Capacetes azuis em missão na Etiópia. Foto: Divulgação

Por Joanna Cataldo

No dia 29 de maio, comemora-se o Dia Internacional dos Soldados da Paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas você sabe o que são “soldados da paz”? E “capacetes azuis”, já ouviu falar?

As duas expressões são usadas para se referir aos militares que participam das chamadas missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), operações que enviam voluntários para países em conflito com o objetivo de levar paz e segurança a esses locais.

Nas operações, os militares, chamados de capacetes azuis por causa da cor do equipamento que utilizam, ajudam a proteger civis, monitoram disputas nas fronteiras e garantem segurança durante as eleições, entre outras ações.

Para desempenhar esses trabalhos, os profissionais devem cumprir uma série de regras e princípios, como só atuar com a aprovação das principais partes envolvidas no conflito e usar a força apenas em casos de extrema necessidade — como em situações nas quais a pessoa está sendo diretamente atacada e precisa se defender para sobreviver.

Ao todo, hoje existem cerca de 100 mil capacetes azuis em operação. Todos são militares que saíram do Exército de seu país para atuar em missões de paz em nações como Mali, Kosovo e Haiti.

Entre elogios e críticas

Desde que foram criadas, as missões de paz provocam reações diversas. Há quem diga que as operações contribuíram significativamente para melhorar a segurança e a qualidade de vida da população dos países que as receberam. Ao mesmo tempo, há críticos que acusam os voluntários envolvidos nas missões de impor à nação suas ideias, atrapalhando os planos dos governos locais e não permitindo que o próprio país tome medidas para resolver seus problemas.

Países que já receberam missões de paz da ONU

Brasil nas missões de paz

O Brasil já participou de mais de 50 missões de paz desde 1956. Atualmente, o país atua em operações no Líbano, Sudão do Sul, Saara Ocidental, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Darfur, Chipre e Abyei.

Uma das missões mais famosas envolvendo capacetes azuis brasileiros foi a operação realizada no Haiti, chamada  Missão das Nações Unidas Para Estabilização do Haiti (Minustah).

Capacete azul brasileiro interagindo com haitianos. Foto: Ministério da Defesa

Criada em 2004 e encerrada em 2017, a missão tinha como objetivo restabelecer a segurança e o bem-estar da população haitiana. A operação, comandada por brasileiros, também teve participação de militares de outros países, como Japão, Coreia do Sul e Argentina.

Além de contribuir para a segurança do território, ao longo da missão, os capacetes azuis brasileiros construíram obras de infraestrutura e ajudaram em operações de assistência humanitária, como em 2010, quando um terremoto deixou mais de 220 mil mortos no país e, em 2010, quando um furacão provocou a morte de mais de 300 mortes.

Ao mesmo tempo, a Minustah também é criticada por não ter feito o bastante para conter o surto de cólera, doença que atingiu o Haiti em 2010 e matou 10 mil pessoas. Além disso, para alguns críticos, a ONU poderia ter aproveitado os militares em missão para ajudar o governo haitiano a desenvolver programas que combatessem problemas como falta de saneamento básico e coleta de lixo.

Um brasileiro no Haiti

João Maurício Valdetaro, capitão instrutor da divisão de educação e treinamento do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), participou da missão de paz no Haiti. Ao Joca, ele contou um pouco sobre essa experiência. Confira:

João Maurício Valdetaro perto de ponte destruída no Haiti. Foto: Divulgação

Quanto tempo você ficou no Haiti?
Primeiro, fiquei de junho de 2009 a janeiro de 2010. Depois, voltei para o Haiti e fiquei de novembro de 2015 a julho de 2016.

Qual era a sua função?
Na primeira ida, fui comandante do 1º Pelotão de Engenharia da Companhia de Engenharia de Força de Paz – Haiti (BRAENGCOY, em que comandava militares que realizavam ações relacionadas à engenharia, como construção de pontes e estradas). Já na segunda, fui adjunto de inteligência e operações (era responsável pela segurança do pessoal e do maquinário durante as atividades realizadas pela Companhia de Engenharia de Força de Paz).

Você sentia falta do Brasil? Se sim, do que você sentia mais falta?
Sim, o que eu sentia mais falta era do convívio com os amigos e familiares.

O que uma pessoa deve fazer para participar de uma missão de paz? Como é a preparação para essa experiência?
Para integrar a missão, é preciso ser voluntário. Além disso, é importante que o militar se prepare pessoal e profissionalmente para que passe pelo período de afastamento sem grandes problemas. Preparar a família para o período de afastamento também é extremamente importante, pois haverá momentos em que vocês podem não conseguir se comunicar. Fora isso, é importante entender o contexto no qual o país e a missão estão inseridos e qual será a sua função na grande engrenagem que é a missão de paz.

Qual foi o momento mais marcante da sua experiência no Haiti?
Quando atuei como comandante do 1º Pelotão da BRAENGCOY [Companhia Brasileira de Engenharia de Força de Paz], no início de janeiro, metade do meu pessoal já havia retornado para o Brasil, pois a troca de contingentes [conjunto de soldados] tinha iniciado e nossa missão havia chegado ao fim. Porém, no dia 12 de janeiro, houve um terremoto no Haiti. Minha tarefa inicial era ir até o Hotel Christopher, onde funcionava o quartel-general da missão, e auxiliar nas buscas por sobreviventes, já que o prédio do hotel havia desmoronado. Passamos dois dias procurando por sobreviventes e o meu pelotão foi substituído. Após o retorno para a base, recebi a tarefa de realizar a escolta [proteção] do efetivo dos bombeiros do Rio de Janeiro que haviam chegado para auxiliar nos resgates. Foram mais alguns dias nessa tarefa até que o rodízio de contingentes voltou a ocorrer. O mais marcante para mim foi ter que nos adaptar àquele novo cenário que surgiu. Em um momento em que a expectativa de retorno ao Brasil era muito alta (meu voo de retorno estava marcado para o dia 15 de janeiro), ver um país como o Haiti, que já enfrentava sérios problemas, ser atingido por um terremoto daquela magnitude realmente foi impactante. Além disso, a dificuldade de falar com a família após o desastre deixou muita gente preocupada no Brasil. Sem falar na dor de perder companheiros de farda que trabalhavam conosco naquela missão.

Fontes: ONU United Nations Peacekeeping.

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Comentários (1)

  • isabella rodrigues zanon chagas

    4 anos atrás

    e' muito interessante!

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