Primeiro dia teve como saldo a aprovação do fundo de perdas e danos. Entenda
Em 30 de novembro, teve início a 28ª Conferência das Partes das Nações Unidas (COP28), principal encontro global sobre mudanças climáticas. O evento está sendo sediado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), e deve receber, até 12 de dezembro, cerca de 70 mil pessoas, entre representantes de quase todos os países, ativistas, pesquisadores e jornalistas.
Logo no primeiro dia, a cúpula aprovou a criação de um fundo (reserva de dinheiro) para cobrir perdas e danos que eventos climáticos extremos possam causar a nações pobres e mais vulneráveis.
O fundo foi criado em 2022, durante a COP27, mas ainda não havia sido aprovado pelos quase 200 países que compõem a cúpula. A ideia é que as nações mais ricas — que tendem a liberar mais Gases de Efeito Estufa (GEEs) — criem uma reserva monetária para ajudar países mais pobres que enfrentem catástrofes climáticas, como tempestades. Esse fundo será gerido pelo Banco Mundial por, pelo menos, quatro anos, por meio de um conselho criado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
“Esta é uma prova de que podemos entregar. A COP28 pode entregar. E, colegas, isso agora estabelece uma ambição clara para que possamos apresentar uma decisão abrangente nos próximos 12 dias”,
disse o presidente da 28ª conferência, Sultan Al Jaber.
Os Emirados Árabes se comprometeram a compartilhar 100 milhões de dólares (US$) com o fundo — cerca de 492 milhões de reais. Outros países também definiram o quanto investir na reserva, como Alemanha (100 milhões de dólares), Reino Unido (pelo menos 51 milhões), Estados Unidos (17,5 milhões) e Japão (10 milhões).
A COP28 acontece em um contexto de discussões globais sobre as mudanças climáticas, cada vez mais perceptíveis, por exemplo, no aumento das temperaturas e na maior ocorrência de fenômenos como fortes chuvas, seca de rios e outras condições extremas. As expectativas para a conferência deste ano envolvem uma resolução do que precisa ser feito imediatamente para amenizar as consequências já existentes em relação aos efeitos do aquecimento global e, além disso, as principais medidas para a contenção de catástrofes futuras.
Em 30 de novembro, António Guterres, secretário-geral da ONU, ressaltou mais uma vez a gravidade do cenário atual: “Estamos vivendo um colapso climático em tempo real”, declarou ele. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2023 chegará ao fim com o marco de ano mais quente da história. Assim, uma das principais metas de resolução da COP28, estipulada pelo Acordo de Paris, é a limitação do aumento da temperatura global em no máximo 1,5 grau Celsius (ºC) a mais do que no período pré-industrial — ou seja, antes da Revolução Industrial, que ocorreu entre os séculos 18 e 19.
Outra pauta importante a ser discutida na edição é a transição energética: uma mudança da produção de energia para o uso de fontes limpas e renováveis, como a energia solar, reduzindo a emissão de GEEs. A COP28 também pretende tratar de propostas que reforcem a implantação de ações em relação à justiça climática, que traz à tona o compromisso de países mais desenvolvidos economicamente de ajudar (com investimentos financeiros) nações menos desenvolvidas a lidar com as consequências diretas do aquecimento global.
No entanto, o grupo de direitos humanos Anistia Internacional alegou que a 28ª edição da Conferência das Partes apresenta algumas incoerências. O próprio Al Jaber, presidente da COP28, é CEO (cargo que equivale ao de presidente) da Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes. O petróleo, por sua vez, é um dos combustíveis geradores de energia fóssil, método que deve ser substituído, segundo os pedidos, a uma transição energética. Por isso, Organizações Não Governamentais (ONGs) e entidades alegaram que a liderança de Ahmed pode ser parcial para o rumo das discussões do encontro. Ahmed nega as acusações e declara que não utilizará sua posição na empresa para influenciar seus projetos com petróleo.
1995 | PRIMEIRA COP (BERLIM, ALEMANHA)
Em 1995, a Conferência das Partes, idealizada pela ONU, foi em Berlim, na Alemanha. Na COP1, foi definida a primeira criação de prazos e metas para o combate às mudanças climáticas e a outros problemas ambientais.
1997 | COP3 — PROTOCOLO DE QUIOTO (QUIOTO, JAPÃO)
Nesta edição, foi constituído o Protocolo de Quioto, que assegurava o compromisso de países considerados desenvolvidos a reduzir a emissão de gases prejudiciais ao efeito estufa.
2009 | COP15 — ACORDO DE COPENHAGUE (COPENHAGUE, DINAMARCA)
Teve a presença de 115 líderes mundiais e mais de 40 mil pessoas.
2010 | COP16 (CANCÚN, MÉXICO)
Em 2010, estabeleceu o Fundo Verde Para o Clima, plano para a captação de recursos financeiros globais em apoio a países em desenvolvimento que enfrentam de maneira mais drástica as mudanças climáticas.
2015 | COP21 — ACORDO DE PARIS (PARIS, FRANÇA)
É criado o Acordo de Paris, que reafirma a necessidade de manter o aumento das temperaturas ainda mais abaixo de 2°C.
2021 | COP26 (GLASGOW, ESCÓCIA)
Estabeleceu a meta de zerar o desmatamento até 2030.
Banco Mundial: instituição financeira internacional que faz empréstimos a países em desenvolvimento.
Energia fóssil: gerada com a queima de materiais produzidos pela decomposição de seres vivos, como carvão mineral, petróleo e gás natural, encontrados no subsolo. A combustão dessas substâncias é altamente poluente para a atmosfera terrestre.
Gases de Efeito Estufa (GEEs): gases poluentes, como dióxido de carbono, que ocasionam o efeito estufa. Ao serem liberados (por transportes ou indústrias, por exemplo), esses gases sobem para a atmosfera terrestre e ficam “presos” ali, acumulando-se em uma espécie de camada. Essa camada impede o calor de sair da Terra e, ao ser intensificada pela ação humana, leva ao aquecimento global, responsável, por exemplo, pelo derretimento de geleiras, que faz com que o nível dos mares aumente.
Fontes: COP28, Agência Brasil, Anistia Internacional, UOL, Folha de S.Paulo, IPAM Amazônia, UNFCCC e BBC.
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