Ao menos 3.650 unidades educativas da Bolívia, como escolas e institutos tecnológicos, suspenderam temporariamente as aulas na semana de 23 de outubro, depois de um aumento de incêndios florestais no país. O fogo liberou na atmosfera uma densa fumaça, que poluiu os ares de diversos municípios. No dia 24, a ministra da Saúde e Esportes Maria Renée Castro recomendou uma série de medidas para evitar a contaminação, como suspender atividades ao ar livre, manter janelas e portas fechadas, colocar panos úmidos nos olhos e usar máscaras faciais do tipo K-N95 ou FFP2.

Os departamentos (estados) de Santa Cruz, La Paz, Beni e Cochabamba foram as regiões mais afetadas. Nesses locais, algumas escolas ficaram fechadas por três dias e outras só reabriram depois de uma semana. Em coletiva à imprensa, o ministro da Educação Edgar Pary Chambi afirmou que, apesar da suspensão das aulas, o calendário educacional não será adaptado, apenas “ajustado internamente (…). Isso significa que na primeira semana de dezembro, na sexta-feira, dia 8, vamos encerrar a gestão escolar”, indicou.

Principais causas de incêndio

Durante o inverno, no hemisfério sul, é comum a concentração de focos de incêndio, em razão do período de seca (que favorece o espalhamento do fogo) e do calendário agrícola, quando os produtores queimam hectares de terra para poder “limpar” o terreno e começar um novo plantio. No caso de fogo intencional, no entanto, é preciso seguir a lei nacional sobre Uso e Gerenciamento Racional de Queimadas, que determina quanto, como e em quais condições um produtor pode atear fogo.

Atualmente, ambientalistas apontam que boa parte dos incêndios em território boliviano é ilegal. Para reduzir os danos, o Senado boliviano aprovou uma lei que fortalece penalidades para esses casos: “Quem provocar um incêndio e este se espalhar para áreas protegidas (…) incorrerá em [ficará sujeito a] privação de liberdade por três a oito anos”, estabelece o novo parágrafo do Código Penal.

Correspondente internacional

“Todos os anos, nesta época, é feito o chaqueo [prática boliviana de queimar a floresta para ganhar terras cultiváveis]; alguns o usam para renovar as suas terras e outros, na tomada de áreas protegidas. Como o clima é seco e quente, o fogo fica descontrolado e se espalha com o vento. Nós respiramos fumaça por semanas. Cada dia tínhamos mais fumaça, tanto que não dava para ver alguns prédios. Muitas pessoas adoeceram. Proibiram-nos de fazer exercício e sugeriram não abrir as janelas da casa. Chegamos a um ponto em que o Ministério da Educação decidiu suspender as aulas e transferi-las para o virtual. Felizmente, depois de uma semana, começou a chover nos vales e, aos poucos, o fogo foi se acalmando. Ainda sinto um pouco de calor, mas já é pouco”. Rafael Arano, 15 anos, Santa Cruz de la Sierra (Bolívia) [em tradução livre do espanhol]

Glossário

Senado: em que trabalham os senadores, faz parte do Poder Legislativo, que elabora as leis e as fiscaliza.

Código Penal: conjunto de leis que estabelece penas para os crimes cometidos.

Fontes: Ministerio de Educación (Bolivia), Ministerio de Medio Ambiente y Agua (Bolivia), MetSul, Los Tiempos, El Deber, Unitel e Folha de S.Paulo.