Maycon em ensaio no Museu do Trem, no Recife.; Foto: Bel Araujo

por Bruna Somma e Martina Medina

Também ganhador do Concurso de Passistas do Recife, Maycon exibe o título

Tricampeão do Concurso de Passista em Olinda, em Pernambuco, Maycon Douglas Oliveira de Lima, de 13 anos, começou a dar seus primeiros pulos no frevo aos 8 anos. “Minha família saiu para brincar o Carnaval e eu vi uma apresentação de crianças da escola pernambucana de frevo no palco. Eu gostei muito e falei para a minha mãe que queria dançar”, conta.

Logo no ano seguinte, ele se apresentou no mesmo palco com outras crianças da Escola de Frevo Maestro Fernando Borges. “Foi muito massa! Eu não sabia dar muitos passos ainda, mas arrisquei um salto e deu certo!”, diz. A fotógrafa Andréa Rêgo Barros registrou o momento e a imagem ganhou páginas de jornais, revistas e chegou até a estampar um outdoor. “Ficou belíssima! Parecia que eu estava gigantesco.”

Maycon mostra outdoor com a sua foto no Recife. Foto: Arquivo Pessoal

Desde então, Maycon já se apresentou em programas de TV do seu estado, de São Paulo e do Rio de Janeiro, além de ter descoberto seu talento para atuar. “Quando comecei, não pensei que o frevo poderia me proporcionar tantas coisas”, diz. Ele já participou de quatro espetáculos teatrais, quatro filmes, três séries e uma supersérie.

Mesmo nas gravações que não envolvem o ritmo, ele sempre encontra uma brecha para mostrar seus passos, nem que seja no intervalo. O frevo não sai dos pés do garoto, que ensaia duas vezes por semana na escola e participa de um grupo dedicado ao ritmo em seu bairro.

O momento mais agitado é o mês de fevereiro. “No Carnaval eu não paro de jeito nenhum”, diz Maycon, que foi duas vezes eleito Rei do Pinto da Madrugada, a ala infantil do maior bloco de rua do Recife, o Galo da Madrugada. Nele, as crianças vão pular o Carnaval acompanhadas pelos pais.

Para Maycon, o frevo é uma brincadeira onde é possível se divertir e se expressar. “Quando danço, é como se o ritmo viesse queimando do pé até lá em cima e aí começa a ferver, como se o chão estivesse pegando fogo! Tanto é que a gente dança pulando”, justifica.

Origens do ritmo
Da palavra “ferver” veio o termo “frevo”, que agita as ruas de Pernambuco há pelo menos 110 anos. Em referência ao ritmo agitado das danças e músicas do estilo, a palavra foi publicada na imprensa pela primeira vez em 1907.

“Meu professor Bruno Henrique falou: na Escola do Frevo não tem só frevo no pé, tem também frevo no papel. Então, a gente tem provas escritas para lembrar da história do ritmo”, diz Maycon.

Nas aulas, ele aprendeu que o frevo tem uma forte influência da capoeira e que a tradicional sombrinha, na época com uma ponta afiada, era usada pelos passistas para brigar. “Quando a polícia passava, para disfarçar, eles abriam a sombrinha e botavam no pescoço como se estivesse se protegendo do sol”, explica.

Maycon pula o carnaval no Recife. Foto: Andréa Rêgo Barros/Arquivo Pessoal

A partir disso, o objeto e os passos da capoeira foram incorporados na tradição do frevo. Além de terem papel fundamental nas danças, as sombrinhas coloridas ajudam no equilíbrio dos dançarinos ao executarem passos acrobáticos.

Na música, o frevo é caracterizado pelo som de marchinhas aceleradas, tocadas por uma orquestra chamada de Fanfarra. Os instrumentos mais utilizados no ritmo são o trombone, o trompete, o saxofone e a tuba.

“O frevo originalmente não tem letra – é só tocado por uma banda. Mas hoje tem vários tipos de frevo: o canção, de rua, de bloco…”, explica Maycon, que gosta do frevo mais rápido tocado por uma orquestra ao vivo, acompanhando o acelerado ritmo do público. “O frevo fica cada vez melhor quando está rápido. Mas independente do tipo, é só tocar um frevo que aqui ninguém fica parado, não”, garante.

Dia de fazer o chão tremer
Neste 14 de setembro, Maycon já sabe como vai comemorar o Dia Nacional do Frevo. “Eu vou estar no arrastão no Frevo, com o grupo Frevo Circular, do meu bairro, o Ibura UR11. Esse é um dia que todo mundo sai pra comemorar, pular, brincar, fazer o chão tremer!”, diz. “Não tem muitas coisas de cultura aqui. Através do grupo, estamos tentando abrir portas para pessoas que não conhecem o ritmo e para as que conhecem e querem permanecer no frevo.”

De bebês, a crianças, jovens e idosos participam do grupo de frevo. Para os mais novos, ele deixa um recado: “Eu quero que essas crianças sigam levando o frevo para frente, para que ele não morra e continue nas próximas gerações.”

Maycon com o grupo Frevo Circular, do bairro Ibura UR11. Foto: Arquivo pessoal

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