Crédito de imagem: arquivo pessoal

Identificar sentimentos pode ser uma ação quase inconsciente do comportamento humano e, por muitas vezes, algo bastante claro: sabemos quando estamos nervosos, tristes ou animados. Em outras situações, porém, as coisas podem complicar: são tantas sensações sobrepostas que fica difícil entender o que está causando certo problema e a melhor maneira de agir em relação a isso. Com quem podemos falar? Como podemos demonstrar um incômodo, ou até mesmo pedir ajuda?

Em tentativas de buscar respostas para essas perguntas e, mais do que isso, criar espaços de acolhimento para os estudantes, a Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Joaquim Bastos Gonçalves, localizada na cidade de Carnaubal, no Ceará, e a Emef Desembargador Arthur Whitaker, de São Paulo, capital, desenvolveram formas de trabalhar a educação socioemocional em sala de aula. 

A EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves foi finalista da premiação World’s Best School Prizes de 2023 com a criação do projeto Adote um Estudante, que prioriza a saúde mental e o acolhimento dos jovens da escola. Psicólogos voluntários se oferecem para realizar o atendimento dos alunos em uma iniciativa que surgiu em meio à pandemia de covid-19. Helton Souza Brito, diretor escolar da unidade, contou que a atenção à saúde mental sempre foi uma característica forte do colégio. Durante a pandemia, com um aumento de casos de transtornos psicológicos entre os estudantes, o Adote um Estudante foi implantado com uma iniciativa do professor Guilherme Barroso. 

“Os atendimentos funcionam de maneira remota, de acordo com as condições do aluno. Também oferecemos os equipamentos da escola. Antes do início da terapia, há uma conversa com a família e, depois, as sessões passam a ser realizadas semanalmente, com uma orientação educacional sobre o melhor modo de conduzir o tratamento. Além disso, foi vista a necessidade de desenvolver outras práticas de psicoterapia em ambiente escolar, como rodas de conversa e atividades de socialização envolvendo arte, música etc.”, conta Helton sobre o projeto.

Alunos da EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Também segundo Helton, após a iniciativa, uma série de impactos pode ser observada nos alunos: diminuição de crises de ansiedade, aumento na ressocialização e até mesmo uma melhora no desempenho dos estudos. “Olhar a vida de outra forma, saber lidar com a própria realidade e também ter o apoio da comunidade escolar é muito importante. É dar um novo olhar para tudo”, descreve Erivan C., de 17 anos, estudante da EEMTI e participante do projeto. 

Já em São Paulo, os estudantes do 4° ano da Emef Arthur Whitaker passaram a compartilhar com a professora Gisele Mannelli um espaço para entender melhor os próprios sentimentos. Com exercícios introduzidos na rotina da aula, os alunos começaram a descrever emoções, entender suas reações e algumas das razões que os levavam a ter determinadas atitudes.

Depois de uma sessão coletiva de Divertida Mente, do estúdio Pixar, os estudantes elaboraram gráficos e descreveram como as emoções eram retratadas na animação, além de indicar os níveis que sentiam cada uma delas. 

Atividades de avaliação de sentimentos na Emef Arthur Whitaker. Crédito de imagem: arquivo pessoal

Para Gisele, o primeiro passo para desenvolver a educação socioemocional no ambiente escolar é criar um vínculo com os alunos, proporcionando um local de escuta confiável. “Eles entendem as emoções, sabem que sentem raiva, medo, mas muitas vezes não sabem lidar com esses sentimentos. Por exemplo, a raiva é o que eles mais têm dificuldade para elaborar: por serem crianças, a reação mais fácil é explodir. O que eu tenho tentado trabalhar com eles é parar, pensar no momento e se questionar: ‘Por que eu agi assim? Como seria se um colega me dissesse o mesmo?’.”

“Para mim, entender o que sinto é sobre ter limite e controlar minhas emoções. Fazendo essas atividades [de compreender os próprios sentimentos], eu me sinto bem, porque minha emoção dentro da sala de aula é a alegria”, conta Eduardo S., de 9 anos, sobre as atividades realizadas.

“Quando tento entender minhas emoções, penso no filme Divertida Mente e imagino que é assim dentro da minha cabeça. Eu me sinto feliz com essas atividades porque aprendo coisas novas”, Larissa Q., 9 anos 

Educação socioemocional 

O Laboratório Inteligência de Vida (LIV) é um programa que busca desenvolver aprendizagens socioemocionais e ferramentas psicossociais para enfrentar diferentes sentimentos, relações e reações. Por meio de uma aula semanal, alunos experienciam atividades que estimulam reflexões internas, sobre o outro e o mundo, compartilhando essa jornada entre professores e família. A metodologia é aplicada em diversas escolas ao redor do Brasil. 

“Um processo educacional que envolve as aprendizagens emocionais também constrói caminhos de autopercepção e autocompreensão, de desnaturalização das maneiras cotidianas como aprendemos a nos relacionar com o que sentimos. Tornamos essas respostas mais conscientes, o que nos possibilita repensá-las ou reforçá-las e aprender novos modos de lidar com todas essas experiências”, ressalta Rafaela Paiva, consultora pedagógica do LIV e doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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