Crédito de imagem: Alistair Berg/Getty Images/reprodução

Cidadania é o conjunto de direitos e deveres que todo indivíduo, integrante de determinada sociedade, tem enquanto cidadão. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) — conjunto de normas criado em 1990 que compromete os adultos a proteger os direitos de menores de idade — estabelece que todo brasileiro abaixo dos 18 anos tem o direito a uma educação que vise, entre outras coisas, o preparo para o exercício dessa cidadania. Para isso, as escolas buscam diferentes maneiras de engajar os estudantes de maneira ativa no espaço em que vivem.

No Colégio Santa Marcelina, em Belo Horizonte (MG), as turmas do 9º ano promovem, há 19 anos, o projeto interdisciplinar Cidadania, onde cada grupo de estudantes escolhe um tema que resulte em uma ação cidadã. Neste ano, os alunos Ana Laura, Bruna T., Clarissa, Daniel C., Eduardo L., Felipe M., Letícia A., Nicole B. e Vitor G., orientados pela professora de geografia Juliana Rosenburg, decidiram falar sobre a Serra do Curral, patrimônio histórico e cultural de BH, no limite com os municípios de Nova Lima, Sabará, Brumadinho e Ibirité.

“O tema do Cidadania neste ano foi Cidades Inteligentes, então, pesquisando pelos problemas que nossa cidade tem, encontramos a Serra do Curral, que vem sofrendo com a mineração [extração de substâncias minerais, como ferro, extraídos do solo] tanto legal quanto ilegal”,

explica a aluna Ana Laura.

O grupo buscou ouvir ativistas ambientais, geólogos e se encontrou até mesmo com a vereadora de Nova Lima Juliana Sales, que luta para evitar a degradação da área. A turma também tentou entrar em contato com a mineradora Tamisa ao longo do ano, porém não houve retorno.

Com o apoio da equipe jurídica da vereadora, os alunos montaram um requerimento [documento escrito onde se pede algo às autoridades] para reforçar o Projeto de Lei criado pela própria Juliana a fim de proteger a serra. “O requerimento ajuda no processo de tombamento [ato de reconhecer o valor de um lugar] da Serra do Curral em Nova Lima, que ainda não é patrimônio, e também na criação de um circuito cultural de ecoturismo, com um museu a céu aberto, que é a novidade que o grupo propõe”, conta a professora Juliana. Além do documento, o grupo também realizou uma ação em 23 de setembro na Praça do Papa, ao pé da serra, com palestras de especialistas no assunto, quizzes e roda de conversa.

“A minha prima está na faculdade e ela também participou desse projeto [anos atrás]. Ela diz que, na universidade, eles têm muitos trabalhos como o Cidadania e que isso ajudou muito. A gente conseguiu desenvolver habilidades que eu não tinha ano passado”,

conta Nicole.

Parceria com a Unesco

Desde 1999, o Colégio Friburgo, em São Paulo (SP), participa do Programa de Escolas Associadas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que tem como um dos objetivos “formar gerações conscientes de seu papel como protagonistas de uma cidadania global”. Por meio desta parceria, a Unesco apresenta anualmente (e a cada década) temas para que os colégios parceiros promovam eventos e projetos relacionados.

Assim, a Unesco definiu 2023 como o Ano Internacional do Diálogo como Garantia para Paz e também do Painço, um cereal considerado sustentável, por ser de fácil produção, crescer em regiões secas e ter alto valor nutricional. “Os alunos trabalharam com a cultura do painço, plantaram e até fizeram receitas”, conta a diretora do colégio Iracy Rossi.

O Friburgo aproveitou três eventos do calendário escolar para desenvolver os assuntos com os estudantes, incentivando-os a elaborar pesquisas e projetos para serem apresentados: um sobre sustentabilidade, no Dia Nacional do Meio Ambiente, o ConsCiência e o Liverdade.

“[O primeiro] trabalhou principalmente toda a parte mais científica relacionada à conquista da paz e ao desenvolvimento civilizatório da humanidade. Já o Liverdade [junção de ‘liberdade’ e ‘livros’] trouxe a importância da leitura e escrita para garantir a paz, liberdade e os direitos humanos”,

diz Iracy.

Catarina René, aluna do 5º ano A, disse ter sido muito legal mostrar aos pais o esforço feito durante os projetos. Já Gabriela V., da mesma turma, diz que aprendeu sobre como ter menos conflitos “e também a conviver com os outros do jeito como eles são.”

“Esse projeto foi superdifícil, mas me fez evoluir muito como pessoa e estudante, fez abrir o meu olho para várias coisas. Eu nunca tinha me envolvido com política. Acho que ajudou muito na minha formação, o projeto é algo que você pode usar até no seu currículo quando crescer.”

Bruna T.

“Cada um vai sair do projeto tendo uma noção maior sobre nossa BH. Acho que todo mundo vai sair sendo mais cidadão. Nosso trabalho foi uma virada de chave para mim, tanto em questão de conhecimento como de independência que a gente teve, isso de se virar para fazer tudo dar certo.”

Letícia A.

“Esse não é um projeto fácil. Ele é importante, porque a gente aprende a lidar com o que os outros falam, como os outros trabalham. E aí também entramos em contato com deputados, a política… Eu acho que é muito importante, porque ajudou a minha formação como cidadã. A gente vive muito nesse mundo da escola, na rotina frenética, e acaba esquecendo que a gente tem a Serra do Curral aqui do lado e que esse patrimônio está sendo degradado, gerando poluição ambiental, enfim, está tudo interligado.”

Ana Laura

“Uma coisa que eu aprendi muito é trabalhar em grupo, porque esse foi um trabalho maior, mais grandioso. Então, no início do ano, a gente brigava por tudo, até por cor de slide. E eu vim sentindo que fomos nos desenvolvendo. Fui aprendendo a lidar com as pessoas: eu tenho que respeitar a opinião delas, mas também não posso deixar de fazer o que penso.”

Nicole

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