Na Emef Henrique Felipe da Costa, estudantes aprendem a mixar músicas em softwares. Crédito de imagem: Emef Henrique Felipe da Costa/reprodução

“A aprendizagem de arte precisa alcançar a experiência e a vivência artísticas como prática social, permitindo que os alunos sejam protagonistas e criadores.” É assim que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)  — com recomendações do governo sobre o que deve ser ensinado nas escolas — apresenta os pilares da disciplina no ensino fundamental. Entre eles, a música ocupa o papel de sensibilização e conexão com a história e cultura da própria sociedade. É também por meio da produção musical que os estudantes trabalham a capacidade de criação e podem até mesmo desenvolver habilidades para além do muro escolar.

É o que Sophia L., estudante de 11 anos da Emef Henrique Felipe da Costa, em São Paulo (SP), espera para o futuro. A aluna sempre gostou de música eletrônica e, depois de aprender a sintetizar composições nas aulas dos professores Gildo Gomes e Gerson de Souza, só teve maior certeza de que, quando crescer, será DJ.

“O que mais ficou na minha cabeça foi a parte de automação: você faz uma música, aí coloca automação para mudar a batida, caso queira deixá-la mais grave, ou suave”,

Sophia L., 11 anos

O projeto começou com o professor Gildo, que, anos atrás, descobriu que era possível produzir música eletrônica usando um software no computador. Depois de explorar o programa e até mesmo compor as próprias produções, Gildo decidiu esboçar um projeto e apresentou na escola para o diretor e a coordenadora dos anos em que leciona. Convidou, então, o professor Gerson e, juntos, eles inauguraram a iniciativa: Gildo com aulas práticas no computador e Gerson lecionando teoria musical.

Registro de uma aula prática de música eletrônica na Emef Henrique Felipe da Costa. Crédito de imagem: Emef Henrique Felipe da Costa/reprodução

Durante as aulas, Gerson pôde conectar o projeto com a parte do currículo de São Paulo destinada à cultura dos povos originários, trazendo elementos e batidas de diferentes origens étnicas para os alunos mixarem.

“Não é só produzir por si só, o bom é quando a produção musical, em sua criação, transmite uma mensagem”,

Gerson.

Isaías C., 11 anos, outro estudante do projeto, comenta que a família achou a música que produziu muito boa. “Eles querem que eu tenha um futuro bom. Eu quero ser DJ e jogador de vôlei. Tenho treinado os dois e estou ficando muito bom”, completa.

“Foi uma experiência muito boa, porque eu não participava de um projeto, e eu sempre gostei muito de música eletrônica. E eu também gosto muito do professor. Achei legal, eu nunca tinha mexido em softwares desse tipo. Foi até que fácil, porque tem as batidas prontas, tem os loops, só a melodia que é um pouquinho difícil, mas o resto é de boa. Minha família achou muito legal que eu estou participando de um projeto, que estou me empenhando.”

Jefferson H., 12 anos

“Participar do projeto foi incrível, gostei bastante porque me ensinou a fazer música, coisa que eu queria muito aprender. Nunca toquei instrumentos antes. [Mexer no software] não é muito difícil, só tem que aprender. A interface parece algo complicado, mas na verdade era tudo fácil. Não quero ser DJ quando crescer, mas quero ser um tipo de músico. Tenho vontade de aprender a tocar violão e guitarra.”

Leonardo A., 14 anos

Transformando temas sociais em música

Fábio Freire, artista e educador, também faz uso da música digital em suas aulas para os anos finais do ensino fundamental no Colégio São Luís, em São Paulo (SP). Segundo o professor, aplicativos e programas facilitam justamente por fazer parte da linguagem a que os alunos, nascidos na era digital, estão acostumados. “Eu ainda consigo trabalhar elementos musicais de uma maneira visual muito mais legal, parece até um joguinho”, conta Fábio.

O uso de aplicativos e softwares é uma das sequências didáticas que o professor trabalha na disciplina de música, do 6º ao 9º ano. Para cada faixa etária, Fábio propõe, em determinado momento, diferentes produções musicais, como a criação de jingles no 6º ano e de trilhas sonoras no 7º.

Fábio Freire, músico e educador do Colégio São Luís. Crédito de imagem: Fábio Freire/arquivo pessoal/reprodução

Já para os alunos do 8º ano, a escola promove uma iniciativa multidisciplinar antirracista chamada Projeto Afro-Brasil, que acontece ao longo de todo o ano e envolve duas saídas pedagógicas: em São Paulo (SP), visitando pontos de destaque da cultura negra na cidade, e em Salvador (BA), onde os estudantes participam de rodas de capoeira e conhecem terreiros de candomblé, entre outras atividades.

Em sua disciplina, Fábio pede para que cada grupo escreva a letra de um samba sobre a temática. Depois, a turma monta um único samba, incluindo os trechos de cada grupo. Com o auxílio de Fábio, que sugere ritmos e melodias, a turma então musicaliza o samba e faz a gravação em um estúdio, cantando e tocando instrumentos. Fábio finaliza adicionando outras bases ao samba — como, de repente, um violão. 

“Ano passado, por exemplo, tinha um dos sambas que virava um rap e ficou muito bonito”,

diz o educador.

Para Rafael, um dos estudantes que participou do projeto em 2023, o mais gratificante foi poder apresentar o samba para os pais e colegas.

Durante as aulas de música do segundo semestre, nós, alunos do 8º ano, trabalhamos na composição da letra de um samba. Para isso, nós nos dividimos em grupos e criamos letras de samba. Depois, com a ajuda do professor Fábio, utilizamos uma parte da letra de cada grupo para criar um novo samba. Todo esse processo se conectou com o tema do projeto do 8º ano, que é justamente a pauta antirracista. Afinal, o samba foi criado como uma forma de resistência da cultura negra, por isso a atividade proposta é uma maneira de valorização dessa cultura, contribuindo para uma sociedade mais igualitária. O mais gratificante foi poder apresentar nosso samba para os colegas e pais”,

conta Rafael.

Fonte: BNCC.

Enquete

Sobre qual assunto você gosta mais de ler no portal do Joca?

Comentários (0)

Compartilhar por email

error: Contéudo Protegido