Número de focos é 37 vezes maior do que o do mesmo período do ano passado
Entre 1º e 16 de agosto, foram registrados 2.410 focos de incêndio no Pantanal. O número é 37 vezes maior do que o identificado no mesmo período de 2023, quando houve 64 focos, de acordo com o Banco de Dados de Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O fogo está afetando uma área enorme. Segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foram queimados mais de 1.600.000 hectares em 2024 — o que corresponde a 1.600.000 campos de futebol.
O cenário se deve, sobretudo, a um pico antecipado de focos de incêndio em junho. Enquanto em 2023 foram registrados 77 focos no Pantanal pelo Inpe, neste ano foram 2.639 — o maior número para o mês desde 2012. As chuvas do começo de agosto trouxeram algum alívio, mas ainda é esperado um aumento das queimadas, uma vez que este é o mês que, historicamente, registra o pico de focos
Décio Eloi Siebert, presidente do Instituto Pantanal Amazônia de Conservação (Ipac), explica que outros fatores justificam o maior número de áreas queimadas no bioma. O período de chuvas do ano passado e começo deste ano, por exemplo, não foi tão bem distribuído quanto se esperava. Além das regiões planas e baixas, o Pantanal tem uma área de planalto onde estão localizadas as cabeceiras dos rios. Quando chove pouco, os rios não se abastecem e há, consequentemente, menos áreas alagadas no bioma, deixando assim uma maior quantidade de vegetação seca sob risco de fogo.
“Eu creio que há a necessidade dos agentes públicos, como o governo federal, de olhar com mais carinho para a região do arco das nascentes do Pantanal, porque é onde nasce a água que vai alimentar o bioma”,
diz o presidente do Ipac.
Nessas áreas, há também as turfas, que consistem em um acúmulo de material orgânico altamente inflamável no solo, podendo ocasionar o chamado fogo subterrâneo, difícil de ser apagado. Outro fator que contribui para as queimadas é cultural: o costume que a população local tem de usar o fogo para limpar áreas de plantações ou como técnica de caça de animais.
É possível utilizar o manejo do fogo de modo legal, ou seja, de maneira controlada e com o consentimento das autoridades. Ainda assim, nos meses mais secos, o governo anualmente determina um período proibitivo, em que qualquer tipo de queimada se torna ilegal. Neste ano, esse período começou no Pantanal em 17 de junho e se estende até 31 de dezembro (nas áreas urbanas, a proibição é válida para todo o ano).
Há ainda as mudanças climáticas que o mundo vem enfrentando nas últimas décadas. Até a metade de 2024, estava em ação o fenômeno climático El Niño, que aumenta a temperatura em várias regiões do planeta. Isso favorece, segundo Décio, o espalhamento do fogo e até mesmo a combustão espontânea, em que um foco de incêndio se inicia sem a ação humana.
O Pantanal é um dos biomas que compõem o Brasil. Bioma é um conjunto de vida vegetal e animal com características próprias em uma região específica. O Brasil tem seis: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
Marcado por planícies inundadas, o Pantanal interage com outros biomas em diversos pontos do país. Localiza-se nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e alguns dos animais nativos da região são a onça-pintada, a sucuri e o tuiuiú.
FONTES: LASA, INPE, SEMA-MT, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA DO CLIMA, GOVERNO DO MS, THE GUARDIAN, AGÊNCIA BRASIL, CLIMAINFO, PODER360 E NEXO.
Esta matéria foi originalmente publicada na edição 228 do jornal Joca.
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