SÉBASTIEN DESNOYERS-PICARD, REPRESENTANTE DOS HURON-WENDAT. CRÉDITO: ARQUIVO PESSOAL

Por Martina Medina

Em 9 de agosto é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Para marcar a data, o Joca entrevistou o indígena Sébastien Desnoyers-Picard, de 38 anos, da comunidade Huron-Wendat, que fica perto da cidade de Quebec, no Canadá.

O povo Huron-Wendat, originalmente chamado apenas de Wendat, que significa “povo da ilha”, possui cerca de 4 mil membros. Eles se dividem em diversos grupos, que têm tradições culturais, origens e idiomas parecidos, mas não completamente iguais. Nos Estados Unidos também existem pessoas que se consideram parte do povo.

Sébastien Desnoyers-Picard, o entrevistado desta reportagem, é um representante dos Huron-Wendat e defensor dos interesses indígenas no país. Ele contou para o Joca um pouco sobre o modo de vida e as dificuldades que sua comunidade enfrenta.

Sébastien Desnoyers-Picard, representante dos Huron-Wendat. Crédito: arquivo pessoal

Como é ser indígena hoje no Canadá?
Neste momento há um grande movimento de orgulho. Por muito tempo não pudemos expressar nossa cultura, não podíamos falar nossa língua. Hoje o governo tem investido em caminhos para a reconciliação do nosso povo e os outros que moram no país e agora as pessoas se orgulham de falar sobre nossa cultura, compartilhando nosso estilo de vida e falando nossa língua tradicional.

Quais são as grandes conquistas e legados da cultura Huron-Wendat?
Nós somos muito bem-sucedidos no setor de negócios. Estamos construindo nossos caminhos levando em conta as próximas gerações. Eu diria que uma das nossas maiores conquistas é nunca ter desistido dos nossos direitos, o que permite que a gente viva de acordo com a nossa tradição.

Nossa indústria de turismo, que agora está florescendo depois de investir mais de 25 milhões de dólares desde 2008, também é uma grande conquista. As pessoas das tribos têm a oportunidade de trabalhar mostrando a nossa cultura e se orgulhar de passar as tradições para crianças e jovens. Essa grande indústria apoia artesãos, pessoas que trabalham na colheita e músicos.

Além disso, a produção de energia eólica [que vem da força do vento] vale ser ressaltada porque há alguns anos ajuda a sustentar nossas comunidades e a investir em outros projetos.

Qual é a importância da cultura Huron-Wendat para o seu país?
Eu não diria que nossa cultura é mais importante do que qualquer outra das 635 comunidades indígenas neste país. Eu acho que nossa cultura formou o país como é conhecido hoje. Na nossa língua, Kanata [Canadá] significa “a aldeia”. Muitas palavras indígenas são usadas em diversas cidades e, agora, autoridades do governo estão reconhecendo, quando têm reuniões, a terra tradicional da primeira nação. É um grande passo para todos nós, porque a reconciliação também pode ser feita quando há considerações e reconhecimento.

Quais jogos, tarefas e rituais são mais comuns entre crianças e jovens de Huron-Wendat?
Temos muitos jogos tradicionais, como pneu au renard, em que duas pessoas se desafiam em uma batalha de força. Na escola, levamos nossos filhos para a aula de cultura, na qual aprendem a fazer artesanatos e trabalhos mais tradicionais. Nós também temos que vir para acampamentos culturais e ensiná-los atividades como caçar alces e pescar.

O que você acha da situação dos povos indígenas ao redor do mundo hoje?
Cada vez mais pessoas estão querendo visitar comunidades indígenas e, nesse sentido, isso nos deixa orgulhosos. Ainda há muitos problemas a serem resolvidos, como moradia adequada, acessibilidade e o acesso às terras a que temos direito. Não sei se outras comunidades ao redor do mundo têm os mesmos problemas, mas suspeito que sim. Temos que lembrar que nem as tribos tiveram uma boa relação com as pessoas que vinham morar aqui, mas agora é nosso tempo para construir um caminho melhor para as nossas próximas gerações. Vamos usar esse momento para aliviar nossa dor e curar nossas feridas com a orientação dos nossos antepassados. Vamos garantir que possamos trabalhar coletivamente, pois quanto mais pessoas ajudam, mais fortes nos tornamos. 

Minha mensagem final: seja você quem for, onde quer que você esteja, sempre se lembre de suas raízes e abrace sua própria cultura. Tenha orgulho de quem você é. Ninguém é igual, e é por isso que este mundo é tão lindo!

Arte: Ana Beatriz Pádua.

Fontes: Cultural SurvivalIndigenous Tourism, The Canadian Encyclopedia.

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Comentários (1)

  • EMEF MAILSON DELANE, PROF.

    4 anos atrás

    muito legao gabriel

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