Selo comemorativo de 18 anos do Imprensa Jovem, da cidade de São Paulo. Crédito de imagem: Imprensa Jovem/reprodução

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — conjunto de recomendações do governo sobre o que deve ser ensinado nas escolas — determina que estudantes de diferentes anos tenham contato com gêneros textuais do “campo da vida pública”, ou seja, comuns ao dia a dia da sociedade, como artigos publicitários, discursos políticos e notícias. Alguns educadores vão além e fazem da sala de aula uma verdadeira redação jornalística.

É o caso da Agência de Notícias Imprensa Jovem, projeto da Secretaria Municipal de Educação (SME) da cidade de São Paulo, que completa 18 anos em 2023. Nele, os estudantes aprendem produzindo conteúdos compartilhados em meios de comunicação, como YouTube e rádio. O projeto nasceu a partir de outro, de rádio-escola, também promovido pela SME. A história do Imprensa Jovem, segundo Carlos Lima, coordenador do Núcleo de Educomunicação (utilização de mídias no processo da educação) da rede municipal, é marcada pelo protagonismo dos estudantes, desde o surgimento do projeto até a criação do logo e do próprio nome.

Em comemoração ao aniversário, será lançada uma história em quadrinhos com a trajetória do Imprensa Jovem. Atualmente, 385 escolas da capital paulista possuem o projeto no ensino fundamental, além de 30 que trabalham com educação infantil, duas em centros de Educação de Jovens e Adultos (EJA), um Imprensa Jovem em uma escola indígena e outro em uma escola bilíngue para surdos. 

“O estudante já tem essa cultura midiática. Nosso trabalho é aproximar isso da educomunicação , sobretudo no momento que vivemos, em que há uma necessidade gigantesca de formação para a alfabetização midiática”,

explica Carlos Lima.

Para se unir ao projeto, basta que um professor de escola municipal de São Paulo demonstre interesse, desenvolva o Imprensa Jovem — determinando, por exemplo, número de participantes, duração e local para encontros — e solicite acesso aos cursos de formação que a SME oferece a estudantes e professores.

Júlia, aluna do 5º A da Emef Ministro Calógeras, já está no Calógeras News (Imprensa Jovem da escola) há algum tempo. “[Gosto de participar] porque a gente fica por dentro de tudo que acontece na escola e informa os alunos.” Já Maria Eduarda entrou para o mesmo grupo recentemente. “Trabalhamos sobre o Dia das Crianças: fizemos pesquisas e [escrevemos] sugestões para brincar com os pais em casa.”

“Eu gosto muito do Imprensa Jovem, porque a gente faz pesquisa, desenhos, e a gente também fala sobre as violências no futebol, o racismo, o preconceito religioso e também porque a gente faz cartazes. A gente informa os estudantes.”

Yasmin, 10 anos.

“Entrei recentemente no projeto. Eu gosto porque todo mundo se ajuda, e a gente traz assuntos muito legais e que me ajudam muito, como violência no futebol, Setembro Amarelo [mês destinado a conversas sobre saúde mental], e acho que faremos Outubro Rosa [quando há conscientização sobre o câncer de mama].”

Bernardo B., estudante do 5º ano.

“O nome do nosso Imprensa Jovem é Calógeras News. Eu gosto muito, porque a gente pesquisa muitas imagens legais e desenha.”

Wallace, 11 anos.

“Eu gosto muito do Imprensa Jovem, gosto de fazer desenho, escrever e pegar muitas imagens.”

Júlio S.

“Eu gosto do Imprensa Jovem porque a gente desenha e faz coisas interessantes.”

Ana Luísa, 11 anos.

“O legal é que a gente faz vários cartazes sobre temas do momento. E também a gente brinca e discute assuntos.”

Johnny, 11 anos.

Jorneccos: feito por e para os alunos

Estudantes do Colégio ECCOS realizando entrevistas em sua sala de imprensa. Crédito de imagem: Colégio Eccos/reprodução

No Colégio ECCOS, em São José dos Campos (SP), a iniciativa de criar um jornal também nasceu dos estudantes. No 4º ano da manhã, a professora Luciana Foloni promoveu, a partir de um livro didático, a produção de notícias sobre a vivência escolar da turma. 

