avaliação de Matemática, BBC, Jeduca, Matriz de Referência para Pensamento Criativo, Pisa 2022 Results e Matrizes de Referência – Inep.

Enquete

Sobre qual assunto você gosta mais de ler no portal do Joca?

Comentários (0)

Compartilhar por email

error: Contéudo Protegido