Nascido em Minas Gerais, Júlio Emílio Braz se tornou escritor produzindo roteiros de histórias em quadrinhos para revistas de terror. Hoje, aos 61 anos, tem mais de 160 livros publicados, roteiros escritos para programas de televisão, como Os Trapalhões, e vários prêmios literários – como o Jabuti, um dos mais importantes do Brasil.

Depois de ler um de seus livros, Memórias de um País Distante, três alunos do curso de português da Hudson High School, em Massachusetts, nos Estados Unidos, entraram em contato com o autor para saber mais sobre ele. Confira a entrevista que Rebeca da S., 15 anos, Fernanda F., 16 anos, e Lucas S., 17 anos, fizeram com Júlio Emílio Braz.

Qual foi a sua maior motivação para se tornar escritor?
Desde que me entendo por gente, sou louco por leitura e, mais adiante, eu me apaixonei por contar histórias. Não é nem contar a história em si, e sim ver como as pessoas se deixam envolver e se encantam sinceramente com o que escrevemos. Acredito que seja a capacidade de investir e aprimorar a própria humanidade que motiva e encanta as pessoas a continuar lendo, vendo apresentações de balé, ouvindo músicas.

Qual foi a influência que Minas Gerais teve ou tem na sua vida/carreira?
Cresci em um mundo povoado de analfabetos geniais, gente que, em muitos casos, não passou nem um dia em uma sala de aula, mas era imbuída de uma sabedoria arrancada a fórceps [maneira para se referir a algo “arrancado” à força] do cotidiano de sua vida sacrificada. Eles foram os meus primeiros “livros” e, ao mesmo tempo, meus primeiros mestres de escrita a partir das incontáveis histórias que contavam para mim, minha irmã e uma multidão de primos e primas, além dos vizinhos.

Quantos anos você tinha quando escreveu o primeiro livro?
Aqui eu tenho duas respostas: o primeiro livro, que não foi publicado, era uma história policial cujo título eu não me lembro mais. Eu a escrevi entre os 15 e 16 anos. O primeiro livro efetivamente publicado foi Saguairu, em 1988, a história de uma caçada no Pantanal mato-grossense que me deu, em 1989, meu primeiro prêmio literário, o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, na categoria de autor revelação.

De onde surgem ideias para escrever tantos livros?
Sou um ser humano basicamente peripatético, ou seja, eu aprendo e descubro a vida andando. Portanto, minhas fontes de inspiração estão relacionadas ao contato com o humano. Recolho minhas ideias a partir do que vejo, ouço e vivencio. Necessito estar entre seres humanos, conversar com eles e, igualmente, ouvi-los. Adoro andar a pé, de ônibus, trem, metrô, táxi e até de barca (apesar de não saber nadar). Adoro “jogar conversa fora”. Também leio muito: são quatro jornais por dia, além de um monte de revistas brasileiras e algumas internacionais, voltadas para o estudo da história, pois sou professor de história. Meu dia a dia também é fonte de inspiração.

#pracegover: ilustração mostra Júlio Emílio Braz em um trem. Ele está na janela distribuindo livros. Imagem: divulgação e Getty Images

De todos os seus livros, com qual tem uma ligação especial?
Meu livro favorito é Crianças na Escuridão. Em primeiro lugar, porque fala prioritariamente às crianças e, infelizmente, daquelas que vivem da escuridão das ruas e das perspectivas mais simples da vida — que é ter um teto sobre a cabeça e pais que as amem. Fui de família pobre e morei em favelas. Ainda hoje não sou milionário, mas desde sempre eu tive minha família. Em segundo lugar, porque defendo que todos tenham direito à felicidade, e não existe felicidade sem conhecimento e leitura, sem uma boa compreensão da vida e das coisas da vida. Leitores geralmente conseguem compreender certas coisas simples da vida, a começar que só devemos pôr no mundo filho pelos quais possamos ser minimamente responsáveis. Se estamos aqui para tentar ser felizes, não parece uma grande maldade trazer crianças para o mundo sabendo antecipadamente que elas serão infelizes? E, por último, porque acredito na responsabilidade social da arte. Queiramos ou não, acreditemos ou não, estamos na alma de nossos leitores, interagindo com eles e suas incontáveis reflexões pessoais e sociais. “Fazemos sua cabeça” apenas por escrever uma linha em uma folha de papel, e eu acho que posso contribuir para que não sejamos reprodutores de uma paternidade/maternidade irresponsável com livros que abordem o sofrimento de crianças abandonadas, que é o tema de Crianças na Escuridão.

Poderia deixar um conselho para os leitores?
Adoro dizer para as pessoas: “Quem ousa vence!”. Não sei se funcionará para todos, mas prefiro fracassar tentando do que me arrepender mais tarde por não ter pelo menos tentado, seja lá o que for.

#pracegover: capa do livro Memórias de um País Distante mostra as pernas de dois garotos jogando futebol. Foto: divulgação

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 166 do jornal Joca.

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