Felipe Sali e Maria Carolina Cristianini

Em 24 de fevereiro, seis meses atrás, tinha início a guerra na Ucrânia, com uma ofensiva da Rússia contra o país. Desde então, o território ucraniano vive o conflito e suas consequências, como perda de vidas e pessoas em busca de refúgio.

Os reflexos também atingiram o mundo. Rússia e Ucrânia são grandes exportadores de itens como petróleo, gás e trigo. Em consequência de sanções impostas à Rússia (como nações que deixaram de comprar petróleo do país) e do impedimento, por exemplo, de grãos saírem dos portos ucranianos, o preço desses produtos subiu em todo o planeta.

“A guerra acentuou a crise econômica global ao contribuir para o crescimento da inflação [aumento generalizado dos preços] em escala mundial, afetando sobretudo a oferta de alimentos e, portanto, prejudicando especialmente a população mais pobre”, explica Cesar Albuquerque, doutorando em história social pela Universidade de São Paulo (USP).

Como tudo começou?
Os dois países já viviam uma tensão meses antes da guerra, quando o governo ucraniano demonstrou interesse em fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança composta por nações como Estados Unidos e Reino Unido. As autoridades russas viram isso como uma ameaça.

Pelas regras da Otan, qualquer agressão a um dos membros da entidade deve ser respondida por todos os demais integrantes. Assim, na aliança, a Ucrânia estaria mais segura. No entanto, pelo ponto de vista dos russos, com a Ucrânia na Otan, eles é que ficariam em posição desfavorável — a ampliação da Otan, com mais membros na fronteira (Rússia e Ucrânia são vizinhos), ameaçaria a segurança russa.

Depois de alguns meses nessa tensão, a Rússia atacou a Ucrânia.

O que esperar do futuro?
Diálogos de paz não avançaram. “Considero difícil fazer uma previsão em relação à duração do conflito. No entanto, dada a dinâmica de evolução lenta após seis meses e a ausência de avanços nas negociações, acredito que a guerra ainda pode se estender por um longo período”, conclui Cesar.

Situação atual na Ucrânia
Poucos dias depois do marco de seis meses de guerra, a Ucrânia anunciou uma contraofensiva no sul do país, região que está ocupada pelos russos. O governo ucraniano não deu detalhes sobre a operação, mas afirmou que o objetivo é recuperar cidades, como na área de Kherson, uma das primeiras a ficar nas mãos das tropas de Vladimir Putin, presidente russo. O local é estratégico porque faz fronteira com a Crimeia, região anexada pela Rússia em 2014 (relembre o fato na edição 183).

Além disso, em meio aos novos ataques, a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) anunciou, em 29 de agosto, o envio de especialistas à usina nuclear de Zaporizhia, a maior do gênero na Europa, localizada ao norte de Kherson. O local foi invadido, em março, pelos russos, e há grande preocupação internacional de que a usina possa sofrer algum dano durante o conflito e gerar vazamento de material radioativo, altamente prejudicial à saúde (saiba mais na edição 192).

Um grupo da Aiea chegou aos arredores da usina em 31 de agosto. O diretor do órgão, Rafael Grossi, afirmou que a agência busca “evitar um acidente nuclear”. Um dos objetivos da missão é manter uma equipe da Aiea trabalhando no local e enviando informações para o órgão. A primeira inspeção dentro da usina foi em 1º de setembro. Até o fechamento desta edição, não havia mais informações sobre como a Aiea vai atuar em Zaporizhia.

A guerra na Ucrânia em números

43.528.136* Era a população da Ucrânia no início de 2022

6.865.625** Ucranianos estão em situação de refúgio na Europa (até 23 de agosto).

6.975.000*** Ucranianos estavam deslocados dentro do país em 23 de agosto. Ou seja, essas pessoas tiveram que deixar a casa em que moravam, mas não saíram do país.

5.587**** Civis (ou seja, não militares) ucranianos foram mortos entre 24 de fevereiro e 21 de agosto.

7.890**** Civis ucranianos ficaram feridos entre os dias 24 de fevereiro e 22 de agosto.

9.000 Militares ucranianos morreram na guerra, de acordo com o chefe das Forças Armadas do país, general Valeriy Zaluzhnyi, em declaração de 22 de agosto. Não existem dados oficiais da Rússia sobre morte de soldados da nação.

4.800.000***** De empregos foram perdidos na Ucrânia entre 4 de fevereiro e 11 de maio.

45% Deve ser a queda do Produto Interno Bruto (PIB) da Ucrânia em 2022. Segundo o Banco Mundial, o recuo virá, por exemplo, em razão do fechamento de negócios no país e da queda das exportações — como dos grãos.

11,2% É a estimativa de recuo do PIB da Rússia, de acordo com o Banco Mundial, em decorrência das sanções impostas à nação.

*CIA **ACNUR (Agência das Nações Unidas Para Refugiados) ***IOM (Organização Internacional Para as Migrações) ****Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas Para os Direitos Humanos (OHCHR) *****Organização Internacional do Trabalho (ILO).

Glossário
Produto Interno Bruto (PIB): soma de todos os bens e serviços produzidos por um país, estado ou cidade. Nessa conta entra o que foi produzido por setores como indústria e agropecuária, entre outros. Quando o PIB cresce, significa que a economia está indo bem. Se ele cai, é sinal de que há dificuldades econômicas.

Fontes: Agência EFE, BBC, CNN, CNN Brasil, Estadão, Folha de S.Paulo, G1 e Reuters.

Esta matéria foi originalmente publicada na edição 193 do jornal Joca.

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