Por Martina Medina

Desde os 6 anos fazendo rimas, MC Soffia chega aos 14 compondo músicas contra o preconceito e a favor das diferenças. “O importante é ter respeito, aceitar a religião, a cor, o cabelo e o corpo das pessoas. E a pessoa em si se aceitar”, filosofa a autora de “Menina Pretinha”.

Em parceria com o grupo de rappers mirins Cypher Kidz, Soffia acaba de lançar o clipe “Rock Star Kidz”, que mistura rap e rock. O tema igualdade não poderia ficar de fora. Para compor a música, a MC pesquisou sobre a cantora e guitarrista Rosetta Tharpe, uma mulher negra que já fazia rock’n’roll na década de 1930.

Confira o novo vídeo e saiba mais sobre as influências, o dia a dia e os sonhos de MC Soffia nesta entrevista da rapper ao Joca.

Você lembra a primeira vez que pisou no palco?
Eu era pequeninha, quando o Ice Blue, dos Racionais MCs, me chamou para subir no palco. Aí eu fui e mandei uma rima. Mas o meu primeiro show mesmo foi no Anhangabaú, no aniversário de São Paulo, quando eu tinha sete anos. Foi muito legal.

Agora você tem 14 anos. O que mudou?
Eu era muito tímida, mas quando subia no palco, dançava e cantava como se estivesse brincando. As músicas que eu cantava eram de outras pessoas. Hoje eu já tenho minhas músicas e interajo mais com o público. Foi uma grande mudança.

O que te motivou a cantar?
Eu sempre gostei de cantar. Na minha casa a gente cantava antes de dormir, quando acordava, quando fazia comida… Aos 6 anos, minha mãe me levou para fazer oficinas de Hip Hop, eu gostei e continuei. No Hip Hop você pode cantar o que está sentindo com muita liberdade. Falo muito do preconceito, de racismo, de gênero…

Por que você acha importante falar sobre esses temas?
É importante falar sobre racismo porque é uma coisa que existe. Eu já passei, todas as pessoas negras passam. Falo sobre o racismo para as pessoas da minha idade entenderem que se a gente estudar porque a gente tem essa cor e esse cabelo, ele pode mudar. Demora, mas muda.
Quando canto “Menina Pretinha”, eu falo sobre racismo mas também que ela é rainha, bonita… Falo sobre ela se aceitar como é. E sobre a questão de gênero, que menina e menino podem brincar do que quiserem porque eu tive essa liberdade na minha família. Sempre pude jogar futebol, basquete, sempre tive bola de tudo, brincava de carrinho, fazia meu primo brincar de boneca comigo…

Como você vê a questão dos negros hoje?
Nós negros estamos com uma cabeça super diferente. Começamos a nos aceitar mais, a gostar mais do cabelo, a falar: “sou negra, sim, com muito orgulho, me amo”, coisa que antigamente não havia tanto. A gente tem que ir muito atrás e se conhecer mais para que mude o racismo. Não sei quando o racismo vai acabar, mas não é impossível. Nessa geração já está muito melhor.

Você conversa com outras meninas sobre esses assuntos?
Eu tenho o “Preteenha Rainha”, um grupo com meninas da minha idade, e a gente faz uma roda para falar sobre machismo, racismo, saber como elas cuidam do cabelo… Eu medio a conversa e elas falam coisas muito inteligentes e interessantes. Criei esse evento porque não existia e eu sentia falta de um espaço de conversa assim. A gente fez três encontros até agora. Qualquer menina de 10 a 16 anos pode participar.

Como é seu dia a dia?
Durante a semana, vou para a escola. De terça, quinta e sexta vou para o basquete e o inglês. No final de semana vou para a casa do meu pai, da minha avó ou faço show. De sexta-feira tenho fono [fonoaudiólogo, profissional que cuida da voz]. É bastante coisa, mas antes eu tinha mais atividades ainda: fazia futebol. Eu estava ficando cansada e decidi ficar só com o basquete.

Qual é a matéria que você mais gosta na escola?
A que eu mais gosto é pesquisa. Minha escola tem outro método de ensino. O que você tem vontade de pesquisar ou tem dúvida, você vai lá e pesquisa. Agora estou pesquisando sobre política com duas meninas negras. Quando pesquisei sobre o navio negreiro, eu quase morri. Foi uma situação horrível que os negros passaram. Foi o tema que mais me surpreendeu.

De quais artistas você mais gosta?
Gosto muito da MC Loma e da MC Rita, meninas mais novas que estão cantando aí estouradas. Também gosto da Karol Conka, Ludmila, Anitta, Iza, Rimas & Melodias, Tássia Reis, Drica, Linn Da Quebrada. Dos Estados Unidos, eu amo muito a Beyoncé, Nicki Minaj, Rihanna e o Drake.

Como você vê o sucesso?
Eu não acho que eu estou fazendo muito sucesso não. Eu estou sendo mais reconhecida, fazendo mais trabalhos, aparecendo em mais lugares, mas ainda não estourei. Ando normal de metrô, pego ônibus todo dia para ir para a escola. O sucesso para mim é você fazer vários shows, programas, ser muito reconhecido na rua… Mas eu não sei exatamente o que é o sucesso porque eu nunca passei. Só vou descobrir quando acontecer. Tomara que aconteça né!

Qual é o seu grande sonho?
Cada dia eu tenho um sonho novo, então vou deixando o universo ir me ajudando a realizar cada um deles. O mais forte é cantar com a Beyoncé e fazer um clipe com a Rihanna. E que o racismo, o preconceito, o machismo e a homofobia acabem. Que todos se respeitem e tenham igualdade.

Que recado você quer deixar para os meninos e as meninas?
Que todos se respeitem, amem uns aos outros, não tenham preconceito e racismo. O importante é ter respeito, aceitar a religião, a cor, o cabelo, o corpo das pessoas. E a pessoa em si se aceitar. Ela se aceitando já quebrou várias barreiras da pessoa que não aceita ela.

Onde você aprendeu tudo isso?
Com a minha família. A cada dia eu paro para conversar com a minha mãe e minhas avós. Elas têm um pensamento muito bom, alinhado com essa nova geração.

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