Os estudantes pensaram em publicar os textos no Joca, o que não foi possível por se tratar de assuntos internos do colégio. Foi aí que um dos alunos sugeriu fazer um jornal da escola, o Jorneccos

“E esse projeto acabou oferecendo um ganho muito válido para o 4º ano, de os estudantes perceberem a função social da escrita. Eles não escreviam algo apenas para guardar, né? Tem uma função nessa escrita, e eles perceberam isso no feedback da escola, dos pais e dos próprios alunos daqui”,

comenta Luciana.

A professora montou um flipchart na sala de aula para a turma anotar ideias de pautas quando algo diferente acontecia no colégio. Depois que a primeira edição saiu, ela colocou um painel no pátio para que os alunos de outros anos, leitores do Jorneccos, sugerissem temas. 

Os estudantes obtiveram crachás de repórteres e uma sala da imprensa para receber os entrevistados. Em 2 de dezembro, durante o evento Jovem Escritor da escola, cada participante receberá uma cópia das três edições do jornal e explicará o trabalho às famílias. “O Jorneccos vai virar um projeto para todo 4º ano, um legado que essa turma deixará”, conta Luciana. Para Pedro, 9 anos, foi divertido. “Eu comecei a ler mais notícias (…) e, com isso, aprendi a fazê-las.” Vinicius, 9 anos, aproveitou a nova experiência, pois nunca havia entrevistado alguém.

“Ser repórter foi muito legal, até que é divertido fazer as notícias. Eu gostei porque eu comecei a ler mais notícias do Joca, tipo essa nova aí do Prêmio Nobel. Eu gostei muito da entrevista do Chá Com as Mães. Ela foi um pouco difícil também, porque a gente teve que ir lá na ECCOS Baby fazer a entrevista, mas deu tudo certo. [Fiquei] um pouquinho nervoso, porque eu nunca tinha conversado muito com a coordenadora.”

Pedro A., 9 anos.

“Foi uma experiência muito legal, a gente lia o Joca, pegava as ideias e ia preenchendo o lead com as perguntas. A gente fazia algumas entrevistas, era muito legal, e a gente anotava tudo. Eu acho que [o mais difícil] foi alguns trabalhos em grupo, porque às vezes a gente não concordava com o mesmo título, o mesmo parágrafo da notícia, mas tinha vezes que a gente até concordava. Era difícil também escrever no computador, porque reclamavam que demorava muito.”

Maria Eduarda C., 9 anos.

“Foi uma nova experiência para mim, porque eu nunca tinha entrevistado ninguém, então eu achei muito legal. A experiência que mais gostei foi a Festa Junina, porque a gente entrevistou os músicos, os pais e os alunos. O mais difícil foi fazer as notícias, porque a gente tinha que escrever, pegar o que a gente ouviu dos pais, dos alunos e dos músicos, por exemplo, na Festa Junina. Aí a gente tinha que montar uma notícia com isso.”

Vinícius S., 9 anos.

“Foi bem legal porque, quando a gente fazia as entrevistas, conseguia saber se os participantes dos nossos eventos estavam gostando ou se sugeriam outra coisa. A experiência de que eu mais gostei foi quando a gente fez as entrevistas no Sarau, em que apresentamos poesias. A gente fez uma sala de imprensa para realizar nossas entrevistas. No começo do projeto, foi bem difícil fazer as notícias, porque a gente ainda não estava acostumado. Só que daí, ao longo do ano, a gente foi fazendo notícias várias vezes e começamos a nos acostumar.”

Caroline T., 10 anos.

“Foi muito legal, porque nem todas as pessoas conseguem ser repórteres mirins e foi muito difícil chegar até aqui. Eu gostei de quando a gente descobriu que estava em segundo lugar entre as seis escolas colocadas no Brasil inteiro. É muito difícil chegar até aqui, a gente trabalhou e estudou muito para conseguir o segundo lugar.”

Eva G., 9 anos.

Fontes: Base Nacional Comum Curricular, Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e Prefeitura de São Paulo.

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